Um dos policiais envolvidos no espancamento de um jovem de 23 anos, no município de Paineiras, na Região Central de Minas Gerais, foi transferido. A informação foi divulgada nas redes sociais pelo prefeito Afrânio Alves de Mendonça Neto (PSDB) nesta segunda-feira (15/8). O militar realocado para outro destacamento deu pelo menos 11 socos no rosto de Marcos Mendonça Gonçalves após ele ser imobilizado. A namorada do jovem, Maísa Tavares, de 18, também foi agredida.
“Em atenção à solicitação de apuração que fiz ao coronel Wemerson, comandante da Polícia Militar, me foi retornada informação de que o inquérito para apuração do ocorrido já está instaurado e que o agente envolvido já foi transferido de destacamento”, escreveu o chefe do Executivo municipal na função Stories do Instagram.
Nesse domingo (14/8), o tenente-coronel Flávio Santiago, chefe do Departamento de Comunicação da Polícia Militar mineira, já havia informado ao Estado de Minas que "há uma apuração em andamento". "Mas isso não é de um dia para o outro", pontuou, destacando que haveria ‘rigor’ nas diligências de investigação do caso.
"Não podemos falar em aumento [de casos de agressões envolvendo policiais]. É muito pouco representativo, mas ainda sim vamos tratar com muito rigor, pois a PM não compactua com desvio de conduta", afirmou.
Representação no MP e pedido de afastamento dos policiais
Também no domingo, a reportagem conversou com Marcos Aurélio de Souza Santos, advogado criminalista que assumiu a defesa do jovem agredido. Segundo ele, trata-se de um claro episódio de abuso de autoridade.
Conforme Souza, a previsão é de que uma representação pedindo a investigação do caso seja entregue ao Ministério Público de Minas Gerais nesta terça-feira (16/8). Para isso, o vídeo da agressão contra o casal e o laudo médico do Instituto Médico-Legal (IML) estão entre os elementos que serão anexados no documento a ser remetido ao MP.
Conselheiro seccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Minas, Marcos Aurélio pontua que, também na próxima terça-feira, acionará a corregedoria da Polícia Militar de Minas Gerais. "Não há como brigar contra as imagens. Então, vamos pedir que os policiais sejam afastados de suas funções até que todas as apurações sejam feitas", declarou, na ocasião.
O prefeito não comentou sobre o outro militar que segurou as pernas de Marcos Mendonça enquanto ele era espancado.
Entenda o caso
Na noite de sexta-feira (12/8), no município de Paineiras, na Região Central do estado, Marcos Mendonça Gonçalves, de 23 anos, foi espancado após ser imobilizado durante uma ação policial. As agressões resultaram em hematomas por todo o corpo, além de sete pontos na parte de trás da cabeça. A namorada Maísa Tavares, de 18, levou um soco de um dos militares ao tentar interromper a agressão contra o companheiro.
Nas imagens – gravadas por uma testemunha que optou por não se identificar por medo de represálias –, Marcos cai no chão. Enquanto um dos policiais agride violentamente o rosto do rapaz, que tenta se proteger com os braços, outro militar segura suas pernas. O jovem foi golpeado pelo menos 11 vezes e acabou desmaiando.
Conforme o bole tim de ocorrência, a Polícia Militar teria recebido uma denúncia de que havia um homem soltando bombas em uma praça perto de crianças. Durante a abordagem, a PM alegou que foi desacatada com diversos xingamentos e, ao receber voz de prisão, Marcos teria resistido e "agrediu um dos militares com chutes e mordidas".
"Visando se defender das agressões, e resguardar a vida dos militares, foi necessário fazer o uso da força com golpes de defesa pessoal", justificou a PM. Questionado sobre a versão dos policiais, o jovem negou ter sido agressivo. "Não os desacatei. E mesmo que tivesse feito isso, nada justifica o que fizeram. É um absurdo! Estou no hospital até agora, com muita dor e tomei sete pontos na cabeça", afirmou, na ocasião.
Em comunicado emitido na tarde de sábado (13/8), a PM ratificou as informações do registro da ocorrência e disse que, diante da divulgação das imagens que mostram parte da ação policial, foi instaurado um procedimento para analisar a conduta dos militares durante a abordagem.