Aurora chegará ao mundo no despertar da primavera, com previsão do nascimento em 22 de setembro, quando começa a nova estação. Feliz da vida, o casal Cleiton Rodrigues Verly, de 23 anos, e Ana Carolina Gomes do Carmo, de 18, conta os dias para ter o primeiro bebê nos braços, embora com uma pequena diferença: enquanto ele se mostra ansioso, ela esbanja “muita calma nessa hora”. Ao lado da futura mamãe, quem não para de sorrir é o vovô José Antônio do Carmo, o Zequinha, de 49, cheio de motivos para celebrar, neste domingo, o Dia dos Pais. “Sou ‘pai pra toda obra’. Encaro qualquer serviço, mas fico de coração mole ao ver minha caçula grávida de oito meses”, diz Zequinha, emocionado.
Natural de Antônio Dias, no Vale do Aço, em Minas Gerais, Zequinha explica o significado de “pai pra toda obra”. É assim: “Se o cara faz de tudo, então é ‘pau pra toda obra’. Já o ‘pai pra toda obra’ é aquele que trabalha muito, se importa com os filhos, respeita as mulheres e procura viver em paz. E paz, com saúde e esperança, é o que mais desejo”, diz o dono de um lava-jato no Bairro Boa Esperança, em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Divorciado e namorando firme “para casar em breve”, Zequinha tem dois filhos do primeiro casamento (Lázaro, de 26, e Lorraine Angélica, de 25), e Ana Carolina, do relacionamento com uma antiga namorada. Na prole, está a neta Lara, de 6 anos, filha de Lorraine, e sempre disposta a visitar o vovô no serviço. “Adoro minha netinha. Chega aqui e fica no maior papo. Agora, esperamos a Aurora chegar.”
Até chegar a ser seu próprio patrão, Zequinha desempenhou várias funções, que vai enumerando com orgulho: “Fui vaqueiro, carvoeiro, garimpeiro, ajudante de pedreiro, frentista de posto de gasolina, limpador e enxugador de carro – isso mesmo, pois tem quem limpa e quem enxuga”. Na mudança de rumos, comprou um caminhão, prestou serviço para um sacolão buscando mercadorias na Ceasa, em Contagem (Grande BH), e transferiu o lava-jato de endereço, agora funcio- nando com um estacionamento.
Até chegar a ser seu próprio patrão, Zequinha desempenhou várias funções, que vai enumerando com orgulho: “Fui vaqueiro, carvoeiro, garimpeiro, ajudante de pedreiro, frentista de posto de gasolina, limpador e enxugador de carro – isso mesmo, pois tem quem limpa e quem enxuga”. Na mudança de rumos, comprou um caminhão, prestou serviço para um sacolão buscando mercadorias na Ceasa, em Contagem (Grande BH), e transferiu o lava-jato de endereço, agora funcio- nando com um estacionamento.
“Durante a pandemia, acordava de madrugada, o céu todo estrelado, para ir à Ceasa. Voltava direto para o lava-jato”, afirma Zequinha, que, na manhã de uma sexta-feira, ao receber a reportagem do EM, estava fazendo lanternagem no caminhão, depois lavando um carro e dando um trato na cobertura do estacionamento. “A vida é deste jeito, tem altos e baixos, curvas e derrapagens, não dá para parar, às vezes nem frear, ainda mais quando se tem filhos. Eles são a alegria da nossa vida. Felizes dos homens e das mulheres que se tornaram papais e mamães. É uma bênção divina, um presente que vem de Deus”, define. Ao lado, a filha Ana Carolina, com um jeitinho tímido, arremata: “Meu pai sempre fez de tudo um pouco... É o jeito dele”.
Uma rotina de tirar o fôlego
Não menos movimentada é a vida de Anderson Cleiton Pereira Ramos, de 47, casado com Natália Cristina, que trabalha em um salão de beleza na Savassi, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Ele é pai de Amanda, de 15, e Ana Júlia, de 10, frutos de uma união anterior. Raro é o momento de folga, mas hoje, Dia dos Pais, ele tira “todo o tempo do mundo” para almoçar em casa e curtir a família.
