A dois dias do fim da campanha nacional de vacinação contra a poliomielite, apenas uma região de saúde de Minas Gerais apresenta desempenho satifatório no índice de imunização contra a doença contagiosa, que pode causar paralisia. Patos de Minas e 20 cidades do entorno, no Alto Paranaíba, formam o único grupo a alcançar a meta de proteção estipulada pelo Ministério da Saúde. Das 21.337 crianças do público-alvo, 95% receberam doses antipólio até essa quarta-feira (28/9). O índice, que supera a cobertura geral do estado e de áreas prósperas como a de Belo Horizonte e Juiz de Fora (veja no quadro os dados mais recentes disponibilizados pelo Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações), só foi alcançado graças a plano de ação que incluiu diversas reuniões e mobilização com montagem de parques e Rua do Lazer.
Patos de Minas é uma das 28 unidades regionais de saúde (URS) de Minas, que recebem o nome das respectivas cidades de referência. Por exemplo, a URS de Belo Horizonte tem a capital como referência, mas engloba municípios como Betim, Contagem e Nova Lima.
De acordo com Noemi Portilho, superintendente da regional de saúde de Patos, o sucesso da campanha se deu por estratégia desenvolvida com todas as prefeituras e áreas técnicas. “Desde a pandemia, reparamos que as coberturas vacinais das regionais de saúde estavam diminuindo. Ficamos preocupados, porque nunca houve resistência de adesão às campanhas, mas agora isso está frequente. Então, as referências técnicas da superintendência, de imunização e de atenção primária se juntaram para elaborar um plano de trabalho que conseguisse alcançar boas coberturas em todas as vacinas de rotina e campanhas”, explica.
Na outra ponta do ranking de imunização, a URS de Juiz de Fora teve apenas 52,15% de adesão à campanha, sendo a região com menor cobertura em Minas Gerais, segundo a base de dados do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações, atualizada no último dia 26. De acordo com a mesma base, na URS de Belo Horizonte – que inclui outros 38 municípios –, a cobertura vacinal é de 55,78%, enquanto o estado contabilizou 64,92% de adesões à campanha até o início desta semana.
O plano de ação montado em Patos de Minas é dividido em três fases, informam os responsáveis pela URS. Na primeira, houve reunião com representante de todos os municípios, para apontar como estavam as coberturas de cada vacina. Em seguida, foram realizados encontros virtuais com equipes técnicas de cada cidade. “Perguntamos a eles quais eram os problemas que justificavam aquela condição de baixa cobertura”, diz a superintendente Noemi Portilho.
Por último, ocorreu a capacitação presencial dos profissionais de saúde (enfermeiros e técnicos de enfermagem), em alguns municípios de referência. “Os maiores abrigavam outros. Reunimos de cinco em cinco municípios e fizemos uma capacitação, destacando a importância da imunização, quais as consequências da não vacinação e estratégias de mobilização social, além de reforçar o lançamento de dados no sistema de informação”, explica.
ANTECIPAÇÃO O planejamento deu tão certo, que a URS de Patos alcançou a meta de cobertura antes de a campanha nacional se encerrar, o que ocorre nesta sexta-feira (30/9). Algumas cidades, como Carmo do Paranaíba, alcançaram os 95% na metade do mês de setembro. Entre as mobilizações que mais estimularam os pais a levar os filhos para vacinar estiveramas ruas de lazer, montagem de parque de diversões nas cidades e carreatas.
“Fizemos carreata e um parque de diversões na praça principal do município. Os pais que levassem o filho para se vacinar ganhavam um tíquete de entrada para o parque. No local desses brinquedos, também deixamos uma equipe de enfermagem com algumas doses”, conta Talita Gontijo, secretária de Saúde de Carmo do Paranaíba, cidade integrante da URS de Patos de Minas.
A campanha nacional contra a pólio foi a primeira experiência do plano montado pela superintendência. A resposta positiva deixou animados os participantes. “Vimos essa reação muito satisfatória, mas é importante frisar que tudo só é possível quando envolve todas as pessoas, desde o nascer da ideia. Chamamos os municípios, os técnicos, todos. A chave de efetivação do plano é a estratégia de envolvimento”, conclui Noemi Portilho.
O perigo de reduzir as defesas contra a doença
A poliomielite, também chamada de pólio ou paralisia infantil, é uma doença infectocontagiosa aguda causada pelo poliovírus, que pode infectar crianças e adultos por meio do contato direto com fezes ou com secreções eliminadas pelas pessoas doentes, podendo provocar ou não paralisia. Não há cura, por isso, é necessário administrar a vacina diversas vezes, para manter a defesa no organismo humano.
A vacina é a única forma de prevenção da doença, por isso, é administrada em dois formatos no Brasil: injetável e em gotas. Aos 2, 4 e 6 meses de idade, a primeira dose com vacina inativada é injetável. Aos 15 meses há o primeiro reforço com a vacina oral (duas gotinhas). Aos 4 anos, o segundo reforço, também em gotas.
A coordenadora estadual do Programa de Imunizações, Josianne Dias Gusmão, destacou em entrevista ao Estado de Minas a principal dificuldade de captar mais famílias para a campanha. “A falsa impressão de que a pólio não vai voltar dificulta o avanço da campanha. O último caso no país foi em 1989, mas não quer dizer que nunca irá voltar. Por isso, devemos manter as taxas vacinais altas. Existem casos em outros países e, com a facilidade de viagens e imigração atuais. É perigoso pegar em um outro local e trazer para o Brasil”, disse.