Amanda Quintiliano especial para o EM
“A falta do medicamento pode fazer com que minha doença volte de forma mais agressiva”. O relato que mescla medo e angústia é de Thainara de Oliveira Ferreira, de 30 anos. Na luta contra o câncer há 11 anos, o tratamento dela corre o risco de ser comprometido, devido à indisponibilidade do remédio no estoque da rede pública.
A falta de medicamentos oncológicos afeta o principal hospital referência do Centro-Oeste de Minas. A “situação crítica” foi explicitada essa semana pelo Complexo de Saúde São João de Deus (CSSJD). A unidade, que fica em Divinópolis, atende 54 municípios.
Diagnosticada há 11 anos com Leucemia Mieloide Crônica (LMC), Thainara faz uso do Dasatinibe 20 mg.
“Estou bem apreensiva, pois o medicamento é essencial para o tratamento, tenho costume de comparar meu tratamento com o de pressão. Quando se deixa de tomar o medicamento de pressão volta a subir. No meu caso, os leucócitos voltam a ser produzidos em excesso”, relata.
Os últimos comprimidos da paciente terminam na próxima segunda-feira (10/10). “A falta do medicamento pode fazer com que minha doença volte de forma mais agressiva, pois hoje minha leucemia, com o tratamento, tem excelente resposta”, afirma. Sem certezas sobre a reposição do estoque, ela tem vivido os últimos dias com um sentimento: medo.
“Fico com muito medo, pois já são 11 anos que estou na luta contra o câncer e, dependendo do tempo que ficarmos sem esse medicamento, posso jogar fora esses 11 anos e ter que começar tudo do zero”, conta.
Em falta
Os medicamentos em falta são fornecidos pelo governo do Estado, segundo o CSSJD. A última solicitação, segundo a unidade, foi feita no dia 12 de setembro, referente ao Sasatinibe 100 mg. Foi solicitada a quantia de 390 comprimidos, que seria suficiente para atender 12 pacientes durante todo o mês.
Entretanto, foram disponibilizados à unidade apenas 60 comprimidos, possibilitando o atendimento de pacientes por cinco dias.
Já o medicamento Dasatinibe 20mg, foram solicitados 240 comprimidos para atender dois pacientes em outubro.
"Todavia, não nos foi repassada nenhuma quantidade do referido medicamento, comprometendo assim o tratamento dos pacientes que o utilizam", alertou o hospital.
A unidade ainda informa que "busca constante para a solução deste problema" e reconhece se tratar de um problema nacional, "afetando muitas outras instituições que já passam dificuldade na obtenção destes medicamentos pelo Estado, por meio do Ministério da Saúde".
Estado
A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) informou que os medicamentos possuem aquisição centralizada pelo Ministério da Saúde.
“Os estados auxiliam na logística de distribuição do item aos hospitais credenciados”, esclareceu.
Na distribuição realizada em setembro, o medicamento Dasatinibe 20 mg foi repassado para atendimento integral das solicitações dos Centros de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Cacon) e Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon).
A reportagem entrou em contato com Ministério da Saúde nessa quinta-feira (6/10). A assessoria de imprensa do órgão pediu 24 horas para os devidos esclarecimento, porém não retornou até o fechamento desta matéria, nesta sexta-feira (7/10).