Conservação para cuidar da preservação. Em temporada de seca, uma equipe trabalha para que uma área de 78 mil metros quadrados de grande importância ambiental, criada para proteger vegetação característica de cerrado e nascentes que deságuam na Bacia do Ribeirão Arrudas, fique a salvo do fogo. Para isso, a estação demanda cuidados especiais com a capina e formação de aceiros – técnica que consiste em formar “corredores” sem vegetação ou material combustível, para evitar eventual propagação das chamas – no Parque Municipal Carlos de Faria Tavares. Popularmente conhecido como Parque da Vila Pinho, no Bairro Castanheira, região do Vale do Jatobá, no Barreiro, a sudoeste de Belo Horizonte, a unidade é a atração da vez na série do EM sobre os parques da capital.
A reserva criada em 2000 e conquistada por meio do Orçamento Participativo após anos de ampla mobilização da comunidade, hoje recebe, em média, 500 pessoas por semana, segundo estima a Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica (FPMZB). A maioria, moradores do entorno e de escolas públicas vizinhas. Em outubro de 2010, por meio da Lei 9.980, recebeu a denominação atual, em homenagem ao deputado estadual Carlos de Faria Tavares, que teve mandato de 1955 a 1959 em Minas.
Os trabalhos que atualmente se concentram na prevenção do fogo fazem parte do serviço de manutenção em área pública de preservação e lazer. A Fundação de Parques Municipais informou que, além das ações de capina, conta com uma brigada de incêndios única, que atende a todas as suas unidades, composta por todos os gerentes e funcionários de parques, voluntários e, mais recentemente, moradores do entorno que quiserem se capacitar nos cursos oferecidos anualmente.
Funcionário da fundação, Heraldo de Souza Filho é o jardineiro responsável pela conservação da vegetação, manutenção e criação de jardins, além dos aceiros e roçados para evitar o fogo, comum em áreas de vegetação no período de estiagem. Seu trabalho garante a conservação de espécies da fauna como imbiruçu, barbatimão, pequi, ipês-verde, murici, faveiro e jacarandá-caviúna, além de lobeira, pau-santo e mandioqueiro-do-cerrado. Vegetação que é frequentada por sabiás-do-campo, pica-paus, bem-te-vis e tucanos, entre outras aves, além de pequenos mamíferos.
Heraldo explica que a manutenção prioriza as principais atrações da unidade, como o campo de futebol de dimensões oficiais, quadra esportiva, bowl de skate, equipamentos de ginástica e trilhas de caminhadas. “Quando ocorre comprometimento ou acúmulo de trabalho, recebemos apoio de nossa gestora (Gerência de Parques da Regional Barreiro), que encaminha uma equipe de reforço. Já fizemos todo aceiro no entorno do parque e nas trilhas”, explica, em referência aos locais mais suscetíveis a princípios de incêndio.
Esporte, lazer e contemplação
Aberto de terça a domingo, o parque é a principal referência para crianças, idosos e moradores, que buscam no espaço atividades de contemplação, lazer e esportivas. Por estar próximo ao limite entre Belo Horizonte e Ibirité, o espaço serve também de passagempara quem circula entre os dois municípios e acesso entre as partes alta e baixa do bairro. Aos domingos, recebe grande númerode visitantes, atraídos por feira de produtos variados que ocorre na Avenida Perimetral, onde fica a principal entrada do parque.Próximo a ela fica uma Academia da Cidade, com equipamentos e atividades coordenadas por professores de educação física.Ao lado, para quem quiser praticar exercícios sem acompanhamento dos profissionais, há equipamentos ao ar livre, todos embom estado de conservação.A dona de casa Soraia Mendes, de 46 anos, mora na Vila Pinho há mais de 13 anos, e está matriculada na academia da cidade, onde pratica exercícios duas vezes por semana, por indicação do posto de saúde local. “Estou muito satisfeita com o atendimento e acolhida”, afirma. Depois dos exercícios, ela acompanha a amiga Maria do Amparo, de 73, que não está inscrita na academia oficial, mas faz exercícios diariamente nos equipamentos externos.
Da antiga fazenda brotaram bairros
O Parque da Vila Pinho fica em terreno da antiga Fazenda do Jatobá, no limite com o município de Ibirité. Em seu entorno estão bairros como o Independência, Jatobá, Mangueiras, Mineirão, Petrópolis, Santa Cecília, Vale do Jatobá, Vila Castanheira, Vila Marilândia, Vila Pinho e Vila Santa Rita.
A antiga Fazenda fez parte da ex-Colônia Vargem Grande, implantada em 1896, atraindo imigrantes italianos e portugueses em sua maioria. Porém, o povoamento da região só se intensificou na década de 1960, quando foi construído o Conjunto Habitacional Vale do Jatobá, pela Companhia de Habitação de Minas Gerais (Cohab-MG), responsável pela construção de casas populares.
Era um conjunto de pequenas casas, de plantas semelhantes, que abrigavam em grande parte moradores reassentados devido a enchentes ou à remoção de favelas. O bairro foi construído nas margens da antiga Avenida Cerâmica, atual Avenida Senador Levindo Coelho. Dez anos depois, outros bairros já haviam surgido, todos ocupando áreas de antigas fazendas e plantações.
Na década de 1970, o projeto de instalação de áreas industriais na região da Fazenda do Jatobá deu origem aos bairros Jatobá e Jatobá Distrito Industrial, nos quais foram construídas diversas fábricas que se aproveitavam das vias de acesso e dos cursos d’água da região.
Falta de banheiros é o principal “aperto”
A principal queixa de visitantes e frequentadores do Parque Municipal Carlos de Faria Tavares se refere à falta de banheiros públicos. Um prédio onde frequentadores informam que teria funcionado a administração do local, com banheiros e vestiários, está fechado e com aspecto de abandono.
Domingos Joaquim Martins, de 36, oficial de manutenção predial e escolar, costuma levar o filho Gabriel, de 7, para passear pelo parque, e se queixa da depredação. “O banheiro público fica mais desativado que sendo usado, devido ao vandalismo. Meu filho e eu usamos o banheiro em um dia em que tinham consertado, e três dias depois estava depredado novamente. O parque tem duas portarias, com vigilância, mas infelizmente independe da segurança, é mesmo questão de consciência das pessoas”, avalia.
Em contraste, a pista de skate está em bom estado, mas aparenta pouco uso. Nos fins de semana há partidas de futebol no campo de terra e atividades nas quadras. Mas, mesmo estando entre as principais atrações, os espaços estão com telas rompidas e traves em mau estado, além de haver bancos próximos, mesas de cimento e brinquedos quebrados.
Já as trilhas, de modo geral, estão em bom estado para acolher caminhantes. A maior dificuldade para garantir a boa conservação da estrutura, conforme o jardineiro Heraldo de Souza Filho, é convencer alguns visitantes que cada um precisa fazer sua parte para preservação.
Em nota, a assessoria da Fundação de Parques informou que reformas e melhorias no parque estão na programação da entidade, mas sem precisar a data. A entidade acrescenta que as atividades compartilhadas com a comunidade, além da Academia da Cidade, projeto da Secretaria Municipal de Saúde, são eventos, feiras e movimentos ocasionais, sob demanda de moradores.