Jornal Estado de Minas

mapa da violência

Região Centro-Sul de BH tem mais bairros vulneráveis ao crime. Por quê?

 

Inflada pelos números do Centro, mas também concentrando mais locais com altos registros de ocorrências de crimes violentos, a Região Centro-Sul de Belo Horizonte se destaca no mapeamento da reportagem do Estado de Minas sobre os bairros de maior criminalidade, segundo dados da Polícia Militar. Se selecionados os bairros com mais de 50 registros de crimes violentos, 17 no total, a participação da Regional Centro-Sul também se mostra a maior, com cinco deles entre os mais críticos: juntam-se ao Centro, a Savassi (65 ocorrências), a Serra (60), o Funcionários (55) e o Lourdes, com 50.





 

O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-BH), Marcelo de Souza e Silva, considera que o grande volume de pontos de comércio e consumidores é um dos motivos de a Região Centro-Sul ter mais registros absolutos de ocorrências policiais. “A CDL/BH está em permanente parceria com as forças policiais para garantir mais segurança ao comércio e aos consumidores. A Operação BH Mais Segura, por exemplo, sempre é intensificada nas vésperas de datas comemorativas. Constantemente fazemos reuniões para discutir a melhoria da segurança pública nos centros comerciais da cidade”, afirma. Segundo ele, como resultado, os índices de criminalidade violenta vêm baixando. “Uma de nossas reivindicações para a próxima gestão do governador Romeu Zema é que o diálogo continue aberto e que juntos possamos sempre buscar soluções de melhorias na segurança pública”, afirma.

 

Policiais militares atendem a ocorrência na Avenida do Contorno, na Savassi: atratividade para criminosos pelo movimento comercial e vida noturna (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press %u2013 22/8/22)

 

PROTEÇÃO Na Savassi, por exemplo, algumas medidas têm se destacado e trazido mais segurança, como a Rede de Comerciantes Protegidos. “Essas redes com interação via aplicativos ajudam demais. Sempre que há um roubo, furto ou outra ocorrência, a gente descreve os suspeitos. Outro comerciante os vê passando e avisa à polícia, que consegue prender mais fácil esses criminosos”, aponta João Pimenta, dono de bar por 37 anos no bairro.

 

João Pimenta considera que os crimes vêm diminuindo, mas que é preciso saber onde ainda ocorrem. “Acredito que a maioria desses crimes ocorrem na madrugada, com o pessoal da boemia, que estica muito em vários estabelecimentos. Alguns deles são até 24 horas. Essas pessoas às vezes têm de pegar o carro em lugar mais isolado, saem andando depois de beber, no escuro, e acabam virando uma oportunidade para os criminosos. Há um mês, tentaram arrombar a porta do bar com um pé de cabra, no meio da madrugada. Não conseguiram, mas danificaram a porta: R$ 400 de prejuízo”, conta Pimenta.





 

Essa sensação de que os alvos são mais ligados à boemia na Savassi é compartilhada pelo coronel Carlos Júnior, especialista em inteligência de estado e segurança pública. “Tanto na Savassi quanto no Baixo Lourdes, temos muitos crimes relacionados ao lazer. A Savassi perdeu muitas lojas para os shoppings com o passar do tempo, mas manteve a boemia. Aumentaram as cervejarias e estabelecimentos nos quarteirões fechados, deixando os caminhos do entorno como áreas de atuação de criminosos, ainda que o policiamento seja intenso”, afirma. “O criminoso sabe disso e espera um momento propício, uma vítima mais indefesa em um local escuro e deserto. E isso também acaba se somando à quantidade de turistas e ao movimento nos hotéis”, avalia o especialista.

 

O fiscal de loja Vinícius Augusto de Miranda de Souza, de 21 anos, é testemunha do interesse que o movimento comercial exerce sobre ladrões (foto: Mateus Parreiras/em/d.a press)
 

 

ÁREA QUENTE Uma situação muito diferente da que ocorre no Centro de BH, o campeão de ocorrências de crimes violentos e local onde o especialista começou sua carreira, em 1995, como tenente patrulhando as ruas. “O polígono vermelho entre Praça 7 e rodoviária é a zona de maior concentração urbana de BH, com mais de 1 milhão de pessoas por dia. Hoje, há uma interligação das câmeras com as viaturas e policiais, guardas municipais, todos sabem onde estão e podem agir rápido. Antigamente, era rádio, ocorrência em formulário de papel. A tecnologia e os investimentos melhoraram demais as condições de segurança”, avalia.

 

O coronel afirma ainda que as condições atuais, que possibilitam integração e antecipação dos movimentos dos criminosos, também se refletem em muitas ocorrências, uma vez que nos bairros, vilas e favelas pode ocorrer subnotificação. “Temos de imaginar o que se encontra de crime no Centro e como antecipar. Quem vai roubar a loja, o restaurante, o cinema, na rodoviária, onde estão os receptadores, onde eles guardam mercadorias, os contrabandistas que abastecem parte do comércio popular, o tráfico na zona de prostituição, a vaporização (disseminação em pequenas quantidades) do tráfico, os jogos de azar... Considere também que ao cair da noite tudo muda. O Centro toma um formato mais boêmio, mais dos prostíbulos, dos botecos. Mudam os crimes e as formas de antevê-los com os mesmos recursos”, afirma Júnior.





 

 

União para planejar segurança na Savassi

 

Ações de segurança na Savassi têm sido discutidas entre forças de segurança e sociedade civil, com o mais recente encontro ocorrido em agosto, o que resultou em ações conjuntas das instituições para conscientização de lojistas e consumidores quanto à segurança nos estabelecimentos e ruas, fortalecimento da Rede de Comerciantes Protegidos e a ampliação de projetos que potencializam a sensação de segurança. Entre os presentes estavam o comandante do Policiamento da Capital, coronel Micael Henrique Silva, o comandante da 4ª Companhia do 1º Batalhão, major Saldanha, o comandante do Setor Savassi, tenente-coronel Bruno D'Assunção Coelho, o adjunto da inspetoria da Regional Centro-Sul da Guarda Municipal, Cristiano Gabriel Rosa, e o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), Marcelo de Souza e Silva,

 

A Polícia Militar, por intermédio do Comando de Policiamento da Capital, indica uma série de procedimentos para prevenir crimes em grandes centros comerciais como o Hipercentro de BH, entre eles evitar carregar grandes quantias de dinheiro e manter seus objetos pessoais, como carteiras, sacolas e bolsas, sempre à frente do seu corpo, evitando deixá-los sobre mesas ou balcões.

 

Muito visado como moeda rápida no mundo do crime, o telefone celular nuca deve ficar exposto. “Se precisar atender a uma chamada ou acessar as mídias sociais, procure um local que seja mais reservado e protegido”, orienta a corporação.

 

A prevenção inclui ter sempre dinheiro em espécie separado para pequenas despesas, medida que visa não abrir a carteira ou a bolsa na frente de estranhos ou em local cheio. “Evite sacar quantias elevadas. Prefira as transações bancárias eletrônicas oferecidas pelo banco. Dentro de agências bancárias, procure não conversar com pessoas estranhas ao seu convívio”, acrescenta a PM de Minas.