A enxurrada levou o trabalho de anos de Eli Pinto de Miranda Júnior, de 44 anos. Ele viu, sem ter o que fazer, o freezer de seu restaurante ser arrastado pelas águas da Avenida Bernardo Vasconcelos, na altura do bairro Cachoeirinha, até a Avenida Cristiano Machado, no Ipiranga, na Região Nordeste de Belo Horizonte, durante o temporal dessa quarta-feira (7/12).
No dia seguinte, o sentimento era de resiliência diante da necessidade de limpar o estrago deixado pelas chuvas e recomeçar com medo que outra tromba d'água possa atingir a região mais uma vez.
A água subiu cerca de 1,5 metro, destruindo todo o mobiliário do restaurante de Eli. Ele diz que perdeu dois freezeres, um carrinho térmico, a estufa e alguns móveis, um prejuízo, conforme calcula, que pode chegar a R$ 15 mil. "Ontem, foi uma chuva diferente, um volume muito grande. A água subiu muito rápido e não deu tempo de fechar", relata o comerciante.
Resiliência e recomeço
Um dia depois do temporal, os comerciantes ainda estão sob estado de choque, reunindo ânimo para retirar a lama dos estabelecimentos e contabilizar o prejuízo. Recomeçar é o verbo mais conjugado pelo artesão Geraldo Luiz Martins, de 57. Ele reza para que as chuvas não atinjam a sapataria que ele mantém há 12 anos em um centro comercial na Bernardo Vasconcelos.
Mas, nessa quarta-feira, os pedidos foram em vão. "Entrou um metro de água dentro da loja e devastou tudo", afirma. A matéria-prima para a confecção de calçados, equipamentos e móveis se amontoavam cobertos pelo barro. Além disso, Geraldo passou outro susto com o princípio de vazamento de gás, que foi controlado pelo Corpo de Bombeiros acionado na manhã desta quinta.
Ana Elisa Fernandes dos Santos, de 40, não sabe quando poderá reabrir a loja Arte Mineira. Nesta quinta, ela retirava a lama do interior do estabelecimento e ainda não sabia qual a extensão das perdas. "Ainda não tenho ideia. Já vi várias chuvas, mas alguma coisa aconteceu para o córrego transbordar. Foi fora do normal. Tem muito tempo que o córrego não sobe assim", conta.
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Ela afirma que sabe da existência de projetos para impedir as enchentes no local, mas não tem muitas expectativas quanto às melhorias. "Tem um projeto antigo para essa avenida. Tem muita coisa para arrumar", diz. Por volta das 18h, ela pressentiu que o córrego transbordaria, fechou a loja e foi se abrigar no segundo andar de uma casa ao lado. "Foi pressentimento. Pensei 'vou fechar a loja mais cedo, porque essa chuva vai continuar'. Em menos de dez minutos a água tomou conta de tudo", recorda.
Banca arrastada
A força da enchente levou uma banca de revista por quase 500 metros. A estrutura foi arrancada do platô de concreto onde estava fixada, atravessou o canteiro central da Avenida Bernardo Vasconcelos e só foi parada por um poste de energia elétrica.