Jornal Estado de Minas

TRAVESSIA

Deficientes visuais percorrem lugares eternizados pelo Clube da Esquina

 

O 'Trem Azul' deu lugar à Jardineira Martha Rocha na viagem a Belo Horizonte de Milton Nascimento, Fernando Brant, Lô Borges, Beto Guedes, Toninho Horta e os demais fundadores do Clube da Esquina. Batizada com o nome da primeira Miss Brasil, a jardineira recebeu os integrantes da Associação União dos Cegos de Santa Tereza que percorre os passos dos músicos no roteiro "Revivendo o Clube da Esquina", neste sábado (10/12).





 

No dia de temperatura amena, os viajantes não sofreram com o calor, desfrutaram da brisa para cantar os versos de "Trem Azul": "Coisas que a gente se esquece de dizer/Frases que o vento vem às vezes me lembrar/Coisas que ficaram muito tempo por dizer/Na canção do vento não se cansam de voar". A terceira faixa do primeiro álbum do Clube da Esquina foi uma das muitas que eles cantaram ao longo do dia. O passeio ocorre como parte das comemorações de meio século, neste ano, da parceria de Milton e Lô Borge, com participação de Betos Guedes.

 

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Animados, eles chegaram ao ponto de partida, a Praça da Liberdade, às 10h45, prontos para uma viagem que durou cerca duas horas e meia e terminou com uma feijoada no Bar do Clube da Esquina em Santa Tereza. 

 

O percurso foi feito na jardineira, com paradas nos pontos que marcaram a história dos músicos, muitos deles eternizados nas composições do Clube da Esquina. O trajeto contou com audiodescrição, e os deficientes visuais também usaram os sentidos para explorar os lugares. Proposto pelo Bar do Museu Clube da Esquina, o roteiro se encaixa no chamado turismo de experiência, e poderá ser feito nos dias 17 (sábado) e 18 (domingo) deste mês - pelo valor de R$ 150.





 

 

 

A primeira parada, na Praça da Liberdade, já deu o tom emocionante do roteiro. Ao chegar à Alameda Travessia, foram recepcionados pelo músico Serginho Olly, que apresentou os versos da canção homônima. "Como sou compositora, vou aprender a letra dela. Sei a melodia. Essa música é linda, como tudo do Clube da Esquina", diz Rosemary Gonçalves de Souza Silva, de 57 anos, e o marido Valmir de Souza.  

 

Neste sábado, o grupo seguiu da Alameda Travessia, depois, foi para o Minas Tênis Clube, Colégio Estadual Central, Edifício Cesário Alvim, antigo Ponto dos Músicos na Avenida Afonso Pena, Edifício Malletta, Viaduto Santa Tereza e o Clube da Esquina. "São locais icônicos, que foram frequentados por integrantes do Clube da Esquina", afirma o guia de turismo Virgílio Otávio Silva Machado. Ele destaca como é bacana fazer o trajeto com quem tem uma percepção sensorial dos lugares. 

 

Evércio Garcia de Barros, de 72 anos, ao lado da estátua do compositor Pacífico Mascarenhas (foto: Leandro Couri/EM/DA PRESS)

 

Ao chegar ao Minas Tênis Clube, Evércio Garcia de Barros, de 72 anos, foi o primeiro a se sentar ao lado da estátua do compositor Pacífico Mascarenhas, que reconheceu o talento do jovem Milton. Evércio destaca que a visita permite que ele viaje para a década de 1960.   

 

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Sete anos do Bar do Museu Clube da Esquina

Rosemary Gonçalves de Souza Silva, de 57 anos, e o marido Valmir de Souza (foto: Leandro Couri/EM/DA PRESS)

 

O roteiro integra parte da programação dos sete anos do Bar do Museu Clube da Esquina e tem o objetivo de apresentar o legado do movimento musical. "Travessia é a primeira parceria de Milton e Fernando Brant. É uma música do tempo da ditadura, que fazia crítica ao regime militar. O amigo de Milton, Agostinho, escreveu sem que o Milton soubesse no Festival da Canção de 1967, e eles ganharam o segundo lugar", conta Virgínia Câmara, idealizadora do projeto e também a Gestora do Bar do Museu Clube da Esquina. 

 

O grupo passou por 12 dos 25 pontos em que os músicos se encontravam nas décadas de 1960 e 1970, desde lugares mais conhecidos como a Rua Ramalhete ao Edifício Malletta, onde Milton tocou no início da carreira, até locais menos associados aos músicos, como a Praça da Liberdade. Também visitou as esquinas, que deram nome a um dos mais importantes movimentos musicais brasileiros. "Fomos à primeira esquina, pedaço de chão, onde Beto Guedes começou a tocar aos 12 anos de idade", disse Virgínia. 





 

União dos Cegos 

Integrantes da Associação União dos Cegos Santa Tereza fizeram, em parceria com o Museu Clube da Esquina, o roterio 'Revivendo o Clube da Esquina' (foto: Leandro Couri/EM/DA PRESS)

 

A  Associação União dos Cegos Santa Tereza fica localizada no Bairro Santa Tereza, na Região Leste, onde são realizadas diversas ações. A música perpassa todos os projetos: um deles é a banda de forró Cabra Cega, formada por seis músicos cegos. Outro é o Coral dos Deficientes Visuais de Minas Gerais (Coral Devi), que tem 20 integrantes todos cegos.

 

"No coral, contemplamos músicas do Clube da Esquina, composições do Lô, Milton. A ideia é resgatar a mineiridade, por meio da poesia, música, culinária, socialização", diz Luciano Otávio dos Santos Dias, presidente da associação. 

 

Ele lembra que o projeto tem o propósito de mostrar que o deficiente visual pode estar em todos os lugares como qualquer outro cidadão. "Ele precisa ser respeitado e ter seu espaço", afirma. A aproximação com o Clube da Esquina teve início em 2017. 

 

Mateus Ferreira Santos, de 23 anos, mora no Bairro Ermelinda, e vai à asociação duas vezes por semana, onde participa dos projetos musicais. Fã do Clube da Esquina, ele destaca o trabalho de Milton Nascimento. "Estou gostando muito desse passeio", avaliou.