Maicon Costa
Calçadas degradadas, bueiros em mau estado de conservação, edifícios degradados, presença massiva de moradores em situação de rua, esvaziamento noturno, lixo nas ruas e pichachões até no obelisco da Praça Sete. Sanar problemas como esses, que cada vez mais incomodam moradores e frenquentadores do Centro da capital mineira, é uma das metas de grupo de trabalho (GT) lançado pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), na terça-feira, com a tarefa de traçar um plano de ações para revitalizar a área. Para quem frequenta a região, a solução de alguns desses itens exige urgência.
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Dez anos depois, Savassi pede nova revitalizaçãoJustiça nega pedido para apagar obra de arte em edifício no Centro de BHBH: linha Pampulha/Centro lidera ranking de denúncias de assédio em ônibusCDL teme que obras no hipercentro de BH gerem impacto ao comércioFrente fria sobre Minas deixa o tempo chuvoso em BH no fim de semanaA expectativa da PBH, por sua vez, é que o programa, envolvendo medidas imediatas, além de ações de curto, médio e longo prazos, que passam também por melhorias na acessibilidade, dê dinamismo à região, revertendo a perda de moradores para outros bairros e cidades vizinhas da capital, diminuindo a incidência de imóveis não utilizados e, consequentemente, fortalecendo o comércio.
De acordo com Leonardo Castro, secretário municipal adjunto de Governo, o GT, coordenado pessoalmente pelo prefeito Fuad Noman, se reúne duas vezes por semana com todos os secretários, “já envolvendo uma parte relevante da sociedade civil, arquitetos urbanistas, lojistas que atuam no Centro e mercado imobiliário”. Ainda segundo Castro, foi iniciado “um processo de escuta da sociedade” para que o GT possa apresentar um “caderno de propostas”. Um dos objetivos do projeto, explica, é mudar a ideia de que o Centro é um lugar bom apenas para trabalhar, fazendo com que as pessoas também queiram morar na área.
Segundo o 1º vice-líder do Governo na Câmara Municipal de Belo Horizone, vereador Wanderley Porto (Patriots), a aplicação do plano deverá ser iniciada no começo de 2023 e o projeto inclui ações de limpeza de ruas e fachadas, recomposição da arborização, melhorias de praças, da iluminação e da segurança pública, criação de mais espaços de convivência, revitalização de construções antigas, adequação de calçadas às normas de acessibilidade, acolhimento da população em situação de rua e ocupação de imóveis vazios ou subutilizados. “A ideia do prefeito Fuad Noman é que em até três meses a gente comece a ter intervenções pelo Centro. Pode ter ações que demorem até cinco anos.”
O perímetro que deverá receber as ações abrange as regiões do Hipercentro, Parque Municipal, Barro Preto e Boulevard Arrudas. Também envolve arredores do Bairro Floresta e imediações da Rua da Bahia. O plano foi dividido em quatro períodos de execução das ações: imediatas (em até três meses), de curto prazo (em até 12 meses), de médio prazo (entre 24 e 36 meses) e de longo prazo (acima de 5 anos).
“QUALIDADE ARQUITETÔNICA”
Integrante da equipe responsável pelo processo de requalificação da região, Washington Fajardo, arquiteto e urbanista, que foi secretário de Planejamento Urbano do Rio de Janeiro, considera que Belo Horizonte “reúne as condições para poder, muito rapidamente, se tornar uma das capitais mais interessantes do Brasil”. Na visão do especialista, a cidade dispõe de qualidade arquitetônica – de espaços públicos e histórica – , mas as condições atuais do Hipercentro afastam moradores para outras áreas.
De acordo com Gisele Borges, presidente da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (Asbea-MG), a proposta é melhorar não somente o Centro, mas a cidade como um todo. “O nosso foco é o mercado imobiliário, mas revitalizar é muito mais que isso, pois tem questões sociais, de pessoas em situação de rua, o comércio que foi degradado, moradias que foram abandonadas”, diz.
Sérgio Myssior, arquiteto e urbanista, professor da Fundação Dom Cabral, destacou a necessidade de as cidades se transformarem e requalificarem sem perder suas características originais. “O Centro precisa de projetos duradouros, de transformação contínua, e não só pontuais, que não deixam de ser importantes. Essas mudanças vão jogar luz na cidade.”
RETROFIT
Um ponto em comum citado por Washington Fajardo, Gisele Borges e Sérgio Myssior foi a oportunidade de implementação do Retrofit, que é um processo de modernização de prédios antigos considerados ultrapassados ou fora de normas. Gisele explicou que esse será um dos principais desafios do Grupo de Trabalho, pois no Centro de BH há apartamentos muito grandes, mas antigos, e que não têm garagem, por exemplo. Isso dificulta a comercialização dos imóveis. “Se esses apartamentos pudessem ser divididos em dois, três cada um, poderíamos ter uma maior densidade de pessoas no Centro.”
COMÉRCIO
Para Flávio Froes Assunção, presidente da Associação dos Comerciantes do Hipercentro de BH, tanto o poder público quanto os comerciantes têm a preocupação de não deixar que o Centro “morra”. De acordo com ele, a criação do GT é um primeiro passo importante, mas muita coisa precisa ser feita. “A PBH apresentou a identificação dos problemas, como o aumento do número de pessoas em situação de rua e muitos prédios vazios, que perderam sua função original. O Centro vai ter que se reinventar como uma área de moradias.”
Marcelo de Souza e Silva, presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de BH, destacou a importância do chamamento da prefeitura para requalificação do Hipercentro. “É preciso realizar ações de curto prazo para que a prefeitura possa efetivamente ouvir tanto os comerciantes quanto os moradores. No nosso entendimento, a PBH tem que ser a protagonista do processo. A gente vai junto, mas a legitimidade é dela.”
Segundo Souza e Silva, a questão das pessoas em situação de rua, que começam a ser contadas pelo Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), precisa ser resolvida com urgência. “Esse problema impacta diretamente o ambiente, deteriora, impede o ir e vir das pessoas. Temos que cuidar da segurança por meio da iluminação, de câmeras de monitoramento, presença mais forte da Polícia Militar e da Guarda Municipal.”
Gerente da Enxovais Dular, localizada na Avenida Paraná, Claudiano Silva dos Santos comemorou o projeto de revitalização. A expectativa é que, com a revitalização, a loja, próxima da Rodoviária, atraia potenciais clientes que hoje evitam a área devido à degradação e por questões de segurança. “Se a pessoa fica com medo de passar numa certa região ela não vai vir, aí acabam caindo as vendas na loja.”
Para Antônio José, de 46, sócio-proprietário da Lanchonete Real Frutas, que fica na Rua Rio de Janeiro, nas proximidades da Praça Sete, a revitalização será bem-vinda. Segundo ele, o movimento de pessoas em situação de rua que entram no estabelecimento para pedir dinheiro e comida termina incomodando os clientes.