Alunos do Colégio Tiradentes tiveram que ser socorridos pelo Corpo de Bombeiros e o Samu após um vazamento de gás lacrimogêneo na Academia da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), na manhã desta terça-feira (9/8). Cerca de 30 adolescentes de 14 a 17 anos foram atendidos na porta da escola, no Bairro Prado, em Belo Horizonte.
Leia Mais
Colégio Tiradentes: 'Foi falha no processo de instrução', diz especialistaMãe de aluno do Colégio Tiradentes: "Já aconteceu outras vezes"Alunos são socorridos, vítimas de vazamento de gás no Colégio TiradentesFurto de cano de cobre provoca vazamento de gás no Santo Antônio, em BH
Outras sete meninas foram atendidas no João XXIII, após procurarem atendimento acompanhadas dos pais e responsáveis. Elas foram liberadas à tarde sem sintomas graves. Também não há informações sobre o restante dos alunos atendidos pelas equipes do Samu.
Segundo o Corpo de Bombeiros, além da dificuldade respiratória, alguns jovens tiveram crises de ansiedade na hora do atendimento. Um aluno, que precisou carregar duas amigas que desmaiaram nesta manhã, afirmou que essa não foi a primeira vez em que houve um problema com o gás lacrimogêneo na escola.
Na noite desta terça, a PMMG anunciou que o uso do gás lacrimogêneo (munição química) em treinamentos está suspenso.
Mas como exatamente o gás lacrimogêneo afeta o corpo humano?
O gás lacrimogêneo é o nome genérico usado para substâncias químicas que irritam a pele, os olhos e as vias respiratórias, como o brometo de benzila ou o gás CS (2-clorobenzilideno malononitrilo), além do OC (oleorresina Capsicum), o spray de pimenta, usado também como forma de proteção pessoal.
O gás lacrimogêneo foi banido pela Convenção Mundial de Armas Químicas de 1993, da qual o Brasil é signatário. No entanto, a proibição só vale para guerras, e as substâncias são usadas por forças de segurança principalmente para conter ou reprimir multidões, como em protestos e manifestações de massa.
O gás lacrimogêneo é considerado uma arma química não letal, mas tem efeitos graves para o organismo, principalmente em contato prolongado, com pouca distância e/ou em ambientes fechados. Causa lacrimação nos olhos (por isso o nome), coceira na pele, inflamações nos olhos e na mucosa nasal e bucal, dor de cabeça e falta de ar, entre outros, com graus variados. Também pode causar náusea.
Danos permanentes ou letais ocorrem em exposição prolongada, sobretudo em espaços confinados. Crianças, grávidas, indivíduos epilépticos e portadores de condições respiratórias são mais vulneráveis. Os efeitos imediatos do contato e a incapacitação sensorial costumam se dissipar com o tempo.
Segundo o Dr. Luiz Carlos Molinari, oftalmologista que atuou por 37 anos no Hospital João XXIII, os impactos do gás lacrimogêneo no organismo podem variar de acordo com a composição química específica de cada substância, além do tempo de contato, a concentração do gás e as condições prévias da pessoa atingida, como bronquite ou asma.
“O gás causa uma ‘conjuntivite química’. Primeiro os olhos ficam vermelhos, lacrimejando, e podem ter espasmos ou edemas ”, explica o oftalmologista. Quando é inalado, o gás afeta os brônquios, nos pulmões, o que causa tosse, queimação e possivelmente asfixia. A substância pode gerar uma alergia respiratória e também cutânea, na pele.
O médico lembra que não há antídoto específico para a contaminação e/ou intoxicação pelo gás lacrimogêneo. “Tem que deixar o local imediatamente, e remover roupas, acessórios, lentes de contato, quaisquer objetos que tenham tido contato com a substância. É importante tomar banho e lavar o corpo e os cabelos vigorosamente para remover as partículas, que podem ficar ativas por até uma semana”, explica Molinari.
No atendimento imediato, como aconteceu no Colégio Tiradentes, olhos, nariz e boca devem ser limpos com soro fisiológico. No caso das alergias respiratórias e na pele, medicamento anti-histamínicos são recomendados, além do acompanhamento médico prolongado.
* Estagiária sob supervisão do subeditor Thiago Prata