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Estado de Minas RECICLÁVEIS

Catador sobre Centro de Triagem em Divinópolis: 'Estamos jogados às traças'

Centro Municipal de Triagem funciona sem energia e com esgoto a céu aberto em Divinópolis: "Falta de dignidade"


21/07/2022 18:42 - atualizado 21/07/2022 18:43

Galpão funciona sem energia elétrica e o esgoto corre a céu aberto
Galpão funciona sem energia elétrica e o esgoto corre a céu aberto (foto: Divulgação/Lohanna França)
“Estamos jogados às traças”. A declaração foi feita pelo catador de materiais recicláveis Raimundo Nonato. Membro da Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de Divinópolis, no interior de Minas, ele confirmou as denúncias já feitas pela vereadora Lohanna França (PV) sobre a precariedade do Centro Municipal de Triagem. Falta energia elétrica e, às vezes, até água. O esgoto corre a céu aberto.

Os relatos foram feitos na reunião especial que debateu a coleta de lixo na cidade na noite dessa quarta-feira (20/7). “Estamos jogados às traças porque não tem nenhuma perspectiva de melhoramento naquele ambiente”, desabafou.

Sem energia, não há nem mesmo como guardar as refeições ou esquentá-las. O banho antes de deixar o local é gelado. “Luto para que todos estejam unidos para banir essa falta de dignidade que está acontecendo conosco”, declarou.


Falta de planejamento


A precariedade do ambiente soma-se à falta de planejamento da coleta seletiva. A maior parte do material recolhido na cidade vai direto para o Aterro Sanitário.
Diariamente, apenas 50 quilos chegam ao Centro de Triagem pelo caminhão da empresa de coleta de lixo do município. Quando é feita a triagem pelos profissionais, este número cai para 25 quilos.

Como não há um cronograma bem estabelecido, por exemplo, com horários, de coleta seletiva e muito menos campanha de conscientização, a maior parte dos recicláveis é colocado, pelos moradores, junto aos demais resíduos. Isso faz com que os caminhões de lixo recolham e levem direto para o aterro.

Como chega apenas uma pequena quantidade até o Centro de Triagem, os catadores precisam atuar por conta própria ou por meio de associações.

“Doze caminhões de coleta de lixo estão levando tudo para o lixão e não deixam nada para nós. Temos que sair às 6 horas da manhã para que eles não peguem e levem para o lixão. Somos poucos que fazem coleta de caminhão dos bairros. Tenho dois veículos e não consigo pegar a cidade toda”, relatou Nonato.

Além do impacto ambiental, há o reflexo social, pois a renda dos catadores reduz drasticamente. “Tem catador ganhando R$ 250 por mês e pagando R$ 500 de aluguel. Se não fosse o bolsa família para complementar a renda deste catador, ele estaria morando na rua”, afirma Nonato.
 
As denúncias foram confirmadas pelo catador Raimundo Nonato
As denúncias foram confirmadas pelo catador Raimundo Nonato (foto: Reprodução TV Câmara)

Sem soluções


As primeiras denúncias foram feitas pela vereadora no dia 5 de maio desde ano e oficializadas ao governo. Na época, a secretária de governo, a vice-prefeita Janete Aparecida (PSC), informou que o Centro de Triagem seria transferido de endereço.

“Continuam sem energia elétrica e continuam trabalhando de forma degradante. Quem traz almoço para almoçar aqui depois de uma manhã de trabalho não tem energia elétrica para guarda”, afirmou Lohanna após nova visita ao local.

Ela disse que encaminhará o caso ao Ministério Público do Trabalho. A parlamentar, que participou da reunião especial, alega que, mesmo eles não sendo servidores da prefeitura, o espaço é custeado pelo município e cabe a ele garantir que haja condições de trabalho no ambiente.


Sem representante


Embora o tema tenha sido levado para o plenário da Câmara em reunião especial, nenhum representante da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e do governo municipal em geral apareceu. 

“Se as maiores autoridades não estão presentes na reunião, não vai resolver”, disparou o presidente do Grupo de Educação, Ética e Cidadania (GEEC).

Por ano, o município tem despesa de aproximadamente R$ 10 milhões com a coleta de lixo. Estima-se, segundo dados apresentados durante a reunião, que apenas 2% das 4.290 toneladas de lixos geradas mensalmente em Divinópolis são recicladas.

“Não funciona, ainda que tenhamos gastos com isso. É um dinheiro que está sendo jogado pelo ralo”, avaliou a presidente da ONG Lixo e Cidadania Andreia Rabelo.
 
Ela defende a construção de alternativas junto ao governo como a otimização do valor aplicado.


Grupo de acompanhamento


A assessoria da prefeitura negou que a Secretaria de Meio Ambiente tenha sido convida. O secretário da pasta afirmou que não teve acesso, por parte da assessoria dele, ao convite, mas, ainda que o tivesse, não poderia ter comparecido por questões de saúde.

A Secretaria de Governo (Segov) recebeu o convite um dia antes e, devido à agenda já estar comprometida, não pôde comparecer.  As justificativas foram apresentadas ao presidente da Comissão de Meio Ambiente, vereador Zé Braz (PV).

Contudo, a assessoria informou que houve uma reunião interna sobre o assunto nesta quarta (20/7) e que será publicada ainda hoje decreto instaurando a Comissão de Acompanhando do Programa Municipal de Coleta de Resíduos Sólidos Recicláveis. Serão realizadas reuniões mensais para estabelecer ações a curto, médio e longo prazos.
 
Sobre a situação do Centro de Triagem, a assessoria confirmou que haverá mudança, mas não informou a data.

*Amanda Quintiliano especial para o EM
 


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