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Estado de Minas COVID-19

Vacinas para crianças em BH não dão nem para 10% do público-alvo

Minas recebe as primeiras 95 mil doses do imunizante da Pfizer. Em BH, as 5,6 mil unidades serão suficientes para atender a 9% da população de 6 meses a 3 anos


12/11/2022 04:00 - atualizado 12/11/2022 10:18

Frascos de vacina contra a COVID-19
Especialistas alertam que volume de doses não é suficiente para imunizar todos bebês de seis meses e crianças de até 3 anos (foto: Myke Sena/MS. COVID-19 - 29/1/22)


Dois meses depois de a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovar o uso da vacina da Pfizer contra a Covid-19 em crianças de 6 meses a 3 anos em todo o território nacional, Belo Horizonte recebeu ontem 5,6 mil doses do imunizante. Mesmo com a demora para o envio, as doses serão aplicadas em apenas 9% das crianças que estão na faixa etária, na capital – aproximadamente, 61,7 mil. De acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), ainda não há uma data para o início da campanha. A partir da próxima quarta-feira, as equipes da Secretaria Municipal de Saúde serão treinadas para realizar a imunização e os locais e datas serão definidos.

Em nota divulgada ontem, a Secretaria de Estado de Saúde informou ter recebido o “primeiro lote de vacinas” destinadas à imunização de crianças na faixa etária, com comorbidades. Segundo a SES, o Ministério da Saúde disponibilizou, inicialmente, um lote com 95 mil doses do imunizante Pfizer-BioNTech, que será destinado à aplicação das três doses da vacina recomendadas para a faixa etária. O atendimento, segundo a nota da secretaria, será realizado conforme quantitativo solicitado pelas unidades regionais de Saúde, a partir de quarta-feira.
O avanço da Covid na capital mineira preocupa especialistas. Conforme o último boletim epidemiológico da cidade, divulgado na quarta-feira, em outubro deste ano, aproximadamente 25 crianças menores de 1 ano foram internadas em hospitais públicos e privados da cidade com sintomas de síndrome respiratória aguda grave, como o novo coronavírus.

Raquel Stucchi, médica infectologista e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia, explica que as crianças estão mais vulneráveis a todas as doenças infecciosas, incluindo a COVID-19. Isso porque as “idades extremas”, como os idosos, têm menos anticorpos. “O problema é que as pessoas mais velhas já receberam doses da vacina contra a doença, então já têm uma resposta imune. E isso não acontece com as crianças de 6 meses a 3 anos”, afirma a especialista.

Mais casos

Na quinta-feira, a administração municipal afirmou que a proporção de testes positivos para a COVID-19 passou de 3% para 6% em duas semanas, em Belo Horizonte. O aumento dos novos casos da doença, que já matou 8.246 pessoas na capital mineira, este ano, ainda não afeta a demanda por internações hospitalares nem no coeficiente de óbitos.

De acordo com a Prefeitura de BH, a recomendação é que as faixas etárias que já podem se imunizar contra o vírus procurem os postos de saúde. Até o momento, apenas 37,2% da população com mais de 40 anos tomou a quarta dose do imunizante. O cenário fica mais complicado quando analisada a aplicação nas crianças de 3 a 4 anos, em que apenas 23,4% receberam a primeira dose da vacina.

Nova variante

Outra preocupação dos médicos e pesquisadores é com a BQ.1, uma nova subvariante da Ômicron. Em 21 de outubro, o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) chamou a atenção para a possibilidade do surgimento de uma nova linhagem da COVID-19. A BQ.1, e sua subvariante BQ.1.1, poderão dominar os casos de contaminações no continente até dezembro deste ano.

