Membros da Academia Mineira de Letras, da Rua da Literatura, jornalistas, poetas, escritores, estudantes e populares realizaram um ato, na manhã deste sábado (10/9), para se opor ao vandalismo contra as estátuas de escritores em Belo Horizonte.
O ato aconteceu na Rua Pernambuco, Savassi, na Região Centro-Sul de BH, no local onde está instalada a estátua da escritora Henriqueta Lisboa (1901-1985), diante do prédio onde ela morou até sua morte.
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Rogério Faria Tavares, presidente da Academia Mineira de Letras, contou como surgiu a iniciativa do ato, destacando a necessidade de honrar a memória da escritora.
"A ideia partiu de coletivos ligados à literatura, Minas Pelo Livro, Literatura de Minas e, sobretudo, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, tendo à frente a jornalista Alessandra Melo, e esse movimento contou com o apoio imediato da Academia Mineira de Letras. Henriqueta Lisboa foi a primeira mulher a eleger-se para a Academia Mineira de Letras, em 1963, e cabe à Academia honrar e celebrar a memória daqueles que passaram pelos seus quadros."
Tavares citou a importância de Henriqueta Lisboa para a literatura mineira e brasileira e ressaltou que vandalismos como os que vêm ocorrendo não podem ser aceitos.
‘Henriqueta honrou não só a Academia Mineira de Letras, mas a cultura do nosso estado e do nosso Brasil. É uma poeta de grande importância para a literatura brasileira e cujo legado deve ser valorizado, respeitado, difundido e propagado, sobretudo para as novas gerações. Ela não pode ser esquecida e também não pode ter sua memória vilipendiada, agredida, atacada como aconteceu em Belo Horizonte.’
Homenagem merecida
Maria Lisboa, sobrinha de Henriqueta, foi uma das familiares da poetisa a participar do ato e demonstrou indignação com os atos de vandalismo, apesar de se dizer feliz com as homenagens feitas para sua tia.
"É uma homenagem muito justa. Tia Henriqueta foi uma pessoa muito importante, uma poetisa importantíssima, cheia de bondade, cheia de valores e realmente esse vandalismo foi muito cruel e dá muita tristeza e indignação. Ela merece essa homenagem e eu fico feliz de ver várias pessoas aqui, o presidente da academia, a presidente do sindicato, todas prestando essa homenagem a ela."
Problema social
Luciana Tanure, editora na Quixote+Do Editoras Associadas, criticou o desrespeito e os ataques feitos a vida de Henriqueta Lisboa.
"Mais importante do que a memória, é a vida cotidiana. Belo Horizonte está ficando uma cidade suja, muito violenta, tem muitas diferenças que não estão sendo respeitadas e, principalmente, no caso da Henriqueta, é um em desrespeito para com a obra dela, com a vida dela, a quem ela foi, é falta de conhecimento. Mais importante que a escultura em si, é preciso lembrar a obra da Henriqueta, a obra e a força literária e sensível. Isso para mim é um ataque a um território sensível. Um ataque a mulher que pensa, a pessoa que pensa."
Para Luciana, algumas das atitudes de vandalismo refletem o momento social que estamos vivendo, sendo este um problema de gestão pública.
"As pessoas estão fazendo isso porque elas estão pobres, fazem para vender. Olha o tanto de gente que está morando na rua. A sociedade como um todo é afetada por um agenciamento tão violento. A gente tem visto um poder público que não está dando conta mais de cuidar das pessoas."
PBH anuncia restauração
Na tarde de ontem, a PBH divulgou nota informando sobre o restauro das esculturas dos escritores mineiros. “Com prazo estimado de 120 dias, a Prefeitura de Belo Horizonte, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e da Fundação Municipal de Cultura, anuncia a restauração das estátuas públicas que homenageiam os grandes representantes da literatura mineira, Carlos Drummond de Andrade e Pedro Nava, Henriqueta Lisboa e Roberto Drummond. As esculturas foram confeccionadas em bronze e em tamanho real pelo artista Leo Santana, que acompanhará todo o processo de restauração.”
Segundo a secretária municipal de Cultura, Eliane Parreiras, os trâmites internos para que seja feita a recuperação das esculturas já estão em andamento. “Realizamos um grande empenho para que pudéssemos definir prazo e a total recuperação das esculturas. Avançamos internamente nos procedimentos burocráticos e definimos que todas as despesas serão pagas por meio de medida compensatória do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Belo Horizonte. Essa decisão vai garantir a completa e merecida restauração das obras, que reúnem parte da memória da nossa cultura literária.”
A nota oficial traz ainda uma declaração da presidente da Fundação Municipal de Cultura, Luciana Féres: “A depredação das obras nos causou muita tristeza, mas agora estamos otimistas com a proposta da completa recuperação desse acervo tão importante. As esculturas são obras de arte que estão expostas no espaço público, que é coletivo, e esse patrimônio cultural deve ser cuidado por todos. Esses elementos constituem a nossa memória e identidade, nosso patrimônio cultural que estava em deterioração e, agora, devolveremos à sociedade essa justa homenagem aos escritores que marcaram a história de nossa cidade”.
Após o fim das restaurações, adiantou Luciana Féres, será realizada uma campanha educativa sobre a importância dos monumentos e a responsabilidade de cada cidadão com os bens culturais.
Fraturas expostas
Na manhã da última quinta-feira (8/9), a equipe do Estado de Minas percorreu vários pontos de BH, nos quais há estátuas de mineiros de renome nacional. Outro exemplo lamentável, além de Henriqueta Lisboa, está na Praça do Encontro, na esquina das ruas Goiás e Bahia, no Centro. A poucos metros da sede da PBH, a estátua em tamanho natural de Carlos Drummond de Andrade está sem a mão direita e com parte dos óculos quebrada. Ao lado, está o médico e escritor Pedro Nava, também em tamanho natural, felizmente sem fraturas expostas.