Gustavo Werneck*
Belém (PA) - Feliz Círio! É com essa saudação acolhedora e singela que os visitantes são recebidos na capital paraense para os festejos em honra a Nossa Senhora de Nazaré, o Círio de Nazaré, que poderá reunir neste domingo (9/10) cerca de 3 milhões de pessoas.
O número superlativo, se confirmado, terá 1 milhão a mais de romeiros do que em 2020, quando, devido à pandemia, ocorreu a última procissão nas ruas de Belém, com a imagem da padroeira do Pará e Rainha da Amazônia. O cortejo percorrerá 3,6 quilômetros e foi reconhecido, em 2013, como patrimônio cultural imaterial da humanidade.
Na manhã deste sábado (8/10), com as casas enfeitadas com estandartes e sempre trazendo altares para a imagem de "Nazinha", apelido carinhoso da santa, ocorreram duas das 13 procissões que compõem os festejos da maior procissão católica do mundo, com mais de 200 anos de tradição.
O dia começou com a Romaria Rodoviária, em Ananindeua, na Região Metropolitana de Belém, com a Imagem Peregrina da Virgem de Nazaré conduzida até o Trapiche de Icoaraci, para a saída do Círio Fluvial. O percurso da romaria é de aproximadamente 24 quilômetros, o segundo maior dos cortejos oficiais do Círio de Nazaré.
Na sequência, começou o Círio Fluvial, com a chegada emocionante na Escadinha da Estação das Docas. A Imagem Peregrina foi levada no navio Garnier Sampaio, da Marinha do Brasil, responsável por também fazer a organização e controle de toda a Romaria Fluvial, que envolve cerca de 400 embarcações e 80 motos aquáticas.
Os pagadores de promessas Às vésperas do Círio, milhares de romeiros e pagadores de promessas, os promesseiros, chegam de todos os cantos da Amazônia, muitos viajando a pé, sozinhos ou em grupos, carregando imagens de Nossa Senhora de Nazaré e apoiando o corpo num cajado.
Ao lado de 19 pessoas, o servidor público Cláudio Ferreira caminhou 84 quilômetros de Castanhal, onde mora, até a catedral basílica, no Bairro Nazaré, em Belém. "Somos movidos pela fé", afirmou Cláudio, que agradeceu pelo emprego conseguido e cumpriu a promessa de ir a pé a Belém, no dia do círio.
Também sem parar para dormir na estrada, Vânia Coelho, de Castanhal, disse que Nossa Senhora de Nazaré, que os fiéis tratam intimamente Nazinha, intercede a Deus por todos. "Pedi a cura para minha filha, que tinha epilepsia. Na época, ela estava com 9 anos. Ficou boa, hoje tem 30."
Os fiéis recebem acolhida, com alimentação e outros cuidados, na Casa de Plácido, localizada perto da catedral basílica. À frente da obra da igreja está a Pastoral da Acolhida. "Em 2019, recebemos 88 mil pessoas, e acreditamos que, desta vez, serão mais de 100 mil", estima a coordenadora da Pastoral da Acolhida, Conceição Rodrigues.
Com o fruto de doações, a pastoral conta com 790 voluntários, incluindo médicos, e oferece de um revigorante lavapé a massagem e atendimento médico. "As pessoas caminham longas distâncias, muitas chegam debilitadas e com os pés feridos, demandando serviço médico", diz a coordenadora, ressaltando que a equipe é "ecumênica", ou seja, de várias religiões.
Vinda de Fortaleza (CE), Elida Nobre, de 71 anos, viajou mais de 24 horas. "Peguei três ônibus. A gente fica cansada, mas valeu a pena", contou a mulher, enquanto se entregava a uma massagem, na noite de sexta-feira (7/10).
O nome Casa de Plácido faz uma homenagem ao paraense agricultor e caçador Plácido José de Souza, que no ano de 1700 encontrou a pequena imagem de Nossa Senhora de Nazaré, entre pedras lodosas às margens do Igarapé Murutucu (onde se encontra a basílica), no tronco de uma árvore.
Após o achado, Plácido levou a imagem para a sua choupana e no outro dia ela não estava lá. Correu ao local do encontro e lá estava a imagem da santinha. E o fato se repetiu várias vezes.
*O repórter viajou a convite do Instituto Cultural Vale