Belo Horizonte tem 352 áreas verdes adotadas, dentro do projeto Adoro BH, que tem o objetivo de promover a requalificação urbana, paisagística, ambiental e desenvolver melhores formas de ocupação desses espaços. Entre as regiões que têm mais áreas adotadas estão a Pampulha, Oeste e Centro-Sul, com 101, 82 e 73, respectivamente. Já as regiões com baixa adesão estão a Leste, com três locais, e a Norte, com seis.
Antes da institucionalização da iniciativa, as áreas verdes da capital mineira eram adotadas pelo programa Adote Verde. Porém, com o Decreto Municipal 17789/2021, o Adoro BH foi estabelecido e conseguiu ampliar os locais públicos passíveis de adoção, como rotatórias, ciclovias, canteiros centrais e baixios de viadutos.
A ação é uma parceria entre a sociedade civil e a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). Pessoas físicas e jurídicas, escolas, condomínios, associações de bairros, indústrias, ONGs e órgão públicos, por meio de um Termo de Cooperação, podem celebrar a adoção e auxiliar na valorização dos aparelhos municipais.
“O projeto possibilita vários impactos positivos na cidade, como a revitalização, o bem-estar de moradores do entorno, lazer, cultura, melhoria na qualidade de vida. Além disso, influencia na saúde mental, pois as pessoas podem sair de casa com a sua família e seu animal de estimação. Os espaços são propícios para isso”, disse Kênia Costa, gerente do Adoro BH.
Ação de cidadania e gentileza urbana
Entre as 352 áreas adotadas em Belo Horizonte, está a Praça Amadeo Lorenzato, no Bairro Pilar, na Região do Barreiro. O local, antes adotado por Alex Rodrigues, pessoa física, agora é de responsabilidade da Dynamis Social (OSC), que tem como coordenadores o casal Franciola Campos e Claudius Tenório Pereira.
“No início, a associação de moradores pediu para conseguir um adotante para a praça, pois a Vale iria financiar uma reforma. Foi um pouco difícil achar alguém para assumir a responsabilidade, até que o Alex aceitou. Recentemente, a minha esposa, que é gerente de projetos, conseguiu ter um projeto na Lei de Incentivo ao Esporte aprovada, o que possibilitou a construção de uma quadra de tênis na praça. Com isso, o adotante perguntou se queríamos assumir e topamos”, explicou Claudius, professor de tênis.
Para o casal, a ação é uma forma de mobilizar a sociedade civil a colaborar com a manutenção da praça, que, antes, apesar de muito grande, quase não era frequentada. “O governo, para atuar, necessita de muita burocracia e são necessários vários procedimentos. Nós, que somos privados, como temos a finalidade social, temos poucos recursos e mais liberdade. A comunidade se juntou e implementamos melhorias, pintamos, reformamos e oferecemos várias atividades”, contou Franciola.
Orozana de Fátima Prates, em 2018, também tomou a iniciativa de adotar a Praça Dr. Carlos Marques, localizada no Bairro Calafate, na Região Oeste. “É uma questão de cidadania, pois acredito que as praças são importantes para a cidade. Afinal, é um local de encontro social, refúgio para a vida silvestre, conserva as áreas verdes, torna o local mais seguro e agradável”, disse.
Assim como na praça coordenada por Cláudius e Franciola, a mulher conta que a participação dos moradores do entorno é fundamental para manter o espaço. “Embora eu seja a adotante oficial, somos uma rede de voluntários, um ajudando o outro. Todos se tornam conscientes que é importante o ambiente estar agradável, já que a comunidade desfruta do espaço. É um trabalho muito gratificante, você vê que todos os moradores prezam, cuidam e se sentem gratos.”
Mateus Carvalho, representante da empresa Galícia Empreendimentos, responsável pelo imóvel onde está instalado o Topázio Mall, no Bairro Castelo, região da Pampulha, também acredita que a revitalização das áreas verdes contribui na comunidade. Responsável pela Praça dos Agricultores, em frente ao empreendimento da corporação, o local, que antes era abandonado, aos fins de semana, enche de moradores da região.
“A praça tinha muito mato e formigueiros, ninguém estava usando. Então, resolvemos introduzir melhorias no local, para também melhorar o empreendimento. A decisão foi completamente nossa, a PBH não estabeleceu essa condição para instalar o prédio. Mas, queríamos fazer alguma ação para a comunidade e o município”, explicou.
