Imagine passar quatro dias perdidos no meio de uma mata fechada, sem comida, apenas bebendo água e buscando formas de sair daquela situação? Difícil, não é mesmo? Só que essa história é real e aconteceu com o ciclista Marcus Cezar Reis, de 65 anos.
O mineiro, que mora em Juiz de Fora, na Zona da Mata, é ciclista de longa trajetória e organiza competições de Mountain Bike. No dia 25 de fevereiro, foi até a Igreja Senhor dos Passos, que fica em Olaria, na mesma região.
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“Um amigo me propôs escrever essa aventura. Fiz um áudio sobre o que aconteceu. E, aos poucos, fui lembrando de uma série de coisas que em um primeiro momento tinha esquecido. Ficamos cerca de dois meses neste processo”, contou Marcus Cezar, ao Estado de Minas.
O e-book tem 37 páginas e está disponível para venda na internet. Nele, Marcus conta sobre o período que passou perdido na mata. “Dividimos a história em quatro dias, dissertando sobre tudo que lembrava”, disse.
“Não sei se devido à falta de alimentação, pois só tinha acesso a água, saí por alguns destinos inimagináveis. No segundo dia, desviei o caminho por causa de uma cachoeira e tive que enfrentar uma mata cheia de espinhos. Imaginei ter uma casa no alto da montanha, mas só tinha os alicerces”, emendou Marcus, citando uma das passagens do livro.
O ciclista também relatou que algumas lembranças ainda são confusas, acreditando que a falta de alimentação e o cansaço possam ter causado algumas miragens.
“De noite eu vi a fisionomia de um casal e fui no sentido deles, quando caiu uma chuva de cerca de duas horas. Fiquei em pé, encostado em uma árvore, pois estava escuro. Dormi por lá. Em vários momentos, durante à noite, via a imagem deste casal e tentava conversar com eles”, relatou o mineiro.
Marcus garante que não teve medo de morrer. O medo maior era encontrar onças, ou animais peçonhentos. “Tive certeza que ia sobreviver. Apesar de estar em uma mata inóspita, tinha certeza que se seguisse o veio d’água, sairia em uma fazenda ou casa. Um dos receios era encontrar com onça-parda, pois é uma região deste animal. Também tem cobras. Espantei duas jararacas no trajeto”, relembrou.
Durante todo o período, o ciclista sobreviveu sem comida. “Não havia frutos, pois estava em um canyon muito profundo. Não tinha arma para matar bicho. Não tinha fósforo, não tinha nada. Mas tinha água, pois estava seguindo um veio d’água”, comentou.
Equipes em busca de Marcus
Quando Marcus se separou do amigo Célio e não retornou, o ciclista fez um Boletim de Ocorrência comunicando o desaparecimento. Equipes do Corpo de Bombeiros e da Polícia Civil participaram das buscas por Marcus Cezar.
Como se tratava de uma região de mata, helicópteros foram usados na busca.
Marcus relata ter visto um deles. “Em algum momento do terceiro dia vi claramente um helicóptero da Polícia Civil sobrevoando. Mas como estava no canyon só eu conseguia observá-lo. Tinha medo de subir uma montanha, estava muito cansado, e o helicóptero ter ido embora. Então preferi ficar na água”, contou Marcus.
No quarto dia, o ciclista começou a ouvir vozes. De início, não acreditou que eram pessoas reais, pois nos dias anteriores também havia ouvido ruídos e não encontrado ninguém.
“Quando ouvi essas pessoas também achei que era . No final das contas eram dois voluntários que começaram a me puxar para subir as montanhas até o local em que tinha mais resgate. Durante esse período, foram aparecendo mais pessoas, gente conhecida, e eu não entendia nada. Não imaginava que tinha desencadeado um rebuliço de gente me procurando”, contou.
O Corpo de Bombeiros, à época, informou que cerca de 70 pessoas participaram das buscas. Como o local do desaparecimento é de mata fechada, cães farejadores e drones com câmeras térmicas foram usados para encontrar Marcus.
“A empatia provocada por uma situação dessas é muito grande. Isso deixa a gente emocionado. Foi uma coisa de outro mundo. Não poderia imaginar que o meu desaparecimento ia desencadear uma procura tão grande, de ser muito querido”, finalizou Marcus.