Jornal Estado de Minas

PATROCÍNIO

Viúva de ex-vereador em MG diz que absolvição é 'tapa na cara da sociedade'

Após a absolvição do ex-secretário municipal de Obras de Patrocínio, no Alto Paranaíba, Jorge Marra – acusado de homicídio duplamente qualificado contra o ex-vereador da cidade Cássio Remis – , a viúva do ex-parlamentar Nayara Remis, de 43 anos, qualificou a decisão da Justiça como “um tapa na cara da sociedade” durante entrevista ao Estado de Minas nesta sexta-feira (28/10). 




 
O crime aconteceu em setembro de 2020, quando Marra matou Cássio Remis, à época com 37 anos, em frente à Secretaria de Obras do município, logo após ele fazer uma transmissão ao vivo nas redes sociais em que denunciava suposta irregularidade em obras da prefeitura. Na ocasião, o crime foi flagrado por uma câmera de segurança
 
Porém, o júri, após cerca de 15 horas de julgamento, que terminou na madrugada de quinta-feira (27/10), considerou que Jorge Marra agiu em “legítima defesa”. O advogado de acusação informou, também à reportagem, que já recorreu da decisão.

“Estávamos esperando que a justiça fosse feita. Trata-se de um caso que há imagens mostrando que o Cássio estava de costas . As fotos periciais mostram que ele levou tiros nas costas, na nuca e na cabeça. A massa encefálica estava no chão. Uma das pessoas que estavam lá escutou meu marido falando ‘pelo amor de Deus, não me mata’. Legítima defesa? Defesa do quê? Dizer que não foi um homicídio é um tapa na cara da sociedade”, iniciou Nayara. 




 
“Então, fiquei estarrecida quando os sete jurados acreditaram nessa tese. Nunca imaginei que haveria pena máxima, mas esperava, ao menos, uma condenação. Essa decisão da justiça foi surreal. Recebi inúmeras manifestações de pessoas criticando a absolvição”, complementou. 
 
Vale dizer que o ex-secretário absolvido é irmão do prefeito de Patrocínio Deiró Marra (PSB). Nesse sentido, para a viúva do ex-vereador, os membros do júri sofreram “algum tipo de intervenção” e, por isso, “não foram imparciais”. “O prefeito ficou o tempo todo de frente para os jurados intimidando-os, olhando feio, ameaçando com olhares. As pessoas têm medo em virtude do poder político e financeiro que ele tem”, avaliou. 
 
Por fim, Nayara também contestou as alegações do advogado de defesa, Sérgio Rodrigues Leonardo, de que o seu marido fosse uma “pessoa agressiva” e “fazia uma perseguição política infundada”. “Convivi com o Cássio por 13 anos, e ele nunca foi violento ou portou uma arma. Meu marido nunca foi alvo de alguém em registro de ocorrência policial, mas ele possuía muitas divergências políticas”, rebateu.



Nessa quinta-feira (27/10), o advogado da família de Remis, Márcio Grossi, disse à reportagem que a decisão contrariou todas as provas dos autos. Com isso, um recurso foi encaminhado ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) pedindo a anulação do julgamento. 
 
“O que Cássio não concordava era com os desmandos políticos do Jorge Marra e de sua família. O Cássio combatia a corrupção em Patrocínio. Porém, ele combatia de forma legal, com o Judiciário”, afirmou Grossi, destacando ainda que o alto poder político e econômico da família de Marra interferiu diretamente na decisão do conselho de sentença.