Segundo o órgão, além de ser uma mutação de uma variante do Sars-CoV-2, vírus transmissor da doença, estudos preliminares dão conta de que a BQ.1 tem capacidade de fugir da resposta imune do corpo, mesmo com as vacinas. “Melhorar a aceitação da vacina da COVID-19 no curso primário e na primeira dose de reforço em populações que ainda não as receberam continua sendo uma prioridade. Espera-se que sejam necessárias doses de reforço adicionais para os grupos com maior risco de doença grave, como adultos com mais de 60 anos, indivíduos imunocomprometidos, aqueles com condições médicas subjacentes e mulheres grávidas”, afirmou o ECDC.

Máscaras

O aumento de testes positivos para COVID-19 fez com que a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) voltasse a recomendar o uso de máscaras em todos os ambientes da entidade educacional, ontem. “Comunicado à comunidade universitária fazendo uma firme recomendação pela utilização de máscaras, em todos os campi e unidades, considerando o recente aumento do número de casos de COVID-19", afirma o Comitê de Monitoramento do Coronavírus da PUC Minas por meio de nota.

A universidade particular é a primeira de Minas Gerais a pedir que os frequentadores voltem a fazer uso de máscaras em suas dependências desde que deixou de ser obrigatório o uso em ambientes fechados na capital mineira, a partir de 10 de agosto. Apesar do relaxamento de algumas medidas de proteção, a pandemia ainda não chegou ao fim. Protocolo sanitário, amplamente divulgado ao longo da pandemia, foi recordado pela instituição de ensino, que afirmou que "outras medidas de prevenção também estão sendo tomadas, como vacinação, o distanciamento e, sempre que possível e necessário, a higienização das mãos com álcool".

TRÊS PERGUNTAS PARA...

  • Raquel Stucchi, Médica infectologista e membro da sociedade brasileira de infectologia

Para a senhora, qual a importância da vacinação infantil contra a COVID-19, principalmente para o público de 6 meses a 2 anos de idade?
Como para todas as idades, a vacina contra a COVID-19 é importante para diminuir a mortalidade da infecção e o contágio da doença. As crianças dessa faixa etária têm registrado estágio mais grave da doença e maior mortalidade. Por isso, é tão importante que as campanhas comecem o quanto antes.

Com a chegada da nova subvariante da Ômicron, a preocupação com esse público também aumenta?
A preocupação aumenta principalmente porque a BQ.1 é transmitida mais facilmente. Além disso, temos tido muitas aglomerações e relaxamentos com as medidas de prevenção, como o uso da máscara. Por isso, as crianças acabam ficando mais vulneráveis.

A Anvisa autorizou o uso da vacina para essa faixa etária há quase dois meses, mas só agora o Ministério da Saúde enviou doses do imunizante aos estados. O que esse atraso representa?
Primeiro, temos que colocar que, mais uma vez, não temos doses suficientes para imunizar toda a faixa etária necessária, e, por isso, as cidades terão que priorizar as crianças com comorbidade, por exemplo. Além de aumentar o número de casos, esse atraso representa o desprezo que o país tem com a saúde das crianças. Nós precisaríamos de cerca de 21 milhões de doses para imunizar todas. É um descaso total com as crianças. 

EM SÃO PAULO 

O governo de São Paulo recomendou na noite de ontem o uso de máscaras para conter o avanço da sub-variante da COVID-19. A recomendação é para uso da proteção em ambientes fechados e com aglomeração. O secretário estadual de Saúde, Jean Gorinchteyn, disse que se o quadro de agravar o uso de máscara voltar a ser obrigatório. “Nós estamos monitorando a situação e se ela se tornar mais grave, podemos voltar a decretar a obrigatoriedade das máscaras”, diz Gorinchteyn. De 25 de outubro até o último domingo, houve um aumento de cerca de 64% na ocupação dos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no estado – 290 para 450 casos, em números aproximados. Já nas enfermarias, a elevação foi de 50%, saltando de cerca de 550 para 830 pacientes internados. A Universidade de São Paulo (USP) e a Unicamp voltaram a obrigar o uso de máscaras em espaços fechados, como salas de aula, bibliotecas, laboratórios e ônibus fretados, como forma de proteção contra o coronavírus.
 


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