Bom mesmo aproveitar, porque amanhã é outro dia, segunda-feira, e a vida segue o curso normal. “Normal?” – é o caso de se perguntar, diante da rotina apertada de Anderson, que se define, bem-humorado, como “o cara que pula e segura a sombra no ar para ela não cair”. Acorda às 3h e vai trabalhar em transporte por aplicativo até as 6h30. Toma um café e pega o volante da ambulância até as 19h, voltando ao transporte por aplicativo e finalizando a jornada às 22h. No fim de semana, quando tem folga, vende linguiça, queijo e carne-seca, produtos que vêm de Montes Claros, no Norte de Minas, ou conduz passageiros em viagens pelo interior do estado.
Por que tanto trabalho? Sem titubear, Anderson, natural de Augusto de Lima, no Norte de Minas, responde que não perde oportunidade para ajudar a família. “Nada neste mundo cai do céu. Precisamos juntar e guardar, pois nunca sabemos o que vem por aí. Eu me preocupo muito com minhas filhas. Minha mulher também trabalha muito, e costumo buscá-la no salão”.
Quem ouve as histórias de Anderson tem a impressão de que ele não descansa. “Nos domingos, vou à igreja. E, dependendo da escala, trabalho uma semana e folgo na outra. Além disso, tenho uma hortinha em casa, no Bairro Guarani, na Região Norte de BH, que cultivo em bacias. Tem cebolinha, salsinha e verduras. Esse é um grande descanso para o corpo e a cabeça.”
Sem tempo para ficar cansado
Já no Bairro Cidade Nova, na Região Nordeste de Belo Horizonte, dá para entender perfeitamente o sentido da expressão “vida corrida” na conversa com Afonso Cappai de Castro, de 77 anos. Consultor, palestrante, escritor e corredor de rua apaixonado, ele tem não uma receita a dar, mas sim uma boa orientação para conciliar muitas atividades e dedicação à família: “Disciplina, preparo, atenção, paixão e muito amor pelo que se faz”.
Casado há 53 anos com Maria das Graças de Paula Castro, pai de Hélade, Andréa e Renata e avô de Artur, Miguel e Giulia, Afonso encontrou na corrida, há 43 anos, um antídoto contra o estresse. Trabalhava havia quatro décadas numa empresa multinacional, quando adoeceu. Recorreu ao esporte, e, como era ruim de bola, tirou o futebol de campo e se dedicou à peteca, modalidade bem belo-horizontina.
“Quebrei o pé jogando peteca, esperei a recuperação e comecei a correr. Felizmente, nunca tive uma torção, nada que me atrapalhasse. Para ter boa qualidade de vida, o ser humano precisa de alimentação, sono e movimentação, e sigo isso religiosamente”, explica.
Cheio de planos e energia, o belo-horizontino tem dois livros lançados (“Os sonhos valem a pena” e “Paixão por correr”) e quer terminar, em breve, “Como corri 50 mil quilômetros”. A explicação é a seguinte: em 43 anos, ele percorreu 49.949 quilômetros, distância superior à circunferência da Terra (40.075 quilômetros). A marca correspondente à “volta ao mundo” foi conquistada em 15 de novembro de 2018, numa meia-maratona na Linha do Equador, em Macapá, no Amapá.
Em 18 de setembro próximo, Afonso Cappai pretende completar os 50 mil quilômetros. “Programei uma corrida de 18 quilômetros na orla da Lagoa da Pampulha para completar a meta. Uma corrida intimista, apenas para amigos e admiradores.” Será, portanto, o último capítulo para o terceiro livro e um passo decisivo na sua emocionante “folha corrida” esportiva, afirma Afonso, que, neste domingo, depois da corrida habitual, estará reunido com a família em clima festivo.
Maratona como a dele é enfrentada, ainda que de formas diferentes, por um sem-número de outros corredores, batalhadores, cuidadores, protetores...
Cada um com sua forma de ser pai pra toda obra e todos eles merecedores das homenagens deste domingo: feliz Dia dos Pais!.