Belo Horizonte é a capital do wheeling - ou, no dialeto local, “grau”. A lei foi publicada nesta sexta-feira (19/8) no Diário Oficial do Município (DOM). Apesar de fazer parte da cultura de BH, é uma atividade que pode trazer riscos. O influenciador Gabriel Rangangan sofreu um acidente grave no dia 8 de agosto, em que estava fazendo grau no Anel Rodoviário com um garupa, que acabou morrendo no local. Gabriel segue em coma.
O que é o grau ?
O grau é um movimento em que o condutor de uma moto anda somente em uma roda, geralmente a traseira, enquanto a empina. Basta rodar pelas periferias de Belo Horizonte para encontrar motociclistas “dando grau”.
Além de motos, a manobra também pode ser feita com bicicletas. O 'grau' é da cultura periférica e é uma febre entre os jovens.
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O projeto é de autoria dos vereadores Léo Burguês (PSL) e Bim da Ambulância (Avante), que tem a palavra grau dentro de seu jingle político. Durante a apresentação do projeto, o vereador Bim explicou que a manobra com motos é muito característica nas ruas de Belo Horizonte, e por isso, poderia ser um bom investimento para montadoras na cidade.
Porém, eles reconheceram que praticar o grau é infração gravíssima e assim deve continuar, porque se for feito sem cuidado e equipamentos de proteção, como o capacete, pode colocar em risco o condutor e terceiros.
O wheeling ganhou espaço no Brasil em 1990 e, de acordo com os vereadores na justificativa oficial do projeto, “ao atingirem certo nível , a maioria dos pilotos vão (sic) para outros países da América do Norte e Europa. Muitos pilotos brasileiros têm tentado a sorte na Espanha, Portugal, Alemanha e Suíça. Nomes como Ac Farias, Dudu, Ronaldo e Odair competem em campeonatos mundiais e representam o Brasil. A proposta é reconhecer essa modalidade esportiva em Belo Horizonte e trazer mais uma oportunidade de esporte e lazer, negócios e turismo para a capital mineira”.
Um incentivo à prática, de uma forma mais segura, foi criado em março deste ano pela Prefeitura de Belo Horizonte A avenida Clóvis Salgado, no bairro Bandeirantes, passou a ser oficialmente o “espaço do grau”. O local na região da Pampulha tem 58 mil metros quadrados livres.
Risco altíssimo de acidentes
O influenciador digital abriel Rangangan sofreu um acidente no Anel Rodoviário, no dia 8 de agosto, e está em coma induzido. O garupa, Cristiano Mendes, que era amigo dele de infância, morreu no local. Os dois estavam fazendo grau em uma das vias mais movimentadas de Belo Horizonte. Ambos foram arremessados da moto após a batida, de acordo com a Polícia Militar.
Gabriel é um dos jovens mais conhecidos pelo público periférico de Belo Horizonte, devido às manobras radicais que pratica nas ruas do seu bairro e pela frase "Cê gosta de queijo?” que viralizou nas redes sociais. O apelido que acompanha seu nome, “Rangangan”, é uma alusão ao barulho da moto ao fazer grau.
De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), dar grau com a moto é considerado crime de trânsito gravíssimo porque a instabilidade em cima de uma única roda aumenta as chances de queda. E as quedas têm a capacidade de proporcionar um “efeito dominó” no trânsito. Caso a Polícia registre boletim, o infrator pode receber 7 pontos na CNH, multa de R$ 293,47, suspensão do direito de dirigir e recolhimento do documento de habilitação.
Especialista em trânsito comenta a decisão
O diretor científico da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (AMMETRA), Alysson Coimbra, lamenta a decisão. " É uma iniciativa infeliz porque o sistema nacional de trânsito atravessa seu pior momento, com números cada vez maiores de mortes evitáveis em faixas etárias de 18 a 36 anos, em motocicletas. Então por mais que a prática seja realizada em ambientes 'apropriados', infelizmente, ele será replicado em vias urbanas".
Coimbra destaca ainda outros pontos sérios sobre o grau. " Há outras formas de incentivar essa cultura, estabelecendo espaços próprios para isso e disponibilizando medidas aumentando o rigor da lei, caso isso for replicado em vias urbanas".
Outro ponto seria a formação psicológica dos jovens. "Existe uma dificuldade grande de entendimento sobre onde ele pode fazer o grau e onde não pode. Muitas vezes, a direção ofensiva é uma replicação desse ato visto em outros locais, com excesso de velocidade e manobras arriscadas.
Para alcançar manobras mais radicais, as motocicletas sofrem modificações. " Eles levam as motocicletas para serem transformadas, com alterações não previstas no Código de Trânsito Brasileiro, aumentando além do risco, a pertubação sonora. Por último, o especialista chama a atenção para o exibicionismo. "Quando gravam vídeos para as redes sociais, na maioria das vezes, abdicam do uso do capacete".
*estagiária sob supervisão do editor Benny Cohen