Jornal Estado de Minas

ROMARIA PELA ECOLOGIA

'Por baixo da montanha, há sinais de destruição', diz dom Vicente


 
O bispo auxiliar da Arquidicose de Belo Horizonte, dom Vicente Ferreira, defendeu a 'conversão ecológica' durante missa solene no Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade neste domingo (09/10, em Caeté, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.




 
O bispo pregou para peregrinos e peregrinas, que participaram da 3ª Romaria da Ecologia Integral ao santuário da padroeira de Minas Gerais. O sacerdote afirmou que os "padres da Serra da Piedade lutam contra dragões", e lembrou dos danos à serra. "Por baixo da montanha há sinais de dstruição", pontuou.
 
"Infelizmente aqui, onde pisamos, temos que denunciar que são muitos projetos que destróem a natureza e a vida humana. Por exemplo, as estratégias da mineração, que estão se expandindo, e deixam para nós um buraco no coração, as vítimas e as vidas, na natureza e no solo", afirmou dom Vicente, em entrevista à imprensa.
 
Na homilia, o sacerdote criticou a exploração da natureza e disse que é preciso dar "um passo adiante" para superar a "crise socioambiental", defendendo a 'conversão ecológica'. O termo foi proposto pelo Papa Francisco na Carta Encíclica Laudato Si'. A conversão requer uma mudança no estilo de vida destruidor para uma "vida simples e agradecida". 




 
"Uma vida bilionária pode ser confortável, mas é profundamente injusta. Quem tem muito está deixando ou destruindo de alguém que não tem". A conversão, portanto, se dá com a mudança na forma de lidar com o meio ambiente. "Não existe corpo saudável se a natureza está doente", frisou o bispo. 
 
Assista à homilia na íntegra: 
 

 

Gratidão e encantamento

O bispo destacou a passagem do Evangelho em que Jesus curou dez leprosos, mas apenas um retornou a ele para agradecer. Ele usou a parábola para afirmar que as pessoas precisam adotar uma outra postura para defender o meio ambiente, que é preciso ter gratidão e encantamento. 
 
"Vivemos em uma cultura que mata muito, que destrói muito, porque a gente aprendeu que a criação, a natureza, até nós mesmos somos seres, objetos à disposição para fazer o que bem entende. É uma crise de falta de encantamento, de falta de gratidão, que gera coração orgulhoso e ganancioso".




 
(foto: Arquidiocese de Belo Horizonte/Divulgação)
 

O sacerdote defendeu uma 'ecologia integral', propondo uma reflexão sobre como cada um pode colaborar para uma civilização mais saudável. A exploração, segundo ele, pode ser freada se cada um adotar uma vida mais simples. 
 
O sacerdote convocou os fiéis para refletir acerca da gratidão. "Estamos passando por uma aguda crise. Ela não é só humana nem só da natureza. Ela é socioambiental", disse. E completou: "Temos que convencer os que vão com a gente a não jogar fora a vida, apostando em projetos de morte, que vão matar a si mesmo, matar o outro ou a natureza."

Romaria ao santuário

A peregrinas, que participaram da 3ª Romaria da Ecologia Integral ao Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade reuniu peregrinos de todo o estado. "Fazemos esta Romaria da Ecologia na Serra da Piedade, que está ferida pela mineração, para sensibilizar as pessoas sobre os cuidados com a 'casa comum'", afirmou a professora Janide Dias, coordenadora do setor ambiental do Vicariato Episcopal para Ação Social, Política e Ambiental (Veaspam). 




 
O reitor do Santuário Basílica Nossa Senhora da Piedade, Wagner Calegaeii, lembrou que os bens da natureza são finitos.  O reitor destacou que o santuário preserva uma área de 1,2 milhão metros quadrados.
 
"Vivemos dois anos de pandemia, se temos desgaste da natureza e as condições climáticas tão variáveis de algum modo temos que mudar a compreensão do nosso tempo presente. Essa compreensão parte da certeza ou cuidamos dessa Terra e tudo o que ela siginifica ou teremos grandes construções, belas estruturas e pouca vida. Isso que marca a terceira romaria neste tempo", afirmou.