“Uma velha trezentona com ares de juventude.” Assim a região de Belo Horizonte mais antiga que a própria cidade é retratada no poema “O que é Venda Nova”, da professora Agripina Marta da Cunha. A região completou 311 anos em 13 de junho, e é também uma das mais populosas da capital mineira, com 262.183 habitantes, conforme dados estatísticos da prefeitura. Para auxiliar no equilíbrio do clima e ajudar toda essa gente a respirar, há quatro unidades de conservação municipais abertas ao público, entre eles o Parque Alexander Brandt, implantado em 1996, e o Parque José Lopes dos Reis, aberto em 2008.
Fruto do Programa Parque Preservado, o Alexander Brandt, no Bairro Rio Branco, conta com área aproximada de 12.500 metros quadrados, com importante valor ambiental por apresentar 80% do espaço com cobertura vegetal nativa. Em meio a trilhas de terra, com árvores de grande porte misturadas a cipós e vegetação rasteira, podem ser observados exemplares de espécies como jacarandá-da-bahia, vinhático, pau-d’óleo e açoita-cavalo, além de cactáceas, bromélias e samambaias. Por entre essas folhagens se abrigam aves, como bem-te-vis, sanhaços, almas-de-gato, sabiás, pica-paus e saíras, assim como pequenos mamíferos, entre eles gambás e micos-estrela.
Vizinha privilegiada, por ter um quintal formado por um parque nativo, a modelista Alessandra Alves Ribeiro, de 42 anos, lembra que, se a área hoje é bonita, já foi bem mais ampla. “Era parte de uma fazenda, passamos a infância inteira brincando nessa área. Tinha uns balanços que nossos pais faziam. Depois de um tempo foi transformado em parque. Foi reformado e agora está esta beleza aqui”, descreve, com emoção, apontado o espaço verde.
Entre os prazeres que a área de conservação proporciona, Alessandra alimenta um tucano que frequenta diariamente sua área de cozinha, além de micos e periquitos. “Nossas crianças têm hoje pouco contato com animais. Mas aqui, todas as tardes vários casais de tucanos se abrigam na árvore bem em frente.”
A maior queixa da moradora é quanto à restrição de acesso nos fins de semana, quando o parque está fechado. “Domingo não abre, até por questão de segurança. Acho compreensível, por não ter vigilante e pelo risco de vandalismo”, diz ela, que sugere a adoção de vigilância também no fim de semana. “No domingo é quando a gente tem tempo de ficar em casa, e o parque na porta de casa está fechado. Outra coisa é acessibilidade. Poderia haver um programa de transporte aos parques da cidade”, considera.
Fora isso, a frequentadora é só elogios à unidade. “O lugar está muito bem cuidado, lá não tem asfalto, só terra pura mesmo e muita árvore, o que eu adoro. Tem as trilhas, muitas plantas, amo isso, diferente de outros parques muito modernos, com asfalto ou calçamento. Minha menina de 5 anos estuda na escola ao lado e ama. Ela chega em casa exausta, toda suja de terra e muito feliz com a oportunidade de brincar junto à natureza”, conta.
O monitor recreativo Edson Pereira do Nascimento, de 33 anos, morador no vizinho Bairro Santa Mônica, conhece a área há mais de 20 anos. Ele dá aulas na Escola Municipal Professor Tabajara Pedroso, de educação infantil, que divide limites com a área verde e acaba fazendo dela parte da área de lazer. “Trago os meninos no horário de recreação. Usamos muito o espaço”, conta ele, dizendo que o espaço, que já teve apenas um escorregador de madeira, passou por reforma e hoje tem vários brinquedos.
“A meninada adora, agora estou com alunos do 1º ano, mas temos até o 5º ano da educação infantil. Eles se divertem com brinquedos, a mata... Professores da escola de outros conteúdos de saberes também dão aulas na mata”, acrescenta Edson. “Ciências, por exemplo: aqui tem animais, macaquinhos, gambás, esquilos, gatos, e a criançada gosta muito.”
Reserva plantada em área de risco
O Programa de Recuperação Ambiental de Belo Horizonte, batizado de Drenurbs/Nascentes, fez brotar na capital uma área de 14 mil metros quadrados destinada à preservação de nascentes e margens do Córrego Baleares. O Parque José Lopes dos Reis, mais conhecido pelo nome do curso d'água que ajuda a proteger, ganhou na época 6 mil árvores ao longo da Avenida Baleares. Além da canalização de parte do leito, drenagem e contenção de encostas, uma rede pluvial foi construída para captar a água da chuva e interceptar o esgoto das casas, evitando contaminação.
O parque está inserido na macrobacia do Isidoro e na Bacia do Vilarinho. Com área de mais de 15 mil metros quadrados, oferece brinquedos e equipamentos de ginástica apesar e pistas de caminhada, que são pouco utilizados. O espaço acaba sendo mais usado para travessia e acesso à avenida Vilarinho, além de acesso a vários bairros que cercam a unidade, para os quais há vários portões.
O gerente de Parques de Venda Nova e região Norte, Fábio Silveira da Cruz, de 41 anos, conta que o espaço foi aberto ao público em 2008, após investimento financiados pelo Banco Mundial no programa Denurbs. Antes o local era ocupado por casebres construídos ao longo do córrego que corta toda a unidade de conservação.
Em terreno bem acidentado, é um parque ciliar, que abriga as nascentes de toda a região de Venda Nova, segundo o gerente Fábio Cruz, captando ainda águas pluviais dos bairros Cenáculo, Europa e parte do Serra Verde, que deságuam no Vilarinho. “As nascentes se encontram no topo da montanha e vêm descendo, passando por vários anexos que compõem o parque”, explica.
Os tempos em que era área ocupada moradias precárias é lembrado pelo porteiro Leandro Coimbra Duarte, de 39, morador no Jardim Europa, onde nasceu. “Antes não era parque, tinha umas casinhas que foram desapropriadas pela prefeitura, e depois o terreno foi recuperado. Acho muito legal, venho às vezes com meu filho, Riquelme, de 12 anos, que estuda na região.”
Frequentador assíduo, Auremar Luciano Siqueiro Frias, de 28, artista, que nasceu no bairro, recorda quando o lugar ainda era área de risco para os vizinhos. “Aqui é uma área boa, mas pouco frequentada. Viajo muito, mas sempre que estou por perto venho curtir a tranquilidade no parque. É minha rota para chegar à Avenida Vilarinho, sem barulho, sem gente”, relata.
A pouca frequência também é observada pelo jardineiro de parques Leandro Bueno dos Santos, de 26 anos. “Não conhecia o parque, é meu primeiro trabalho aqui. É bem tranquilo, um parque pequeno, mas tem coisas o dia inteiro para fazer nos jardins. É uma área boa, com nascentes, minas d'água, por isso o plantio pega fácil. Só não vejo muitas pessoas passando por aqui. Talvez falte um pouco mais de divulgação e informação aos moradores”, considera.