As obras do BRT de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, já se arrastam por mais de dois anos e têm provocado reclamações de moradores e comerciantes das proximidades, especialmente na Avenida João César de Oliveira. As intervenções, iniciadas na gestão anterior da prefeitura, estreitaram as pistas, causando lentidão e engarrafamentos constantes na via. Nenhuma das 10 estações previstas para o corredor Norte-Sul, do qual a João César faz parte, foi concluída. Apenas o Terminal Ressaca está pronto, mas ainda não pode entrar em operação.
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A funcionária pública Raquel Alves, de 34 anos, reclama do trânsito congestionado na região. “Está nisso há anos. Tem atrapalhado bastante, teve época em que a via ficou parcialmente fechada. Virou um caos”, conta. Moradora do bairro Eldorado, ela depende do transporte público para chegar ao trabalho, no Centro de Contagem. “Já não tenho esperanças de que isso acabe tão cedo”, disse. O aposentado Gilberto Fernandes Coelho, de 60, diz que o tempo de viagem poderia ser menor se o BRT da cidade estivesse pronto. “Só serviu para atrapalhar o trânsito. À tarde fica impossível. Eles mexem um pouco aqui, depois vão lá na frente. Nunca acaba”, queixa-se.
O sentimento geral nas ruas é de insatisfação com o atraso das obras. “Eles vêm e fingem que estão mexendo. Joga uma terra ali, depois para. E nisso já tem quase dois anos que estamos assistindo a essas obras”, conta o comerciante Paulo Júnior de Moraes, de 51, que trabalha em uma lanchonete próximo ao Big Shopping. Segundo ele, o barulho e a poeira espantam a freguesia. “O volume diminuiu desde que começaram a mexer aqui. Tiraram as vagas de estacionamento aqui em frente, o que também dificultou para os clientes”, conta. Ele também questiona o fato de praticamente todos os materiais serem pré-moldados, o que facilitaria as obras. “Mas sua colocação não acontece nunca”, protesta.
Material Questionado pelo Estado de Minas sobre a instalação dessas estruturas, o secretário de obras e serviços urbanos, Marcos Túlio de Melo, afirma que o serviço depende de um prazo estabelecido pelo fabricante. “Nós dependemos da disponibilidade do material contratado. À medida que ele vai chegando de fábrica, vai sendo montado”, disse. Ele afirma, ainda, que não há nenhuma obrigatoriedade de sequência para execução das obras. “Nós temos várias estações, mas a obra é uma só. Para uma racionalidade administrativa do trabalho, a equipe de uma estação é deslocada para outra, também em função da disponibilidade dos materiais. Isso está tudo dentro do previsto, não há nenhuma descontinuidade”, afirma.
As obras nas avenidas General David Sarnoff e João César de Oliveira fazem parte de um conjunto de intervenções para implantação do Sistema Integrado de Mobilidade (SIM), projeto que vai reformular o transporte público de Contagem. Os trabalhos na região tiveram início em julho de 2020, mas foram paralisados em 2021, após a empreiteira responsável ter desistido do contrato, quando foi notificada e multada pela prefeitura por atrasos nas intervenções. “Essas contratações são da gestão anterior, que tiveram um atraso significativo por diversas razões, mas a principal foi que a empresa contratada ganhou a licitação e não teve condições de dar continuidade ao trabalho. Iniciamos efetivamente esse novo contrato no final do ano passado”, explica Marcos Túlio.
O secretário aponta, ainda, uma dificuldade no mercado pela instabilidade das empresas contratadas. “Temos vários negócios que estão em crise, como aconteceu com a empresa anteriormente contratada para essa obra, que faliu. É o momento onde muitas obras, não só do poder público, estão ficando atrasadas em função dessa realidade. Se a empresa não tem uma estrutura sólida, com um fluxo de caixa robusto, ela enfrenta dificuldade para garantir a execução dos empreendimentos públicos no tempo contratado”, afirma. Ele também destaca o aumento dos materiais de construção civil como outro fator para o atraso das obras.
A expectativa da prefeitura é de que as obras sejam concluídas até o primeiro trimestre do ano que vem. Segundo o secretário de obras e Serviços Urbanos, o cronograma está dentro do esperado. “Estamos conseguindo retomar um ritmo normal de execução na Avenida João César. Estamos, inclusive, com o cronograma avançado em relação à nova contratação”, declara. Ele aponta, ainda, que o funcionamento do sistema depende de tudo concluído. “Todos esses terminais, tanto o Ressaca quanto o Petrolândia, cujas obras já finalizaram, irão operar quando tudo estiver concluído”, pontua.