Para Mateus, é necessário que mais pessoas se interessem em adotar, sobretudo empresas, pois têm mais recursos financeiros para investir. “Vários espaços em BH estão sucateados. Penso que todos precisa, na medida do possível, fazer a sua parte, principalmente o empresariado, que tem como investir. Isso não é bom só para a comunidade do entorno, mas para a própria empresa. Afinal, não tem como a prefeitura cuidar desses locais sozinha”, disse.
Espaço de cultura e lazer
Todas as praças citadas fazem parte do projeto BH Mais Feliz, que promove, no terceiro domingo de cadas mês, atividades ligadas à cultura, saúde e lazer, em parceria com a PBH. No último domingo (18/9), o programa promoveu a vacinação de Poliomelite (POV) e a plantação coletiva de flores e árvores.
Além das ações do BH Mais Feliz, segundo Franciola, a Praça Amadeo Lorenzzato tem quatro projetos em andamento. Dentre eles estão uma feira de artesanato e culinária, licenciada pela prefeitura, aulas de Tênis, oferecidas por vários professores, incluindo Claudius, rodas de conversa acompanhadas por um psicologo e aulas de música com instrumentos variados, para formar uma banda sinfônica no bairro.
“Conseguimos avançar muito, porque estamos dentro da comunidade, temos pessoas que são especialistas e formados oferecendo aulas variadas. Promovemos esporte, lazer, cultura e educação. Com isso, acredito que os moradores da região também começaram a cuidar dela”, disse.
Ações culturais e de lazer também ocorrem na Praça Dr. Carlos Marques. Orozana afirma que, além de festividades típicas, como festa junina, e festa do Dia das Crianças, encontros de talentos, aos sábados, são promovidas aulas de capoeira e, às quintas-feiras, feiras de legumes. Antes da pandemia de COVID-19, durante toda a semana havia programação de atividades, como aulas de ioga e prática corporal chinesa.
“Estamos voltando com a programação gradualmente. Tínhamos, com mais frequência, a Base Comunitária Móvel da Polícia Militar, que promovia uma interatividade com as crianças, por meio de palestras educativas. Toda quinta-feira, há também uma feira de legumes e verduras isentas de agrotóxicos, licenciada pela PBH. Enfim, todos podem participar das atividades. A festa junina, por exemplo, chega reunir mil pessoas, já que o espaço é muito grande”, comentou.
Já na Praça dos Agricultores, são feitos shows de taletos, onde moradores podem se apresentar, e espetáculos de balé. “Além disso, tem as atividades do BH Mais Feliz. São várias atividades promovidas no espaço, muitas pessoas caminham, fazem exercício nos equipamentos, crianças brincam no playground. Estamos nos mobilizando para promover mais ações culturais, mas para isso mais pessoas precisam se comprometer”, conta Mateus.
Como adotar?
De acordo com Kênia, os interessados em adotar devem se dirigir às regionais e apresentar uma documentação. “O processo inicia na regional, para verificar a disponibilização e fazer a ratificação da adoção. Depois disso, ele é encaminhado à gerência do Adoro BH, que será responsável por efetuar todas as validações necessárias para a concretização”, explicou.
A gerente do programa conta que existem vários perfis de adoção, sendo que em alguns locais a PBH busca adotantes, enquanto em outros pessoas se manifestam voluntariamente. “Há vários espaços, especialmente praças, que estão sendo reformadas pela prefeitura. Com isso, temos uma busca ativa de adotantes para auxiliar na manutenção e cuidado do espaço público. Também tem outras propostas de adoção que a pessoa ou empreendedor propõe ao município a reforma e conservação do local.”
Neste último caso, segundo ela, a PBH envia os técnicos, arquitetos e engenheiros para fazer um balizamento da reforma e o processo avançar. Por isso, as frentes de adoção são diversas, já que depende do perfil do adotante, do espaço e de cada território. “Há ações menores, médias e maiores, isso pode variar. Porém, todas tem a mesma importância para o município”, afirmou.
A maior dificuldade, conforme os adotantes, sem dúvidas, é arcar com recursos financeiros e encontrar pessoas e empresas dispostas a ajudar. “Todo somos responsáveis por um mundo melhor e se cada pessoa ajuda um pouquinho, conseguimos o total. Em países de primeiro mundo, as praças públicas são idolatradas. BH tem muitos espaços verdes e esse exemplo tem que ser seguido por outras pessoas, associações ou empresas. Assim, eles poderão fazer o que fazemos aqui ou até melhor, por causa de recursos financeiros”, ressaltou Claudius.
Mais informações sobre espaços disponíveis, documentação e licitações podem ser acessadas no site da PBH.