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Estado de Minas HOMICÍDIO

Patrocínio: advogado da família de ex-vereador morto quer anular julgamento

Segundo Márcio Grossi, advogado da família de Cássio Remis, a decisão dos jurados foi estarrecedora e 'contrária às provas dos autos'


27/10/2022 14:55 - atualizado 27/10/2022 15:40

Julgamento de Jorge Marra
Júri definiu que Jorge Marra agiu em legítima defesa, absolvendo o réu (foto: Patrocínio Online/Divulgação)

O advogado da família do ex-vereador Cássio Remis, morto em setembro de 2020, em Patrocínio, por Jorge Marra, irmão do prefeito do município, apresentou recurso pedindo a anulação do julgamento que absolveu o autor dos disparos.

De acordo com o júri popular, em julgamento iniciado nessa quarta-feira (26/10) e que durou cerca de 15h, Jorge Marra agiu em legítima defesa. Ele deixará a prisão nesta quinta-feira (27/10).

O advogado da família de Cássio Remis, Márcio Grossi, afirmou que a decisão dos jurados foi “contrária às provas dos autos”. “Apresentamos um recurso com o objetivo de tentar anular o júri”, afirmou.

“Estava claro no processo que o Cássio foi assassinado, correndo, com um tiro pelas costas, de forma cruel, bárbara, desnecessária. Os jurados entenderam que ele (Jorge Marra) agiu em legítima defesa, quando o Cássio estava fugindo do autor da execução”, completou.

Márcio ainda lamentou a forma com que Patrocínio ganha espaço na mídia. “Infelizmente, Patrocínio primeiro foi reconhecida e noticiada por um homicídio bárbaro, filmado, à luz do dia, e agora tá sendo conhecida por uma decisão esdrúxula, injusta e contrária a toda prova dos autos.”

O advogado disse ainda que o júri não considerou a quantidade de tiros disparados contra Cássio, que foi baleado cinco vezes, sendo duas delas na cabeça. “O Corpo de Sentença não avaliou os dois disparos de arma de fogo na cabeça, com exposição encefálica. Eles simplesmente não avaliaram”, ressaltou.

Desaforamento

Márcio Grossi afirmou que pedir o desaforamento do julgamento, que é a transferência de um processo de um foro para outro, não é mais possível pois o processo, em tese, já foi finalizado, mas que, em caso de anulação, o processo volta para a comarca e essa passa a ser uma alternativa viável.

“O Cássio combatia a corrupção”

Em entrevista ao Estado de Minas, o advogado de defesa de Jorge Marra, Sérgio Rodrigues Leonardo, afirmou que Cássio Remis era uma “pessoa agressiva” que perseguia Marra politicamente.

Grossi rebateu as acusações. “Causam espanto as declarações, uma vez que Cássio Remis era um advogado combativo, que sempre prezou pela ética, pela retidão, uma pessoa proba e jamais perseguiu alguém.”

“O que Cássio não concordava era com os desmandos políticos do Jorge Marra e de sua família. O Cássio combatia a corrupção em Patrocínio. Porém, ele combatia de forma legal, com o Judiciário”, completou.

Mário Grossi classificou a decisão do júri como estarrecedora. “Eu acredito que não é essa a cidade que o povo de Patrocínio queria. Onde se aprova um homicídio, onde se absolve uma conduta grave, uma conduta desnecessária, uma conduta totalmente contrária a qualquer convivência normal com um cidadão”, afirmou.

O julgamento

No começo da madrugada desta quinta-feira (27/10), depois de cerca de 15 horas de julgamento, o ex-secretário municipal de Obras de Patrocínio, Jorge Marra, acusado de homicídio duplamente qualificado contra o ex-vereador da cidade Cássio Remis foi absolvido. O  júri considerou o fato como “legítima defesa”. O advogado da acusação informou que já recorreu da decisão.

Ao ler a sentença, o juiz Serlon Silva Santos afirmou que Marra foi condenado a dois anos e 10 dias, por porte ilegal de arma de fogo. Como ele estava preso na Penitenciária de Patrocínio desde o dia do crime, em setembro de 2020, a pena já foi cumprida.

Acusação

O advogado de acusação e da família de Remis, Márcio Grossi,  afirmou que ficou completamente consternado. “A decisão contrariou todas as provas dos autos. Isso demonstrou que, de fato, assim como sustentou a acusação a todo tempo, o alto poder político e econômico da família (de Marra) interferiu diretamente na decisão do conselho de sentença”, considerou.

Ainda segundo Grossi, a defesa já recorreu da sentença. “O recurso já está apresentado (à Justiça)”, finalizou.

Relembre o caso 

Jorge Marra é irmão do prefeito de Patrocínio, Deiró Marra (PSB) e, em setembro de 2020, matou com cinco disparos de revólver Cássio Remis em frente a Secretaria de Obras do município, logo após ele fazer uma live onde denunciava suposta irregularidade em obras da Prefeitura.

Na ocasião, Remis fazia uma live na Avenida João Alves do Nascimento, onde afirmou que funcionários da Prefeitura estariam fazendo serviços particulares de frente ao comitê de campanha do atual prefeito, Deiró Marra.

Neste momento, Jorge Marra saiu de um carro e tomou o celular de Cássio, que foi atrás de Jorge, em direção a Secretaria de Obras. Na entrada do local, a vítima tentou pegar seu celular de volta, mas foi baleado por Marra, que fugiu.

Na época do crime, que foi flagrado por câmera de segurança, Marra era o Secretário de Obras de Patrocínio.

Família revoltada 

Em coletiva à imprensa, a mãe de Cássio Remis disse que foi submetida a uma prova semelhante à da Virgem Maria, mãe de Jesus Cristo. “O filho dela foi assassinado por defender o povo, ensinar o amor e fazer o que é certo e ainda os assassinos dele continuaram libertos. E o meu caso foi a mesma coisa. Obrigado meu Deus e me dê paciência, tolerância e amor, sobretudo, a partir de agora, porque vou precisar. Fiquei completamente desnorteada com essa notícia ”, lamentou.

A viúva de Cássio, Nayara Remis, também se mostrou indignada. “Hoje foi provado que o Cassio não morreu, os jurados confirmaram isso, que ele não está morto e que ele não levou tiros na cabeça. Então, segundo os jurados, eu vou voltar para casa e vou estar encontrando com o meu marido em casa”, ironizou.

E complementou: “Estou extremamente decepcionada com a decisão. Acho que não tenho a sabedoria da ‘Chiquita’ (mãe de Cássio) para nesse momento agradecer. Eu não acredito que aqueles jurados não tenham recebido nada e, desde o início, eu não queria que esse júri fosse aqui em Patrocínio. Eu não confio na população daqui porque eles provaram que se vendem”. 

Revolta nas redes sociais

Pelas redes sociais, várias de pessoas se manifestaram contra a sentença: “Que vergonha! Meus pesares aos familiares por essa injustiça”; “Lamentável, realmente as leis do Brasil só se aplica aos pobres. Um crime registrado por câmeras de segurança. Agora legítima defesa é forçar a inteligência de qualquer ser” e “Esse é nosso Brasil. Lamentável”, afirmaram algumas das indignações. 

*Com Renato Manfrim


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