Jornal Estado de Minas

SAÚDE

Casos de varíola dos macacos crescem 66,8% em Minas


A demanda por testes de varíola dos macacos em Minas Gerais desacelerou no último mês. Por outro lado, o número de diagnósticos positivos já é 66,8% maior do que o verificado em balanço divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) em 5 de setembro. Desde aquela aquela data, 206 novos casos confirmados da doença foram adicionados às estatísticas, de acordo com o boletim publicado ontem, que registra um total de 514 diagnósticos positivo. Outras 314 notificações ainda estão em investigação. Uma pessoa morreu em decorrência da doença em Minas Gerais,em 29 de julho. O país teve três mortes confirmadas. Especialistas veem na vacina uma esperança para frear o contágio da doença e evitar mais óbitos.




 
Segundo informações obtidas pelo Gerenciador de Ambiente Laboratorial (GAL), desde o início da testagem para diagnóstico de monkeypox, realizada pela Fundação Ezequiel Dias (Funed) no estado, foram liberados 2.724 testes. Destes, mais de 900 foram feitos em setembro. Os registros, que podem conter mais de uma amostra para cada indivíduo, representam uma redução de quase 20% em relação ao volume de agosto, quando foram realizados 1.161 testes, contra 81 em junho e 492 em julho. Apesar da desaceleração dos exames setembro,  um aumento da positividade explicaria a forte elevação de casos confirmados nos últimos 30 dias.
 
Do total de confirmações no estado desde o primeiro caso, 280 foram na capital mineira, conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, divulgados na semana passada. Outros 171 casos suspeitos em BH ainda estão em investigação. Pessoas entre 18 e 39 anos são os mais afetados pelo vírus. Em BH, foram 226 casos confirmados nessa faixa etária. Destes, 99,55% são homens. A faixa etária de 40 a 59 anos também chama atenção, com 50 registros da doença, em sua maioria, de homens. Do total de confirmações no estado, apenas 0,7% são em mulheres.
 
Embora o índice de letalidade seja baixo, a doença oferece risco de agravamento, principalmente para pessoas imunossuprimidas, transplantados, com doenças autoimunes, gestantes, lactantes e crianças com menos de 8 anos, além de pacientes em tratamento de câncer. Foi o que aconteceu com um homem de 41 anos, morador de Belo Horizonte, que morreu após ter um choque séptico, agravado pela varíola dos macacos. Ele fazia tratamento contra câncer e foi a primeira vítima da doença no país.  Nesta semana, foi confirmada a terceira morte pela doença no Brasil. O homem, de 31 anos, estava internado no Rio de Janeiro havia mais de um mês e também teve o quadro agravado por outras doenças. O paciente foi tratado com o medicamento experimental tecovirimat, desenvolvido para o tratamento de diversos tipos de varíola.





O número de laboratórios privados no estado que estão realizando testagem para o vírus da varíola dos macacos ainda é limitado. O laboratório Hermes Pardini, por exemplo, não registrou aumento na procura por testes. Os dados apontam para uma desaceleração da doença. Em agosto, a taxa de positividade na unidade chamava atenção, com 33% de aumento em apenas duas semanas. A instituição esclarece que o preço do exame permanece o mesmo (R$ 420), desde que o laboratório passou a disponibilizar o teste. Já o laboratório Lustosa informou que está se adaptando para oferecer o exame, por isso não tem dados sobre demanda.

VACINA
 
Para o professor e infectologista Unaí Tupinambás, apesar da desaceleração da procura por testes, é necessário agilizar o processo de vacinação contra a doença. As vacinas para a varíola humana – já erradicada – são eficazes para combater o surto da doença. Em agosto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deu aval para importação, em caráter emergencial, de vacina contra a doença. Porém, ainda não há previsão quanto a uma campanha de imunização em massa. “Apesar de ser pouco letal, a varíola dos macacos já culminou em um óbito em BH. Isso merece atenção das autoridades de saúde", avalia Unaí.
 
O médico considera que a imunização pode ocorrer, como foi feito com a COVID-19, por grupos. “Estamos em uma situação crítica. É preciso entender quem são as pessoas do grupo de risco e espero que o governo tenha agilidade, inclusive nos testes PCR, que são essenciais para saber se a pessoa está com a doença e frear o contágio", disse o especialista. Ele acrescenta a importância de orientar a população. “Pessoas que não sabem que estão com a doença podem se deslocar normalmente e, assim, contaminar outras pessoas. É preciso reforçar as campanhas de educação, conscientizar a população”, argumenta.





SINTOMAS
 
Reconhecer os sintomas é um passo importante para que a pessoa busque atendimento médico e evite transmitir o vírus para outras pessoas. "As pessoas precisam ter consciência sobre essa situação. A doença é transmitida por contato mais próximo. Então o que tem se orientado neste momento é que quem tem algum sintoma e apresenta alguma lesão de pele deve procurar um centro médico", aponta o infectologista e professor, Unaí Tupinambás.
 
Embora as lesões na pele sejam o sintoma mais reconhecível da varíola dos macacos, elas não são a única forma de manifestação do vírus. A pessoa pode ter febre, inchaço nos gânglios e mal-estar antes mesmo de as feridas cutâneas aparecerem, por isso todo cuidado é pouco. "As feridas parecem com a lesão de catapora, porém se espalham de forma diferente. Elas podem aparecer na região genital e em outros locais do corpo. Inicialmente são bolhas que depois evoluem para uma aparência de infecção e depois ela vira uma ferida”, explica o infectologista.

CÃES
 
Em agosto, a SES confirmou o primeiro caso de varíola dos macacos em cães, no Brasil. O animal, do município de Juiz de Fora, na Zona da Mata, começou a apresentar sinais da doença uma semana após os sintomas do seu tutor. De acordo com o órgão, até aquele momento, só havia dois registros de caso no mundo, nos Estados Unidos (EUA) e na França, onde o potencial de transmissão de humano a animal está sendo estudado.
 
Em entrevista ao jornal Estado de Minas, o professor Rafael Romero Nicotino, do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva na UFMG, explicou que ainda não há certeza se cachorros podem ser fonte de transmissão da doença. “O cão pode desenvolver sintomas e ficar doente, mas não sabemos se ele está transmitindo para o homem. Até agora, nos casos registrados, o cão foi diagnosticado com varíola dos macacos após ter contato próximo com o tutor doente. Ainda não temos relatos do contrário”, disse.