Jornal Estado de Minas

MEIO AMBIENTE

Época de chuva aumenta risco de queda de árvores



Clara Mariz

Belo Horizonte está em alerta de possibilidade de pancadas de chuvas até a manhã de hoje e, assim como na segunda-feira, há possibilidade de trovoadas isoladas e rajadas de vento. Por isso, a recomendação da Defesa Civil da capital é que as pessoas não se abriguem debaixo de árvores devido ao risco de queda. De acordo com a administração municipal, existem cerca de 500 mil árvores pelas ruas da cidade. As causas dos tombamentos são diversas, mas podem ser provocadas pela manutenção incorreta das espécies.



Trezentas mil árvores já foram cadastradas pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e 185 mil ainda seguem sem registro. A preocupação com a situação da vegetação da cidade durante o período chuvoso ganhou força após cinco espécimes tombarem na segunda-feira devido à forte chuva que atingiu a cidade. Em um dos episódios, um homem ficou ferido.

As ocorrências aconteceram em bairros do Centro-Sul e da Região Nordeste da capital . O Corpo de Bombeiros foi acionado para fazer o corte e a desobstrução das vias. Na Avenida Bernardo Vasconcelos, próximo ao Minas Shopping, no Bairro Ipiranga, um homem sofreu traumatismo craniano ao ser atingido por uma árvore que caiu sobre o seu carro. Após a retirada dos galhos, ele foi socorrido por uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e encaminhado para o Hospital Mater Dei. O estado de saúde dele era estável.

...Na Domingos Vieira, no Santa Efigênia, galhos caíram atingiram casa


Além do susto e prejuízos materiais diretos à população, a queda de árvores também pode afetar o fornecimento de energia elétrica. Segundo a Cemig, durante a tempestade do fim da tarde de segunda, diversas partes de BH e da região metropolitana ficaram sem luz. As regiões mais atingidas foram: Centro-Sul, Norte e Nordeste da capital, além de bairros de Santa Luzia e Sabará.



“Além das descargas atmosféricas, a principal causa dos desligamentos são objetos lançados em direção à rede elétrica, como partes de telhados e galhos de árvores, que provocam curtos-circuitos e rompimentos de cabos. Estes serviços, que representam maior risco à população, estão sendo priorizados”, disse a companhia por meio de nota.

CAUSAS
 
Para o professor do Departamento de Botânica do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (ICB-UFMG) Elder Antônio Sousa e Paiva, não existe uma solução simples e direta para a questão das árvores em Belo Horizonte. Ele afirma que as vegetações urbanas são extremamente necessárias para  o meio ambiente e a atmosfera de cidades como BH, e, por isso, não é recomendado que as árvores sejam simplesmente cortadas.

No entanto, o especialista explica que é preciso um estudo detalhado de  quais espécies serão plantadas e qual a manutenção ideal para cada uma. “Temos um caso comum que é o apodrecimento interno do tronco das árvores. Normalmente, isso acontece quando é feita uma poda desnecessária, ou incorreta, e elas acabam perdendo a principal proteção contra parasitas, que é a casca”, diz.




 
Elder ainda explica que o ambiente urbano é mais estressante que o rural, e, por isso, o comportamento das plantas pode ser diferente. Conforme o professor, existe, também, a possibilidade de que intervenções causadas há cerca de 10 anos influenciaram na queda de uma árvore hoje.

“Não podemos deixar de lembrar que as árvores são seres vivos e, portanto, elas nascem, crescem, evoluem e morrem.  Um ciclo natural. É importante a retirada dessas vegetações e que outras sejam plantadas no lugar. Mas a queda é algo normal, e o risco sempre vai existir. Temos que entender que é preciso cuidar das árvores para minimizar esse risco”, conclui.

OCORRÊNCIAS
 
De 1º janeiro até domingo (23/10), o Corpo de Bombeiros atendeu 2.958 ocorrências referentes a queda de árvores em via pública em Minas Gerais. Do total, 2.305 estavam caídas na rua, 137 atingiram carros e 516 tombaram sobre residências.




Além de prejuízos financeiros, quedas de árvores podem provocar tragédias fatais. Em 2017, uma taxista morreu após ter o carro atingido por uma palmeira- imperial na Rua Timbiras, no Bairro Lourdes, em BH. A queda aconteceu durante um forte temporal, acompanhado de granizo. Já em 2011, uma mulher também morreu ao ser esmagada por um tronco de jatobá no Parque Municipal Américo Renné Giannetti, no Centro da capital mineira.

Em abril deste ano, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG)  condenou a PBH a indenizar em R$ 20 mil a família da mulher que perdeu a vida no incidente no Parque Municipal. Texto da sentença atribui à Fundação de Parques e Zoobotânica de Belo Horizonte a responsabilidade pela proteção das pessoas de “potenciais desastres através, por exemplo, de vistoria massiva de todas as árvores”.

Palavra de especialista
Paulo Henrique Studart, advogado especializado em direito público

Prejuízo indenizável
“Por ser responsável não só pela manutenção, mas também pela observância das condições das árvores em vias públicas, em geral, a prefeitura municipal pode ser responsabilidade pela queda de uma árvore que causou prejuízos ao bem particular de uma pessoa. Dependendo da natureza do dano, a indenização pode acontecer de duas maneiras: na ordem material, e, em alguns casos, uma indenização por danos morais. Nesses casos, normalmente, a pessoa foi afetada diretamente. Caso um cidadão tenha sofrido algum tipo de prejuízo por causa da queda de árvores, ele deve entrar com uma ação de indenização no Poder Judiciário. Ressalto, porém, que ele terá que comprovar o prejuízo causado, o que foi danificado e seu valor, e que o dano aconteceu devido à queda da árvore”

VEGETAÇÃO URBANA
Confira total de árvores, podas e supressões em BH

» Árvores registradas pela PBH: 
300 mil

» Árvores sem registro na PBH: 
185 mil

» Podas de janeiro a setembro: 
18.237

» Investimentos em manutenção da vegetação urbana em 2022: 
R$ 21,5 milhões

Fonte: PBH