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Estado de Minas MOTIVAÇÃO POLÍTICA

Família de eleitor do PT assassinado se revolta pela banalidade do crime

De acordo com familiares, Pedro era um jovem pacífico, que trabalhava como motorista de aplicativo e entregador, e estudava para prestar concurso público


31/10/2022 21:31 - atualizado 31/10/2022 22:11

Pedro Henrique e seus familiares
Familiares afirmaram que apesar de eleitor do PT, Pedro Henrique se dava muito bem com familiares bolsonaristas e levava as divergências políticas com bom humor (foto: Arquivo Pessoal)
Apesar da tristeza estampada nos olhos marejados das cerca de 20 pessoas no apartamento, é com carinho que se fala de Pedro Henrique Dias Soares, de 28 anos, morto na noite desse domingo (30/10), enquanto comemorava a vitória de Lula nas eleições presidenciais na garagem da casa de amigos, no bairro Nova Cintra, Região Oeste de Belo Horizonte. Ele será velado e enterrado no Cemitério Renascer, às 10h30 e 13h, respectivamente.

Quando falam de Pedro, seus familiares e amigos descrevem um jovem carinhoso, trabalhador, que tinha muito jeito com as crianças, muito apegado à sua afilhada, de 7 anos, e, principalmente, um atleticano apaixonado, que fazia do Mineirão quase que um quintal de casa. “Apesar dele ter o time dele, a preferência política dele, não brigava com ninguém, não discutia com ninguém.”

Formado em direito, Pedro Henrique vinha trabalhando com entregas de produtos alimentícios e como motorista de aplicativo, quando teve seus sonhos de passar em um concurso e casar com a namorada serem interrompidos. Ruan Nilton da Luz, de 36 anos, invadiu a garagem em que ele estava com familiares e amigos e abriu fogo, matando Pedro e ferindo mais três pessoas, entre elas a mãe do jovem.

A mãe de Pedro Henrique, Alexsandra de Paula Dias, de 47 anos, afirmou que o filho era muito querido. “Maravilhoso. Um filho muito bom, muito amado, todo mundo o achava uma pessoa maravilhosa. Trabalhador, um menino bom.”

Alexandra disse esperar que a justiça seja feita. “O ser humano não pode ser assim. Não pode ficar impune.”

Pedro Henrique
Pedro Henrique se formou em Direito e estudava para prestar concurso público (foto: Arquivo Pessoal)
“O Pedro Henrique era um menino sensacional. Ele (Ruan) estragou a vida de várias famílias”, disse Fabiane Aparecida Dias da Silva, 45 anos, prima de Pedro Henrique e mãe da afilhada do jovem.

Apesar de o jovem estar num momento de euforia pela vitória de Lula, havia diversos bolsonaristas no ambiente, inclusive seus próprios pais. Segundo Fabiane, o grupo, que se reuniu por causa das eleições, decidiu ir para a garagem de amigos pois não queriam ir para bares ou para a rua, temendo atos de violência política.

Crime por motivação política

De acordo com Fabiane, o crime foi por motivação política. No momento do assassinato, o jovem dançava e comemorava, gritando o nome do presidente eleito Lula, com outros amigos, quando Ruan abriu fogo pela porta da garagem, que estava aberta. “Saiu simplesmente do nada atirando, ninguém conhece ele, ninguém nunca viu”.

Apesar de Pedro ser eleitor de Lula, Fabiane afirmou que o jovem procurava evitar brigas relacionadas a política e convivia pacificamente e com bom humor junto a amigos e parentes eleitores de Jair Bolsonaro. “Na sexta-feira ele estava num barzinho com a amiga dele que votava no Bolsonaro e eles postaram uma foto, ela fazendo o ‘22’, ele o ‘L’, com a legenda ‘inimigos jamais’”, disse Ana Luiza Dias Soares. irmã do jovem.
 
Pedro Henrique e família
Foto mostra Pedro Henrique e familiares fazendo sinais em referência aos seus respectivos candidatos; convivência era pacífica (foto: Arquivo Pessoal)
 
Fabiane disse também que pessoas chegaram a falar que Ruan estava gritando “Bolsonaro” pela rua momentos antes do crime. Apesar disso, familiares disseram que o homem não disse nada ao invadir a comemoração. “Ele chegou atirando”.

Familiares de Pedro acreditam que outro fator que reforça a tese de motivação por questões políticas é uma publicação que o atirador teria feito dias antes do crime. “Tudo, com certeza, foi por questões políticas sim. O homem falou na sua rede social, que já foi excluída, que se o Bolsonaro perdesse ele ia sair fazendo ‘uma desgraça’, e fez”, disse Fabiane.

Apesar da denúncia, Fabiane afirmou que os familiares não possuem prints da publicação, que teria sido feita no Instagram pessoal do homem, pois todas as suas redes sociais foram desativadas.

Luta contra o preconceito

Cindy Quintiliano, de 32 anos, é uma mulher trans e amiga de Pedro Henrique. Ela afirmou que o jovem escolheu votar em Lula pois acreditava que com ele haveria redução do preconceito. “Essa preferência pelo Lula era a quebra de preconceitos. Nessa gestão passada estava tendo muito essa questão de preconceito, as pessoas estavam com medo, principalmente nós LGBTs. O Pedro mostrou o não ao preconceito. Eu, como uma trans, ele não tinha preconceito comigo. Então, assim, era um jovem maravilhoso, uma pessoa boa”

Ruan atirou em duas pessoas antes de matar Pedro

Antes de chegar até a casa onde Pedro Henrique estava com familiares e amigos, Ruan Luz atirou em duas mulheres, mãe e filha, tendo a mais nova apenas 12 anos. Amigos das vítimas afirmaram que a mãe foi liberada, enquanto a filha segue internada. Ainda não se sabe o estado de saúde da adolescente.

Atirador tinha posse de arma e mais de 500 munições

Segundo a Polícia Militar (PM), a defesa de Ruan Luz, preso em flagrante ainda no domingo, afirmou que o homem possui diagnóstico médico de ansiedade e outros problemas psiquiátricos, tendo recomendação médica para tratar desses problemas e utilizar medicação controlada, mas que há um mês não toma os remédios, mas familiares da vítima contestam a versão.

O questionamento se dá pelo fato de Ruan ter licença de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC) e ter posse de arma de fogo. “Não sei se uma pessoa que tem posse de armas, tem problemas psicológicos, porque tem que fazer um psicotécnico. Ele foi para a rua para matar mesmo”, afirmou Fabiane.

De acordo com a Polícia Militar, Ruan utilizou duas pistolas calibre 380 no crime e possuía um rifle calibre 22 em casa. Além disso, também em sua residência, o atirador tinha 500 munições calibre 22 e 20 munições calibre 380.

Perseguição e prisão

O pai de Pedro Henrique e um tio do jovem tinham acabado de deixar a comemoração, quando o atentado aconteceu. Os homens tinham acabado de entrar no carro quando ouviram os disparos, gravados quando um deles enviava um áudio pelo Whatsapp.

Ouvindo os disparos seguidos dos gritos, os homens saíram do carro e viram o atirador fugindo, iniciando assim uma perseguição a pé. Ruan ainda tentou acertá-los sem sucesso, antes de entrar numa mata. O tio de Pedro então avisou a uma guarnição da Polícia Militar que passava pelo local sobre o acontecido e os policiais foram atrás do suspeito, preso em flagrante logo em seguida.


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