Uma combinação de altas temperaturas e ação criminosa tem deixado um rastro de destruição de áreas verdes em Minas Gerais. Só na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), ao menos 151 incêndios em matas foram registrados pelo Corpo de Bombeiros nos últimos dois dias. No interior, no mesmo período, foram pelo menos 20 ocorrências.
Não bastassem todas as agressões sofridas ao longo de décadas, a Serra do Curral, cartão-postal e símbolo da capital, voltou a ser alvo de nova devastação ambiental – desta vez, um incêndio de grandes proporções, em áreas da cidade e da vizinha Nova Lima. As chamas começaram na tarde de sexta-feira, nas proximidades do Pico Belo Horizonte, e ameaçaram casas no entorno. Devido à gravidade do cenário, foi montado um posto de comando no local, com a atuação de 25 militares e duas aeronaves.
Na tarde de ontem, o fogo estava controlado no lado da metrópole, mas prosseguindo em Nova Lima. Lá, segundo os bombeiros, o terreno é mais inclinado, portanto, com mais dificuldades para debelar as chamas. Até o fim da tarde, não havia estimativa da área devastada.
Horror
Internautas que postaram vídeos se horrorizaram com as dimensões do incêndio. “Nunca vi algo assim na Serra do Curral”, escreveu um usuário. Outro comentou que “a destruição causa sensação de impotência diante das labaredas”.O fogo começou na Fazenda Ana da Cruz, terreno que a Taquaril Mineração S.A. (Tamisa) pretende explorar na região da Serra do Curral. Em nota, a empresa explicou que “se trata de incêndio criminoso causado por pessoas que acessam a área sem autorização. A empresa informa que tão logo tomou conhecimento do fato acionou o Corpo de Bombeiros. O local queimado se chama ‘Vale do Córrego da Fazenda’ e será uma área de preservação ambiental mantida pela Tamisa como previsto no seu projeto”.
Na manhã de ontem, os militares haviam conseguido evitar que o fogo chegasse perto de torres de transmissão, o que poderia afetar o fornecimento de energia elétrica na região. As grossas colunas de fumaça, saindo do topo da Serra do Curral, impressionaram moradores da capital que trafegavam por avenidas e ruas com boa visibilidade para o maciço, que é patrimônio mundial por integrar a Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço.
Ouro Preto
No interior, vários chamados para Ouro Preto, na Região Central, onde motociclistas são suspeitos de atear fogo em vários matagais nas zonas rurais da cidade e de São Bartolomeu, além de Cristal, distrito de Mariana.Apoio com mangueira de jardim
A tarde de ontem era de descanso para o mecânico José Eugênio Cristo, morador do Bairro Jardim Pirineus, na Região Leste de Belo Horizonte, até que acordou do merecido cochilo com o chamado do filho Rafael, de 7 anos. “Pai, está pegando fogo no mato!”, disse o menino.
De imediato, José Eugênio se levantou da cama, correu para fora da casa e viu as chamas se alastrando. Sem pânico, pegou a mangueira de jardim e começou a molhar a vegetação. Enquanto isso, chegavam à porta da casa integrantes da Guarda Municipal, que alertaram para a situação. “Por sorte, uma empresa, aqui perto de casa, tem caminhões-pipa e completou o serviço”, disse o mecânico, que mora no local com a esposa e os filhos Gabriel, de 12, e Rafael.
Os incêndios na região da Serra do Curral preocupam José Eugênio, de 56 anos, dono de uma oficina de automóveis no vizinho Bairro Paraíso. “Todo ano, com muito calor e tempo seco, é a mesma situação. Pega fogo, e sei que não é acidental.” Ele contou que, há três anos, viu um casal nas imediações da sua residência colocando fogo no mato. “Foi um perigo, pois as chamas alastraram.”
Partidário de que a comunidade é a melhor guardiã do seu patrimônio ambiental, como é a Serra do Curral, símbolo de BH, José Eugênio pede mais fiscalização por parte das autoridades e também consciência dos moradores para garantir a segurança da população. “Temos que fazer nossa parte, preservando a natureza”, disse.