Jornal Estado de Minas

PATRIMÔNIO CULTURAL

Após 26 anos, peça sacra retorna à capela de Itaguara


Moradores de Itaguara, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), festejam, nesta terça-feira (29), o retorno da imagem de Nossa Senhora do Rosário, de 1910, à Capela Nossa Senhora da Conceição, na comunidade rural de Pará dos Vilelas, às margens do Rio Pará. “Os sinos vão tocar, haverá missa, às 19h, e muita alegria”, adianta o titular da Paróquia Nossa Senhora das Dores, padre Yuri Lamounier. O sacerdote diz ainda que será apresentada a restauração recém-concluída do templo, com a presença também de uma guarda de congado.




 
Motivos não faltam para a comunidade de Pará dos Vilelas celebrar, pois trata-se da segunda vez que a imagem foi furtada da capela. Em 16 de fevereiro deste ano, como informou o Estado de Minas, a imagem de Nossa Senhora do Rosário foi apreendida pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) em São Paulo (SP). O objeto sacro foi oferecido em anúncio na internet, sendo identificado como pertencente ao acervo religioso de Itaguara e cadastrado como desaparecido no Sistema de Objetos Mineiros Desaparecidos, recuperados e Restituídos (Somdar). Esse aplicativo foi criado pela Coordenadoria de Patrimônio Histórico e Cultural (CPPC), do MPMG, sob coordenação do promotor de Justiça Marcelo Maffra, que estará presente à cerimônia de devolução do bem cultural e espiritual com parte de sua equipe.
 
Os trabalhos de resgate, em fevereiro, foram conduzidos pela equipe da CPPC em conjunto com o Núcleo de Combate aos Crimes Ambientais (Nucrim), órgão ligado ao Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente (Caoma), e a Promotoria de Justiça de Itaguara.
 
A investigação foi iniciada pelo MPMG a partir de informações encaminhadas pela Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Itaguara, bem como pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que enviaram fotos da imagem de Nossa Senhora do Rosário e das demais peças contempladas pelo anúncio, relatando que a peça estaria cadastrada no banco de dados de bens desaparecidos. 




 
Na sequência, foi realizado minucioso trabalho de investigação pela equipe técnica da CPPC, que concluiu que uma das peças seria a imagem furtada da Capela do Pará dos Vilelas, em junho de 1996. Esse templo, de 1734, considerado o mais antigo do município, é tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha).
 
A peça sacra já havia sido furtada em 1980, em conjunto com outras imagens do acervo da capela, mas foi devolvida no ano seguinte. Contudo, em 29 de junho de 1996, a imagem de Nossa Senhora do Rosário foi novamente furtada no mesmo local. Por se tratar de bem de culto coletivo pertencente ao patrimônio cultural da Igreja Católica, o MPMG efetuou a busca e apreensão da obra. No local foram identificadas outras 16 peças sacras, que foram imediatamente vistoriadas pela equipe técnica do MPMG, para verificação da procedência.
 
Além disso, foram realizados registros fotográficos e descritivos de todos os outros bens que estavam no local, para posterior análise da procedência.

FESTA QUASE COMPLETA

Padre Yuri está entusiasmado com o retorno da imagem e com a restauração da Capela de Nossa Senhora da Conceição. “Escolhemos esse dia para a entrega da imagem de Nossa Senhora do Rosário, pois damos início às celebrações em louvor à padroeira, cujo dia é 8 de dezembro”, afirma.




 
Para a festa ficar completa, falta encontrar a imagem da padroeira, também furtada duas vezes. “Precisamos encontrá-la. Recebemos de volta a de São Sebastião e agora a de Nossa Senhora do Rosário, mas ainda falta a de Nossa Senhora da Conceição”, destaca o padre, lembrando que, em Itaguara, morou e trabalhou como médico, de 1930 a 1932, o escritor mineiro João Guimarães Rosa (1908-1967). “No livro ‘Sagarana’, um dos contos, ‘Sarapalha’, é ambientado em Pará dos Vilelas”, orgulha-se o pároco vinculado à Diocese de Oliveira.