O laudo pericial da Polícia Civil concluiu que o petisco consumido pela cadela Mallu, que morreu em Belo Horizonte no dia 6 de setembro, estava contaminado com monoetilenoglicol. A ração Every Day, da Bassar Pet Food, foi recolhida pela corporação no dia 1º de setembro, quando a pet ainda estava internada por complicações renais.
No documento os peritos apontam que a embalagem do petisco já estava aberta, pertencia ao lote 3641, foi fabricado em abril deste ano e venceria em outubro de 2023. Entre os componentes está o propilenoglicol, substância que, conforme o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), estaria contaminada com o monoetilenoglicol, químico tóxico a humanos e animais.
A tutora de Mallu, a analista financeira Amanda Carmo, já suspeitava que a cachorrinha tinha se intoxicado pelo produto. A Shih-tzu faz parte dos mais de 100 cães que tiveram complicações renais após consumirem petiscos da mesma empresa.
Mallu ficou internada por 15 dias em uma clínica no bairro Prado, na região Centro-sul da capital mineira. Ela comeu o petisco contaminado no dia 21 de agosto, um dia antes de ser encaminhada para o atendimento veterinário.
“Nós começamos a dar o petisco no dia 5 de agosto, mas sempre em pequenas quantidade. No dia 21 nós demos uma porção maior e logo em seguida ela já começou a apresentar sintomas. Ela chegou a beber duas vasilhas de água, e fazia muito xixi. Por fim, os rins, fígado e pâncreas dela ficaram totalmente comprometidos”, relata a tutora.
Assim como os demais cães supostamente intoxicados, Mallu teve vômitos, diarreia e convulsões. Segundo o veterinário e coordenador do serviço de urgência e terapia intensiva do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Minas Gerais, Eutálio Luiz Mariani Pimenta, a evolução dos sintomas pela intoxicação por monoetilenoglicol é rápida e em até 36h pode haver complicações severas que levem à morte do animal.
Conforme a tutora Amanda, o quadro clínico da cadela era severo. Ela teve que passar por duas transfusões de sangue e hemodiálise, mas acabou não resistindo. “Agora, nós vamos levar o corpo dela para passar pela necropsia, na UFMG, para confirmar a causa da morte. Além disso, os petiscos já foram entregues à Polícia Civil também para serem periciados”, afirma.
Monoetilenoglicol
Ainda conforme o laudo da Polícia Civil, o monoetilenoglicol é um químico usado como anticongelante automotivo e, quando inalado, pode causar irritação do aparelho respiratório. Já quando ingerido, pode provocar náuseas, vômito, dor abdominal, fraqueza, sensibilidade muscular, insuficiência respiratória, convulsão e colapso pulmonar até uma acidose metabólica grave. “Se não for feito tratamento, a morte pode ocorrer dentro de 08 a 24 horas", observou o perito responsável pelo laudo.
Investigações
Desde o dia 2 de setembro a Polícia Civil de Minas vem atuando com a corporação de São Paulo nas investigações sobre os petiscos contaminados com monoetilenoglicol. Pouco tempo depois, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) indicou que os lotes de propilenoglicol, vendidos pela empresa mineira Tecno Clean Industrial Ltda à Bassar estão contaminados com o químico tóxico.
A Tecno Clean afirmou que a contaminação não aconteceu em suas dependências e que apenas revendia o produto adquirido da importadora A & D Química, de Arujá-SP. Já o grupo paulista afirma que seu cliente (Tecno Clean) teria comprado propilenoglicol destinado “exclusivamente” à fabricação de itens para higiene e limpeza, para serem revendidos como o químico usado na indústria alimentícia.
Ao Estado de Minas, o delegado titular da Delegacia de Investigações Sobre Infrações Contra o Meio Ambiente da Polícia Civil de São Paulo, Vilson Genestretti, relatou que já ouviu os representantes da Bassar e da A & D. De acordo com ele, os representantes da importadora e revendedora do propilenoglicol forneceram elementos “que vão facilitar as investigações”, mas que todos os documentos e produtos ainda serão periciados.
Em relação à denúncia de fraude de laudos técnicos e rótulos de galões de propilenoglicol, feita pela empresa de Arujá, o responsável pelas investigações se limitou a dizer que as apurações ainda estão em curso. Conforme Genestretti, os representantes e a gerente de compras da fabricante mineira ainda serão ouvidos.
“Eu ouvi o administrador e a dona da A&D. Eles forneceram elementos, prestaram informações que foram colocadas nos autos. Eles informaram que venderam o produto para uso de higiene e limpeza, forneceram as notas fiscais de venda, e afirmaram que não vendem o propilenoglicol grau USP [permitido na indústria de alimentos]. Mas, tudo isso, não quer dizer que a Tecno Clean vendeu a mercadoria fornecida pela A&D. Isso, nós saberemos após ouvir a empresa e os laudos periciais”, afirmou o delegado da Polícia Civil de São Paulo.