Jornal Estado de Minas

SALINAS

Ambientalista diz que 'culpa' de estragos das chuvas é da gestão pública

A população de Salinas, conhecida como “capital da cachaça”, no Norte de Minas, enfrenta uma série de danos após um temporal que castigou a cidade na semana passada, quando foram registrados no município 142,2 milímetros de chuva em intervalo de 12 horas e meia, entre 19h30min de terça-feira (15/11) e 8h de quarta-feira (16/11).




 

Natural da cidade, o ambientalista Apolo Heringer Lisboa, idealizador do Projeto Manuelzão, afirma que não se pode atribuir os prejuízos sofridos pelos moradores ao excesso de chuvas. Ele atribui o agravamento das consequências dos temporais a erros das gestões públicas municipais e dos vereadores da cidade, citando também o desmatamento e outras intervenções, como a implantação de loteamentos em áreas junto aos rios.

 

No final de dezembro de 2021, Salinas foi castigada por uma enchente que deixou cerca de 2,7 mil famílias desabrigadas e desalojadas. Após o temporal da semana passada, segundo a Defesa Civil do município, diversas ruas e 37 casas em diferentes bairros da cidade foram inundadas. Os moradores perderam colchões, geladeiras e eletrodomésticos. O calçamento foi arrancado e as redes de água e esgoto também foram afetadas.

 

Para Apolo Heringer Lisboa, a “culpa” pelos prejuízos sofridos pela população não pode ser atribuída ao grande volume pluviométrico registado em Salinas. “As chuvas não causam danos, são abençoadas. As chuvas revelam os erros de diversas administrações municipais, envolvendo o Executivo e o Legislativo, sobretudo os atuais”, afirma o idealizador do Projeto Ambiental Manuelzão, que surgiu na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).





 

“As chuvas não estão erradas, a natureza vem prover as necessidades”, diz Heringer Lisboa. Como “responsáveis” pelo danos causados pelo volume chuvoso  em Salinas, ele aponta: “o desmatamento sem limites e sem cuidados especiais, sem respeitar a lógica da mãe natureza e as autorizações absurdas de loteamentos em áreas onde se sabe que são espaços das águas dos rios e das chuvas, além “das canalizações estúpidas e desnecessárias e incapazes de suportar a carga hídricas das chuvas”.

 

Além disso, o ambientalista afirma: ”as insistências em repetir os mesmos erros em nome de interesses eleitorais e beneficiando pessoas das relações promíscuas entre interesses pessoais e políticos em detrimento do interesse coletivo são as verdadeiras causas desses desastres que tendem a piorar enquanto insistirem em culpar as chuvas. (É) como se São Pedro fosse o culpado, sempre a mesma lenga-lenga de que choveu muito, como se fosse uma coisa que nunca existiu antes. Desmatam e invadem áreas dos córregos”.

 

O idealizador do Projeto Manuelzão diz ainda que, em 2021, integrando um grupo técnico, juntamente com outros profissionais e ambientalistas, ele apresentou uma “Carta de Intenções”, propondo uma série de medidas a serem implementadas no município, a fim de resolver os problemas ambientas e garantir o desenvolvimento sustentável. Apolo Lisboa, o Executivo Municipal e os vereadores de Salinas se dispuseram a implantar as intervenções previstas no documento, aprovado 'por unanimidade' na Câmara Municipal de Salinas. Porém, nada foi cumprido", reclama.





 

Heringer Lisboa também condenou ação da Prefeitura da cidade de ter usado tratores para limpar a calha do Rio Salinas, segundo ele, “sem licença ambiental especial” para a intervenção.

O QUE DIZ A PREFEITURA DE SALINAS

Procurada pela reportagem do ESTADO DE MINAS, a Prefeitura de Salinas informou que adotou as medidas preventivas contra danos das chuvas na cidade, mas que os seus efeitos “não são imediatos”.

 

“Em sua manifestação,  o ambientalista (Apolo Lisboa)  fala de forma conceitual. Suas colocações são pertinentes. Porém, as ações de execução são complexas e de natureza continuada; seus efeitos não são imediatos", alega a Municipalidade.





 

A prefeitura de Salinas lembra que a enchente do final do ano passado “deixou rastros de destruição” na cidade que o Executivo  Municipal teve que adotar medidas emergenciais as pessoas que tiveram as casas inundadas.  Destaca que foram contratadas empresas para planejar e executar as ações reparadoras dos danos.

 

“A empresa contratada para planejar as ações concluiu apenas parte de sua tarefa que prevê retorno positivo a longo prazo. A empresa contratada para realizar a remoção do entulho e toda sorte de sedimentos carreados pelas chuvas e depositados no leito do rio cumpriu a execução dos serviços obedecendo aos requisitos legais. Não foi à revelia”, informa o Executivo Municipal de Salinas.

 

A Prefeitura também negou que tenha feito obras de limpeza do Rio Salinas sem licenciamento ambiental.  “As licenças foram requeridas, expedidas e as normas obedecidas. Os processos de contratação de serviços dessa natureza no serviço público não avançam sem a observação de requisitos como licenças e outras peças pertinentes a eles”, explicou.

 

Ainda por intermédio da sua assessoria de comunicação, a Prefeitura de Salinas negou que tenha abandonado a carta de intenções para implementar ações na área ambiental. 
 
“O Município está trabalhando sim, no propósito subscrito na referida carta de intenções. O município contratou os serviços de uma empresa de planejamento que está trabalhando nos projetos. Há que se destacar que esta é uma tarefa de longo prazo, cujo planejamento é realizado em etapas”, informou.