Após um ano, a conclusão da investigação sobre a morte da cantora Marília Mendonça em um desastre aéreo ainda depende do fechamento do laudo técnico da aeronave. A Polícia Civil, no entanto, não descarta a possibilidade de falha humana no acidente.
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Os depoimentos de dois pilotos que estavam na região do acidente foram importantes para interpretar a dinâmica do acidente. “Com isso, conseguimos entender que ele faz aproximação pelo Oeste, como indicado no local, voa a favor do vento e depois deveria fazer o pouso dentro de um a um minuto e meio, o que não ocorreu”, explica.
"Um piloto que decolou de Viçosa e também pousaria em Caratinga disse ter ouvido no rádio ele relatando que já estava na reta final”, conta Sales. O outro piloto presenciou o momento em que o avião se choca com a rede elétrica e cai.
“Ele estava no aeroporto e subiu para ver o pouso. Logo percebeu que a aeronave se afastou muito do padrão que Caratinga recomenda. Perdeu, inclusive, o contato visual”, conta. A polícia ouviu ainda outras três durante as investigações.
O piloto do avião de Marília, no entanto, não chegou a reportar nenhum tipo de problema. “É comum que pilotos conversem entre si pelo rádio para trocar informações sobre os pousos. Ele não fez isso. Mas também não é algo obrigatório”, destaca o delegado.
Choque com a rede elétrica
Antes de cair, o avião atingiu um cabo de alta tensão de uma torre de distribuição de energia. “O motor esquerdo se chocou com a fiação elétrica. Com a tensão, o cabo de aço se enrolou no motor”, detalha Sales. O avião caiu há cerca de 667 metros, na cachoeira de Piedade de Caratinga, e o motor atingido foi encontrado a 70 metros. “A gente pode afirmar que ele se desprendeu no ar”, completa.
A torre de energia envolvida no acidente não consta no documento de orientação aérea aos pilotos e, segundo avaliação da polícia, também não havia obrigatoriedade de sinalização da rede. “As torres não estão no Notam por uma questão normativa. Elas estão além da zona de proteção. Se o piloto sai dessa área, ele está por conta própria”, avalia Sales. As torres estão localizadas a 4,6 mil metros da pista.
A altura das torres, que tem 36 metros de altura, também não teve impacto no acidente.
Falha dos motores
Os investigadores aguardam a conclusão das apurações do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), que irá determinar se houve ou não defeito na aeronave e ajudar a entender o motivo de o piloto ter desviado do padrão de pouso da área. "Se descartado qualquer falha de motores, a gente consegue caminhar para a conclusão de uma falha humana", aponta o delegado.
A polícia já descartou a possibilidade de problemas climáticos na queda do avião. "No dia do acidente as condições meteorológicas eram favoráveis. A gente também descarta qualquer hipótese de que o piloto tenha tido um mal súbito ou estava sob o efeito de medicação. O que nos falta é a conclusão do laudo técnico da aeronave", disse.
Não há, no entanto, um prazo para o Cenipa concluir as apurações. “Cada órgão, com a complexidade das investigações, tem o tempo necessário para concluir o inquérito", comenta o delegado da Polícia Civil.
O acidente
A morte da Rainha da Sofrência, como era chamada a artista que, aos 26 anos, sofreu o acidente fatal junto a outros quatro tripulantes da aeronave, comoveu o país. A queda ocorreu a apenas 4 quilômetros do aeroporto de Caratinga, onde Marília Mendonça faria show no mesmo dia.
O avião que levava a artista e parte da equipe saiu do Aeroporto Santa Genoveva, em Goiânia, às 13h02. Os primeiros chamados para o Corpo de Bombeiros dão conta que a aeronave caiu por volta das 15h30, após quase duas horas e meia de voo. A queda ocorreu em um curso d'água, próximo ao acesso pela BR-474.
Além da cantora, a queda do avião causou a morte do produtor Henrique Ribeiro, do assessor Abicieli Silveira Dias Filho, do piloto Geraldo Martins de Medeiros e do co-piloto Tarciso Pessoa Viana.