O caso foi registrado na Delegacia Civil de Paraopeba, distrito de Sete Lagoas.
A mãe da criança, Dayse Mara Oliveira, conta que, no dia 20 de agosto, foi à lanchonete acompanhada do marido, Elimar Henrique Silva, e do filho Miguel, diagnosticado com autismo.
Segundo ela, os três aguaradavam na fila do único caixa até então disponível para serem atendidos. Em dado momento, um segundo caixa foi aberto e a família se dirigiu até ele. Desta vez, decidiram apresentar a Carteira de Identificação de Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA) de Miguel que, por lei, garante prioridade no atendimento.
Inconformada em ceder a vez, uma mulher teria, então, começado a agir de forma rude. Segundo Dayse, ela ironizou a condição da criança e afirmado que “não aguenta essas pessoas que usam seus filhos para levar vantagem nos lugares”.
“Ela seguiu com as ofensas. Disse que não via necessidade de a gente passar na frente. Como mãe, eu não me aguentei. Comecei a chorar de raiva e a gritar com ela, a chamando de preconceituosa, o que não era nenhuma mentira”, diz a mãe de Miguel.
De acordo com Dayse, a mulher é, supreendentemente, casada com um neuropediatra que já atendeu o menino autista. “Economizamos por três meses para pagar pelas consultas, depois paramos porque era muito caro. O marido dela ganha a vida trabalhando com crianças como o meu filho, mas parece que ela não entende”, relata.
A atitude do próprio médico também surpreendeu a família. Dayse conta que ele tentou coagir Elimar, seu marido, a não denunciar o episódio, temendo por sua reputação.
O profissional de saúde chegou a abrir um processo civil por dano material contra Dayse e Elimar em 25 de agosto, depois que eles expuseram o caso nas redes sociais. No dia 30, no entanto, desistiram de seguir adiante com ação, conforme consta no sistema do Tribunal de Justiça de Minas Gerais.
A reportagem tentou contato com o médico e sua esposa, mas não obteve retorno.
"Preocupados com a marca"
A família de Miguel também se queixa de omissão do McDonald's diante do caso. Segundo Elimar, no dia seguinte ao episódio (segunda-feira, 21/8), uma equipe de marketing do McDonald’s entrou em contato com ele por telefone “para entender melhor a história”.
Três homens, que se identificaram como gerentes, foram até a casal, conheceram Miguel e “disseram que tentariam resolver a situação”. A família também foi convidada a visitar a lanchonete com o menino, mas os pais decidiram ir sozinhos, sem o garoto.
“Eles nos levaram na lanchonete e nos mostraram o vídeo de segurança. Vimos que eu estava na fila e a mulher me importunou. Eu expliquei a situação do Miguel, mostrei a carteirinha, virei para a frente novamente, e ela seguiu com as ofensas, isso está comprovado no vídeo”, conta Dayse.
Ela acrescenta que, durante a visita, foi orientada pelos funcionários a tentar "mudar o B.O", relatando que receberam assistência da franquia.
"Abrimos a nossa intimidade para eles, nosso lar, nosso lugar de paz, descanso. Eles vieram, brincaram com o Miguel, viram a nossa situação, mas estão preocupados com uma marca", queixa-se a mãe do menino.
"Atrito verbal"
Em nota enviada ao Estado de Minas nesta quinta-feira (1/9), a Polícia Civil informou que “a ocorrência foi atendida e registrada pela Polícia Militar, na data de 21 de agosto deste ano, em um shopping de Sete Lagoas. No local do fato, os policiais ouviram as declarações dos envolvidos e diante das versões apresentadas o fato foi qualificado como atrito verbal, que não é considerado conduta criminosa.”, diz o texto.
O EM também procurou o McDonald’s, que se manifestou sobre o caso. "A companhia não compactua com qualquer ato discriminatório e está à disposição das autoridades para cooperar com as investigações."
Já o shopping Sete Lagoas informou que "repudia qualquer forma de preconceito, vem acompanhando o caso e se coloca à disposição das autoridades competentes."
Direitos da pessoa autista
De acordo com o governo do Estado de Minas Gerais, a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea) é um documento que tem contato de emergência e informações do representante legal/cuidador da pessoa autista.
“A Ciptea é um instrumento que visa garantir a atenção integral, o pronto atendimento e a prioridade no atendimento e no acesso aos serviços públicos e privados, em especial nas áreas de saúde, educação e assistência social, mediante a apresentação do documento pelo cidadão.”