Dois anos e meio (ou mais precisamente 926 dias) separaram um terrível baque da importante data que marca um recomeço. Enfim, a camisa social cinza, a calça preta e os sapatos foram retirados do armário. Uma das vítimas da intoxicação da cerveja Belorizontina, o engenheiro metalurgista Luiz Felippe Teles Ribeiro, de 39 anos, voltou a trabalhar após ficar longo tempo em recuperação, lutando entre a vida e a morte.
Morador do Buritis, na região Oeste de Belo Horizonte, ele ainda sofre com as sequelas do consumo da Belorizontina, da cervejaria Backer. Além de problemas renais graves, perdeu toda a audição e precisa usar dois aparelhos para se comunicar com familiares e amigos. O sogro, Pascoal Demartine Filho, morreu depois de consumir a bebida.
“Transformo todo esse sentimento (de ódio) em força para minha vitória diária, que é minha recuperação. Cheguei na minha casa sem mexer um dedo. Procuro transformar em motivação para minha família”, afirmou o engenheiro, recebido com festa no trabalho e direito à mensagem de “boas vindas”.
Vida normal com limitações
A partir de agora, a vítima tenta volta gradativamente à vida normal, ainda que com limitações no trabalho. Ele seguirá duro no tratamento e na fisioterapia em busca de evolução.
“O posicionamento da empresa com ele foi muito legal. Existe uma realidade antes e depois. Dentro dessa nova realidade, ele está muito feliz. É um guerreiro. Ficou muito tempo em coma, e o que ele passou não é qualquer coisa que aguenta. Foi uma tragédia. Você compra uma coisa para dar prazer e um momento de felicidade, e aquilo acaba com sua vida”, conta o advogado da família, Cláudio Diniz.
“Ele não será mais aquele engenheiro que fica para baixo e para cima. Tem de usar sua inteligência dentro do escritório”, afirma o advogado.
Luiz Felipe ingeriu a bebida numa festa da família da esposa em 22 de dezembro de 2019. O sogro foi um dos primeiros a sentir o efeito da contaminação e precisou ser internado. Posteriormente, o engenheiro também necessitou cuidados médicos. Pascoal Demartine Filho morreu dias depois.
O engenheiro optou por entrar com ações individuais exigindo indenização contra a Cervejaria Três Lobos. Os trâmites correm na Justiça, e não houve decisão de primeira instância.
O caso
No fim de 2019, 29 pessoas foram contaminadas pela substância dietilenoglicol encontrada na cerveja, sendo que dez delas morreram. No início de maio, a cervejaria foi multada em R$ 5.099.193 pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), devido à ampliação e remodelação da área de instalação industrial registrada sem devida comunicação à pasta.
Desde o ocorrido, a Backer deixou de atender intimações, dentre elas, a de recolhimento dos produtos, alterou a composição de cervejas sem a prévia comunicação, comercializou cerveja sem devido registro do produto e produziu e engarrafou 39 lotes de cerveja com presença de monoetilenoglicol ou dietilenoglicol.
A empresa não pode mais recorrer da multa no âmbito administrativo, pois todos os recursos já acabaram.