Jornal Estado de Minas

BARULHO E POEIRA

Obra 'misteriosa' perturba moradores do Bairro Santa Lúcia em BH

Uma obra misteriosa tem causado incômodo no Bairro Santa Lúcia, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Sem qualquer identificação, há cerca de 15 dias, tratores e caminhões removem e carregam terra durante todo o dia, levantam poeira e causam tremores nas casas vizinhas. Moradores tentam contato com a prefeitura, mas reclamam de falta de transparência.





Na pequena Rua Musas, em um grande terreno, as máquinas operam desde as 7h e não param até que o sol se ponha. A operação levanta muita poeira, que vira barro quando um caminhão pipa umidifica o asfalto, e o trânsito incessante de caminhões na rua causa trepidações nas casas e poluição sonora.

Próxima da BR-356 e da Avenida Raja Gabaglia, a obra não tem qualquer tipo de identificação. “Não tem uma placa, o nome do engenheiro responsável. Estamos no escuro Não houve qualquer comunicação. Não teve transparência para dizer qual é o empreendimento, qual é o tipo de obra, qual o objetivo. É uma questão privada, mas o Estado tem a obrigação de zelar e informar a população”, reclama o economista Ronaldo Peixoto, morador da Rua Musas.

Supervisor de uma clínica de psicologia que fica em frente à obra, Thiago César Duarte ressalta que a poluição do ar causa problemas respiratórios e a situação é agravada pelo período seco.





“Como estamos no tempo seco, já há muitos dias sem chuva, o problema se agrava. É uma poluição muito grande, muita poeira. E o caminhão pipa não passa sempre, é só quando a gente reclama”, aponta

Para o casal Jarbas e Marisa Ribeiro, a obra mudou até o comportamento e o contato com a família. Marisa, de 77 anos, conta que já não passa o dia na própria varanda após ter a visão obstruída por contêineres portuários que foram instalados em frente à sua casa.

“Eu fico sentada na minha varanda, apreciando o movimento, porque eu saio pouco. E agora eu não posso mais. Primeiro por causa da poeira e depois pelos contêineres que tapam completamente o visual. Eu conversei com o dono da obra e ele disse que ia tirar, mas falou e não tirou”, reclama.

Jarbas, de 88 anos, disse que teme pela segurança da rua após o início das obras. Com os contêineres e as máquinas, o aposentado diz que a iluminação fica comprometida e criminosos podem usar as estruturas como esconderijo.





“O dia inteiro é barulho, a casa não tem como limpar, é muita poeira, os contêineres tiraram a visão da gente e a gente tem medo também porque a rua fica mais escura, pode ter algum bandido escondido aí no meio. Eu já falei pros meus filhos e netos para não visitar mais a gente à noite, porque é perigoso”, protesta.

O que diz a prefeitura

A reportagem esteve no local durante a tarde desta quinta-feira (4/8). No mesmo período, um fiscal da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) fazia uma vistoria e conversava com moradores. Segundo ele, a licença para a intervenção seria checada e, no caso de irregularidades, a obra poderia ser embargada na sexta-feira (5/8).

Procurada pela reportagem, a PBH confirmou, no fim desta tarde, que há no local uma “grande movimentação de terra sem o devido licenciamento”. O município ordenou a paralisação e o embargo da obra, mas não especificou quando será feita a interdição.

O Estado de Minas ainda questionou qual é a natureza da intervenção e qual empreendimento funcionará no terreno da Rua Musas, mas não houve resposta.