O etilenoglicol, encontrado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em produtos de uma fábrica de macarrão em São Paulo, é uma substância altamente tóxica e seu consumo pode levar a óbito. O professor de toxicologia da Una, Pablo Alves Marinho, explica como ele atua no corpo humano e o que fazer em caso de suspeitas de contaminação.
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Outras fabricantes também podem ter usado o lote com a substância tóxica.
Intoxicação
Segundo o professor Pablo Alves Marinho, a intoxicação com o etilenoglicol é de alto risco e ocorre em três fases.
Nas primeiras 12 horas, a substância impacta o sistema nervoso da pessoa intoxicada. O quadro clínico nesse primeiro momento é de cansaço, desorientação e pode até mesmo causar convulsões.
Entre 12 e 24 horas após a ingestão, começam os efeitos no coração e pulmões. O paciente pode apresentar arritmias cardíacas, alterações na pressão arterial e problemas pulmonares.
É a partir das 24 horas após consumir a substância tóxica que ela atinge o sistema renal. “Esses efeitos são provocados principalmente pelos metabólicos do etilenoglicol, substâncias que são formadas no corpo e vão gerar danos nos rins. Em especial, o oxalato de cálcio, que se acumula nos rins e bloqueia o processo de filtragem do sangue. Isso pode provocar falência renal.”
Segundo o toxicologista, esses efeitos podem culminar em uma intoxicação muito severa e levar à morte. “Tudo depende da dose que a pessoa ingerir, da concentração do etilenoglicol no produto e da quantidade que a pessoa ingeriu do produto contaminado”, reforçou o professor.
Se a dose for baixa, é possível que a pessoa que ingeriu a substância não apresente sintomas.
Nesse nível vai grave, o paciente pode até ter que ser levado a fazer hemodiálise, segundo o médico Bruno Sander. "A ingestão da substância em pequenas doses pode causar um estágio de euforia, sonolência, fala arrastada e estado de prostração", explicou.
Em altas doses de etilenoglicol, o paciente pode ir ao coma e gerar depressão no sistema nervoso central, crises convulsivas e paralisia de nervo facial. "São efeitos graves e potencialmente fatais, que podem gerar sequelas permanentes", continuou Bruno.
Os efeitos no sistema cardiovascular envolvem possível tarquicadia, que deixa o coração acelerado e aumento da pressão arterial. "Pode, ainda, deixar o paciente ofegante, e resultar em falha cardíaca congestiva, que pode levar à depressão miocárdica. Em alguns casos, isso provoce até paradas cardíacas", informou Bruno Sander.
Sequelas
As consequências de ingestão dessa substância podem ser de longo e médio prazo. Entre as sequelas conhecidas estão danos no sistema nervoso central, causando dificuldade de movimento e fala. As mais comuns são associadas aos danos renais, com complicações graves nos rins e no fígado, de lenta recuperação.
“Temos o caso da cerveja Belorizontina. Pacientes até hoje estão em tratamento por causa da intoxicação com essa substância. Isso depende também da própria pessoa, da idade – sabemos que crianças e idosos são mais sensíveis –, se já existia alguma doença renal, entre outros”, lembrou o professor.
Segundo o gastroenterologista Bruno Sander, existem riscos de sequelas permanentes e até mesmo de morte. "O paciente precisa procurar ajuda médica especializada o quanto antes", disse o médico.
Suspeita
A primeira coisa a se fazer em casos de suspeita de intoxicação alimentar é se dirigir o mais rápido possível a um hospital. Existem hospitais de referência no atendimento desses casos, como o João XXIII, em Belo Horizonte.
O hospital conta com um atendimento especial por telefone para dar orientações em casos de intoxicação, com especialistas. O atendimento é 24 horas pelos telefones 0800 722 6001, (31) 3224-4000 e (31) 3239-9308.
Em casos de dúvidas sobre produtos já comprados, o consumidor pode fazer contato com o fabricante. Informando o lote, é possível verificar no serviço de atendimento ao consumidor se existe algum problema com o produto, ou não. Esse contato também pode ser feito diretamente com a Anvisa, informando a marca, data de fabricação e afins.