Desde que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a vacinação de crianças de 3 e 4 anos contra a COVID-19, em 13 de julho, Minas Gerais aplicou, até quinta-feira (27/7), apenas 269 doses de imunizante em crianças dessa faixa etária no estado. Isso representa menos de 1% do público-alvo, que segundo a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), seria de 546.505 crianças.
A SES-MG diz que os dados levam tempo para ser computados no sistema oficial do Ministério da Saúde por parte dos municípios, que são os responsáveis pela operacionalização da campanha de imunização, e um período ainda maior para que sejam disponibilizados aos estados por meio do sistema OpendataSUS.
A secretaria informa ainda que iniciou, em 20 de julho, a distribuição do estoque de 74.270 doses de Coronavac para as Unidades Regionais de Saúde. Além disso, a quantidade de doses disponibilizadas aos municípios será feita de forma proporcional à estimativa de crianças de 3 a 4 anos de idade.
A recomendação é operacionalizar a vacinação das crianças de acordo com a disponibilidade de doses em estoques nos municípios. A secretaria recomenda também que a vacina seja destinada inicialmente para crianças entre 3 e 4 anos de idade, e que a imunização aconteça de forma gradual para todas as crianças:
- imunocomprometidas de 3 e 4 anos de idade;
- de 3 e 4 anos de idade, indígenas que vivem em aldeias,
- crianças que vivem em comunidades quilombolas e em situação de rua;
- crianças de 4 anos de idade e crianças de 3 anos de idade
A SES-MG disse que aguarda, por parte do Ministério da Saúde, o cronograma da disponibilidade de doses para o atendimento de 100% das crianças.
Fatores para baixa cobertura vacinal
O epidemiologista e pediatra José Geraldo Leite Ribeiro explica que a baixa cobertura vacinal nesta faixa etária se deve a vários fatores.
“Julho é um mês muito ruim para qualquer estratégia de vacinação em crianças, historicamente, em razão das férias escolares. Por isso, a campanha de multivacinação é feita sempre em agosto.” Neste ano, a ação está marcada para 8 de agosto e vai até o início de setembro.
Outro ponto levantado pelo médico é que o Ministério da Saúde ainda não adquiriu as doses para este público. A pasta orientou que os municípios começassem a vacinar as crianças com as vacinas disponíveis em seus estoques.
“Não houve uma campanha de divulgação nacional também. Outra coisa que historicamente sabemos é que campanhas localizadas não surtem muito efeito. Antes dos dias nacionais de vacinação, a Região Metropolitana de BH já fazia campanhas, sempre com cobertura baixa.”
Ribeiro ressalta ainda que a vacinação de outras faixas etárias de crianças também teve uma procura baixa no início. Segundo a SES-MG, a cobertura vacinal contra a COVID em crianças com idade entre 5 e 11 anos está em 72,16% para a primeira dose e em 49,56% para a segunda dose.
“Os pais não estão bem informados sobre a gravidade da COVID-19 em crianças e dão muito valor às fake news em redes sociais. Às vezes ficam com temor de vacinar seus filhos.”
O médico avalia que a estratégia adotada não resulta em um grande movimento de incentivo à vacinação. Ribeiro diz que as altas taxas de cobertura vacinal registradas no passado não eram fruto do acaso.
"Tínhamos uma divulgação pesada, eram campanhas bem pensadas, em um curto espaço de tempo. Aquilo foi fruto de uma estratégia muito bem feita. O fato da vacina ainda nem ter sido comprada para esta faixa etária, acredito que inibiu muito a divulgação.”
Ribeiro acredita que a campanha de multivacinação com previsão para agosto pode ser uma oportunidade para tentar ampliar essa cobertura vacinal.
COVID-19 é a maior causa de mortes em crianças
O médico lembra que a COVID-19 foi a doença infecciosa que mais levou à morte de crianças entre 6 meses e 3 anos entre 2020 e 2021. A conclusão está no levantamento feito pelo Observatório de Saúde na Infância (Observa Infância) da Fiocruz a partir do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM).
Foram 539 mortes. Segundo os pesquisadores da Fiocruz, no Brasil crianças de 6 meses a 3 anos representam cerca de duas em cada cinco menores de 5 anos que morreram pela doença nos dois primeiros anos da pandemia.
“A COVID-19 é uma doença potencialmente grave. Além disso, tem a síndrome multissistêmica pediátrica, que é uma forma grave em crianças.” Ele ressalta que cerca de 10% das crianças internadas em razão da doença vão ter a forma prolongada da COVID. “Ficam muitos meses com problemas. Então é um problema sério de saúde para as crianças.”
O pediatra destaca que as vacinas contra a doença são seguras e a CoronaVac, imunizante indicado para a vacinação desta faixa etária, é semelhante a várias outras aplicadas em crianças rotineiramente. Além disso, o imunizante é eficaz para as formas graves da COVID e evita internações.
“É uma vacina de vírus morto, muito segura. Portanto, não há justificativa para deixar de vacinar as crianças de 3 e 4 anos. Acho que é até um ato de responsabilidade levá-las para a vacinação.”