A esperança de retorno a suas casas e atividades está mais perto dos habitantes de Macacos. A Vale calcula que 50% dos rejeitos retidos na Barragem B3/B4 devem ser removidos até o fim do ano. Com isso, a expectativa é de que logo o barramento deixe o nível 3 de emergência, o mais crítico, que representa risco iminente de rompimento.
A tendência é de que o barramento seja totalmente desmanchado (descaracterizado) até 2025. Desde fevereiro de 2019, cerca de 200 famílias tiveram de deixar suas casas e atividades comerciais, sendo evacuadas e recebendo custeio de moradia da mineradora.
“Até agosto de 2023, esperamos desmanchar completamente o primeiro alteamento - construção para aumentar a capacidade do barramento. Isso vai retirar 20 metros de altura da barragem e aliviar a construção colaborando para a estabilidade e redução do nível de segurança. Vai, também, se refletir na sensação de segurança das pessoas que poderão constatar visualmente a descaracterização”, afirma o gerente de implantação das obras de descaracterização da B3/B4, Marcel Pacheco.
O local de intervenções fica no alto da mina, 300 metros de altura acima de Macacos e da ECJ. Na primeira fase, foi desmanchada uma pilha de estéril (PDE X), que é o material sem utilidade da mineração e estava na cabeceira, onde a água que formou o barramento chegava para o depósito de rejeitos. As máquinas retiraram uma grande quantidade de rejeitos de coloração escura. As escavações se dão ao contrário do sentido da água que formou o barramento, para ajudar a drenar o conteúdo da estrutura e também formar uma bacia para acúmulo da água de chuva fora da área de trabalho. Os rejeitos removidos são depositados na cava 7, uma mineração exaurida há 20 anos e na vizinha cava da Mina da Mutuca.
Além da B3/B4, a Vale opera duas outras barragens em nível 3. São a Forquilha 3, em Ouro Preto, e a Sul Superior, em Barão de Cocais. Outra estrutura também em mesmo estado crítico é a Barragem da Mina Serra Azul, da ArcelorMittal, em Itatiaiuçu.
O barramento B3/B4 fica situado na Mina de Mar Azul, em Nova Lima, na Grande BH, tendo 60 metros de altura de maciço e 3,4 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro. É do tipo de alteamento a montante, o menos seguro e que era o método das barragens rompidas de Marina (2015) e Brumadinho (2019).
Esse barramento é operado com maquinário controlado remotamente desde 2021. Uma grande barreira de contenção de rejeitos (Estrutura de Contenção a Jusante - ECJ) foi erguida a 8 quilômetros da barragem e a 800 metros das primeiras residências do povoado turístico de São Sebastião das Águas Claras, conhecido como Macacos. Esse barramento tem 33 metros de altura e 221 metros de comprimento e é mais uma garantia de que os rejeitos não atinjam a comunidade em caso de rompimento.
Descaracterizações por controle remoto
Nos primeiros meses, os controladores das obras de descaracterização conduziam caminhões, tratores, escavadeiras, motoniveladoras e outros veículos pesados a 1 quilômetro de distância, usando instrumentos que simulam os comandos das máquinas em quatro containers climatizados e adaptados.
Atualmente, pelo menos 40 controladores conduzem os equipamentos remotos a partir do Centro de Operações Remotas montado na Avenida Barão Homem de Melo, no Santa Lúcia, em Belo Horizonte, a 15 quilômetros da B3/B4. O desenvolvimento da tecnologia remota e a implantação do centro demandou investimento de R$82 milhões. A expectativa é de que, ao término do processo de lançamento de cabeamento de fibra ótica das barragens em descaracterização das outras minas, se possa também operar o maquinário delas a partir do centro, até abril de 2023.
“Pudemos tirar os operadores de dentro da área de mina para um local mais seguro e integrado - trouxemos tecnologia e trouxemos fibra ótica para transmissão de dados exclusiva da barragem para o escritório, permitindo velocidade e ter controle e consciência de todos os controles e do terreno para os motoristas. Para que a operação não pare temos redundância de cabos e até o 5G poderá nos auxiliar”, afirma o gerente de implantação das obras de descaracterização da B3/B4, Marcel Pacheco. De acordo com o gerente, a grande distância é uma das maiores dificuldades para trazer os cabeamentos de outras barragens, como Sul Superior, em Barão de Cocais que fica a 45 quilômetros por meio de ferrovias.
“A partir (do rompimento da Barragem B1 da Mina Córrego do Feijão) de Brumadinho (2019) a indústria mineradora passou a ser mais criteriosa e assim elevamos o nível de emergência das barragens e tomamos todas as atitudes preventivas. Aumentamos a quantidade de sondagens, ensaios de laboratório e técnicas de conhecimento das estruturas (muitas são da década de 1970 e fora construídas por outras mineradoras que não as acompanhavam) para que não ocorram erros nem insegurança”, afirma o gerente executivo do Programa de Descaracterização de Barragens a Montante, Frank Pereira.
A Vale tinha 30 barragens a montante até 2020, sendo que nove já foram descaracterizadas, seis em Minas Gerais e três no Pará. Restam 21, das quais mais três devem ser eliminadas em 2022 (-40%). Até 2035, todas as barragens a montante da Vale devem ser eliminadas.
O planejamento da Vale prevê que não haja mais nenhuma barragem em nível 3 até 2025. Iniciativa que poderá ser possível pela redução do uso de barragens com a filtragem de processamento a seco - formação de pilhas - e utilização de coprodução - reaproveitamento de materiais depositados, como a areia para atividades de construção e outras.
Areia e bloquetes para construção
Outros aproveitamentos para evitar a disposição de rejeitos em barragens tem sido testados e aperfeiçoados pela Vale. Atualmente há quatro usinas de filtragem em funcionamento em Minas Gerais. Boa parte do que é aproveitado sai na forma de areia para construção.
Uma dessas instalações fica no complexo de Vargem Grande, entre Nova Lima e Itabirito, onde são processados rejeitos de Vargem Grande e da Mina do Pico. Os rejeitos são lançados por dutos que os transportam por 5 quilômetros e ingressam em um grande filtro com capacidade de 6 mil m3. A secagem se dá em instalação anexa que utiliza máquinas com espécies de bolsas onde o ar comprimido propicia a sucão da água e aderência do rejeito, que em seguida é lançado em correias que o levam para um empilhamento intermediário, já seco.
Segundo a Vale o reaproveitamento de água Tem sido de 90% a 92%, sobrando 30% do rejeito ultrafino e 70% sílica (areia). A instalação empregou 1.500 pessoas e a operação hoje tem 120 pessoas envolvidas.
Outra iniciativa sustentável que está em fase de estudos e desenvolvimento é a fábrica de bloquetes para pavimentação e construção civil inteiramente operada por mulheres da região.
Quando completamente implantado, a fábrica conseguirá utilizar 30 mil m3 de rejeitos para uma produção de 3,8 milhões de blocos em um ano. Foram investidos R$ 26 milhões em pesquisas em parceria com o CefeT-MG. Atualmente, são fabricados 4,3 mil blocos por dia e isso pode chegar a 10 mil. A utilização por enquanto é no revestimento de pisos e trilhas internas.
Para a composição dos blocos são utilizados 37% arenoso, 35% de areia e os 28% restantes de cimento. O processo de cura leva 48 horas.