Jornal Estado de Minas

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Grupo de comerciantes de Minas denuncia lista de 'boicote político'

Com nomes circulando em uma lista intitulada “Comerciantes Ptralha de Cláudio”, um grupo de empresários e prestadores de serviço registrou boletim de ocorrência na cidade de Cláudio, na Região Centro-Oeste de Minas. Além de incitar o boicote a profissionais que supostamente apoiaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a listagem contém “relatos homofóbicos, de cunho difamatório e injurioso”, segundo registro feito na Polícia Militar (PM).






A mensagem começou a circular no WhatsApp no dia seguinte ao segundo turno, vencido por Lula. Além dos nomes de estabelecimentos e proprietários, ela diz: “Se está insatisfeito com as urnas, vamos deixá-los insatisfeitos com as vendas”. 

Assessorado por um advogado, o grupo procurou a polícia nesta quinta-feira (3/11). “Vai ocorrer essa investigação para se chegar aos autores ou autor desta lista”, explica o advogado Luiz Guilherme Terra.

Terra aponta os crimes de difamação (artigo 139 do Código Penal), injúria (artigo 140 o Código Penal), além do previsto na Lei 7.716/89 que define os resultantes de preconceito de raça e cor. “A princípio a gente vislumbra esses crimes, além disso tem também o famoso boicote que pede que a população não compre, não utilizem bens do pessoal que está nesta lista”, explica. Neste caso, na esfera cível, deverá ser requerida indenização.





Na ocorrência foram apontados possíveis suspeitos, todos empresários do município.

Prejuízos 


Proprietário de uma loja de vestuário, Matheus Gonçalves Almeida diz temer por impacto nas vendas. “Como minha loja foi colocada na lista, isso é muito ruim porque eu posso estar perdendo clientes, perdendo vendas, porque aqui, em Cláudio, uma grande maioria foi eleitor do Bolsonaro, então da forma que eles colocaram na lista, como se a gente fosse petista, chamam a gente de petralha, foi humilhante”, desabafa. 

Ele confirmou ter declarado voto em Lula, mas que, em momento algum desrespeitou eleitores contrários. “Não ofendi, não desrespeitei ninguém. Simplesmente sou a favor da democracia, da liberdade de expressão, com respeito, mas não foi o que aconteceu da outra parte, principalmente com essa lista”, diz. O empresário soltou uma nota nas redes sociais dele e contou que teve apoio por parte de clientes.

Outro empresário, que preferiu não se identificar para evitar mais retaliações, disse que, além dos riscos à atividade comercial, eles enfrentam também o julgamento popular. “A principal diferença que a lista teve foi no tratamento das pessoas nas ruas. Caminhamos sob olhares tortos e sussurros”, afirma.





Ele afirmou ainda que decidiu denunciar, por entender que o voto é uma escolha pessoal”. “E não deve ser usado com o objetivo de estabelecer regras morais impostas sob aquelas que pertence a um lado do estado democrático”, comenta. O empresário ainda comparou a lista como o “Judenboykott”, que foi o boicote nazista aos negócios judeus.

Lista


Além de comerciantes, na lista também aparece o nome do vereador Darley Lopes (Cidadania). Ele a classificou como “criminosa”.

“Sempre acreditei na democracia. Respeitar os princípios democráticos é o básico para se viver em sociedade, por isso apoio e participo das ações que vêm sendo tomadas contra esses criminosos”, defende.

Para ele, a tentativa de atacar comerciantes, empresários, influenciadores, agentes políticos “é uma atitude de baixo nível e sem precedentes”.

Também são citados nomes de jornalista e influenciadores digitais.

A Polícia Civil de Cláudio disse que tomou conhecimento do caso e que está tomando as medidas cabíveis.