Um levantamento de dados feito pelo movimento Nossa BH, possibilitou a produção de um mapa das desigualdades que analisa a região da Bacia do Cercadinho. As informações organizadas foram apresentadas na Secretaria Municipal de Meio Ambiente, na última quarta-feira (16/9), para um grupo de discussão composto por pessoas interessadas na preservação da região, contando com membros da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), da classe política e dos moradores.
Entre os dados apresentados, por exemplo, é possível constatar que a renda média dos moradores do Belvedere, um dos bairros nobres de Belo Horizonte, é dez vezes maior do que no bairro Havaí, mesmo ambos fazendo parte de um mesmo território (a Bacia do Cercadinho). Quando se dá um zoom em setores censitários - unidades menores de território - a diferença é ainda maior, um setor do Belvedere tem a renda 74 vezes maior do que um setor do Ventosa.
O mapa das desigualdades é uma ferramenta usada para discutir como as políticas públicas podem lidar com espaços desiguais, e com outras políticas que reforçam essas desigualdades. A ideia é entender como essas desigualdades existem em espaços específicos, como bairros e regiões, para depois pensar no combate.
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Diferenças entre raça e gênero
Além de expressar a desigualdade entre bairros nobres e bairros periféricos, uma das preocupações do Nossa BH é ampliar esse “zoom” do mapa em questões de raça e gênero. “A desigualdade tem cor e gênero, são pretos e mulheres que sofrem mais”, frisa Marcelo.
As diferenças de renda, por exemplo, são ainda mais chamativas quando se faz o recorte por gênero. Em um setor do Belvedere, homens têm uma renda média 3,8 vezes maior do que mulheres. Porém, até 33% dos domicílios estão sob responsabilidade de uma mulher no bairro nobre de Belo Horizonte. Já no Ventosa, a maior parte dos domicílios estão sob responsabilidade de mulheres, porém, é lá que mais da metade delas vivem com até um salário mínimo.
As diferenças de renda, por exemplo, são ainda mais chamativas quando se faz o recorte por gênero. Em um setor do Belvedere, homens têm uma renda média 3,8 vezes maior do que mulheres. Porém, até 33% dos domicílios estão sob responsabilidade de uma mulher no bairro nobre de Belo Horizonte. Já no Ventosa, a maior parte dos domicílios estão sob responsabilidade de mulheres, porém, é lá que mais da metade delas vivem com até um salário mínimo.
Quando olhamos para a raça é possível observar que boa parte dos bairros Havaí e Palmeiras, possuem a maior proporção de população negra, acima de 65%. Por outro lado, nenhum setor do Belvedere, Buritis e Estoril, possuem a população negra acima de 45%.
Mobilidade Urbana
Para o movimento Nossa BH, a mobilidade urbana apresenta ótimos indicadores de desigualdade. O mapa consegue mostrar, por exemplo, quais pontos de quais bairros possuem uma frequência de ônibus alta, média e baixa.
O grupo também detalha entre dias úteis, onde a população trabalha, e domingos e feriados, quando as pessoas dedicam mais tempo para o lazer e cultura. No Olhos D’ Água e no Marajó, por exemplo, 100% das paradas de ônibus são de baixa frequência, afastando esses moradores de momentos de descontração.
O grupo também detalha entre dias úteis, onde a população trabalha, e domingos e feriados, quando as pessoas dedicam mais tempo para o lazer e cultura. No Olhos D’ Água e no Marajó, por exemplo, 100% das paradas de ônibus são de baixa frequência, afastando esses moradores de momentos de descontração.
Ainda é possível resgatar a média do tempo mínimo de deslocamento em transporte público até o estabelecimento de saúde de alta complexidade mais próximo, em horário de pico. Nesse indicador o bairro Parque São José é o mais lento, com um tempo de 38 minutos, enquanto o Estoril é o mais rápido, com 23 minutos.
“Vemos o quanto a mobilidade reforça a exclusão. O processo de ocupação da cidade é um processo que vai excluindo as pessoas, vai confinando e segregando por diversos motivos”, comenta Marcelo Amaral.
Questões ambientais
O mapa da desigualdades da região do Cercadinho não aborda questões ambientais do local que é atravessado por um córrego que nasce em bairros nobres e deságua em regiões mais periféricas, no entanto, essa é uma das demandas dos moradores da região. “O meio ambiente é uma questão de direito, que é tratada diferente conforme a área ocupada”, explica Carla Magna, coordenadora e ambientalista do Cercadinho e Ponte Queimada Córregos Vivos
Apesar de não existirem dados concretos sobre o tratamento ambiental em áreas específicas, como é o caso da Bacia do Cercadinho, a população consegue fazer suas próprias observações e tirar conclusões disso. Carla nota que, por exemplo, a poda das árvores é diferente entre as áreas nobres e periféricas, onde o processo é mais agressivo.
Apesar de não existirem dados concretos sobre o tratamento ambiental em áreas específicas, como é o caso da Bacia do Cercadinho, a população consegue fazer suas próprias observações e tirar conclusões disso. Carla nota que, por exemplo, a poda das árvores é diferente entre as áreas nobres e periféricas, onde o processo é mais agressivo.
A reunião da última quarta-feira (16/9), além de apresentar o mapa, também foi usada para a para a discussão das questões ambientais do córrego. Representantes da prefeitura estiveram presentes no local, e a PBH reforçou que estudos e projetos sobre o córrego do cercadinho estão em andamento. Os moradores também estão se organizando para a criação de grupos de estudo que envolvam universidades e a comunidades, para fazer os devidos levantamentos.
*Estagiário sob supervisão do subeditor Diogo Finelli