(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas PROBLEMA HISTÓRICO

BR-381: moradora sinaliza via com cones pela segurança de crianças

Famílias que moram às margens de rodovias convivem com medo e insegurança de acidentes


14/07/2022 14:53 - atualizado 14/07/2022 15:24

Imagem mostra Denilsa colocando cones na BR, ao fundo passa um caminhão
'Não perdi nenhum dos meus filhos aqui, mas já vi muitos morrerem bem na porta da minha casa', relata Denilsa Rodrigues de Araújo Nacif, de 53 anos (foto: Edesio Ferreira/EM/D.A.Press)

Alheias aos riscos, crianças correm e brincam às margens da BR-381, onde moram com os familiares. Para tentar protegê-los, Denilsa Rodrigues de Araújo Nacif, de 53 anos, decidiu sinalizar um trecho da rodovia, na porta de sua casa, com cones para alertar os motoristas.

Ela mora a menos de 10 quilômetros da comunidade Vila da Luz, onde nessa quarta-feira (13/7), uma carreta tombou sobre os barracos que margeiam o Anel Rodoviário. "A situação que estamos vivendo aqui é caótica. Os órgãos nos esqueceram aqui", declara.

"Todo dia meu netos estão aqui comigo. Sempre que eles brincam na porta, eu coloco os cones para tentar diminuir o risco. É o jeito. Eu não perdi nenhum dos meus filhos aqui, mas já vi muitos morrerem bem na porta da minha casa", relata.

Há décadas, a BR-381 é o quintal de diversas famílias que moram às margens da rodovia e não têm para onde ir. Vivendo também à margem de direitos básicos, essas pessoas são expostas a acidentes, violência e preconceito.

Denilsa conta que sua casa também vive sob o risco de ser atingida pelos veículos que passam em alta velocidade pela via. "Só essa semana, já é a terceira carreta que desvia dessa casa, porque Deus faz com que ela desvie. Nós não temos estabilidade para nada aqui", declara.

"Lá na Vila da Luz tem quem olhe por eles, aqui nós estamos sozinhos. Eles tem uma comunidade unida, mas nós aqui não temos", disse ela, que já mora na região há quase 30 anos. "Não sei o motivo pelo qual eles tiram o meu vizinho e não tira a gente. Não está resolvendo muita coisa não", complementa.

Segundo Denilsa, o fato de as pessoas da região não terem uma organização comunitária tem sido um dificultador para conseguir auxílio do poder público. "Já fui lá para tentar resolver e nem assim. Eles perguntam: 'vocês não tem alguém que tá lá respondendo pela comunidade?'. Nós não temos", relata Denilsa.

Remoção das famílias da BR-381 ainda sem data


O processo de remoção e reassentamento dessas famílias já se arrasta por mais oito anos e não tem previsão de conclusão. Em 2014, a Justiça Federal e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) criaram o Concilia BR-381 e Anel, com o objetivo de promover o reassentamento de famílias que vivem às margens da rodovia.

Segundo o Dnit, o processo está na fase final da primeira etapa. Até o momento, já foram reassentadas 235 famílias e outras 54 estão em fase de prospecção imobiliária. A Vila da Luz faz parte da segunda fase do programa em andamento, com a previsão do reassentamento de mais 650 famílias.

"Nossas crianças já crescem instruídas para não ir à BR. Mas, crianças pequenas não sabem, não tem ideia do risco, acabam indo. Já presenciei uma mãe desesperada tirando o filho do meio da pista", conta.

Imagem mostra Erica na janela de sua casa às margens da BR
Erica Alves mora às margens da BR-381 desde a infância. Hoje, cria seus três filhos no mesmo lugar, já que não tem condições de se mudar (foto: Edesio Ferreira/EM/D.A.Press)

Vizinha de Denilsa, Erica Alves, de 27 anos, foi criada em um barracão na altura do km 499, da BR-381, e hoje mora com o marido e os três filhos, de 4, 6 e 8 anos, no mesmo lugar. "Moro aqui desde que me conheço por gente. Ninguém mora aqui porque quer, é porque precisa. Não temos condições de pagar aluguel", conta.

Desempregada, ela faz o que pode para garantir a segurança e bem-estar dos filhos. "Fico com medo. É muito perigoso. Não tem como brincar, não tem como sair. Às vezes, levo eles na rua de cima para brincar", disse.

Com o constante medo de acidentes, ela diz que já presenciou até a mãe ser atropelada. "Ela já foi atropelada umas quatro vezes nessa BR. A gente vive inseguro até de derrubar a nossa casa. A carreta passa colada no nosso muro. Em tempo de passar e quebrar", relata.

A tia de Erica, Janita Ferreira da Silva, 57, mora no local há 13 anos. Vim aqui para cuidar da minha irmã, que estava doença. Ela morreu em 2016, esperando uma oportunidade para sair daqui e não teve chance", lamenta.

Com mobilidade reduzida, Janita diz ter muito medo de transitar pela via. "Estamos todos querendo sair, mas não temos para onde ir. É ruim demais. As crianças correm risco na beira da BR. Não tem outro lugar para brincar. Se não prestar atenção, o carro pega mesmo", disse.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)