Jornal Estado de Minas

PARQUE AMÉRICO RENNÉ GIANNETTI

Raiva ou aporofobia? Ingressos no Parque Municipal de BH causam polêmica

O Parque Municipal Américo Renné Giannetti, no Centro de Belo Horizonte, é um ponto de encontro, descanso e lazer para os belo-horizontinos desde quando a cidade foi construída, no fim do século XIX. Inclusivo por natureza, esse traço do parque tem sido colocado em xeque por uma restrição imposta no fim de 2021, quando ele foi reaberto. Desde então, um ingresso, retirado pela internet, precisa ser apresentado para entrar no parque.





Quem antes usava o parque para cortar caminho, ou para um descanso rápido no horário de almoço, acaba desistindo pela burocracia de retirar o ingresso e apresentar na portaria, onde apenas um funcionário é responsável por conferir os bilhetes digitais, causando filas. Além disso, a medida pode excluir quem não tem acesso a um celular, à internet móvel ou mesmo pessoas com menos jeito no uso das novas tecnologias, como idosos.

O tema chegou a ser pautado em março deste ano em uma reunião da Comissão de Meio Ambiente, Defesa dos Animais e Política Urbana, da Câmara Municipal de Belo Horizonte. Um ofício, proposto pelo vereador Professor Juliano Lopes (Agir), questionou o executivo municipal sobre a necessidade do agendamento. A fila na entrada foi um dos tópicos levantados.

Raiva

À época, a Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica respondeu em nota que a cobrança dos ingressos estava relacionada à presença no local de morcegos portadores do vírus da raiva.





Em 2021, o parque foi interditado por 9 meses após quatro morcegos com vírus rábico serem identificados. Uma grande população de gatos vivia no local, e eles têm uma tendência a interagir com animais contaminados, podendo em seguida passar o vírus para os seres humanos.

Com a exigência do ingresso, segundo a resposta oficial, orientações podem ser dadas aos visitantes e um controle de quem entrou no parque em dado período pode ser feito. Com isso, caso ocorram novos casos de identificação de vírus da raiva, as pessoas podem ser comunicadas e monitoradas.

Sobre a restrição de grupos sem acesso à internet ou com maior dificuldade em usar as novas tecnologias, a Fundação replicou ser possível entrar no Parque Municipal sem agendar na internet, sendo necessária apenas um cadastro na portaria — onde as recomendações sanitárias também são feitas.





Aporofobia

Um ano após o retorno do funcionamento do parque, o assunto ainda causa polêmica nas redes sociais. Internautas acusam a prefeitura de fazer uma política higienista e aporofóbica (o termo, que descreve a aversão aos pobres, ganhou popularidade com a denúncia de projetos arquitetônicos desenhados para hostilizar e afastar pessoas em situação de rua). Até a hashtag #liberaoparquefuad foi criada.
 
 



A Prefeitura de Belo Horizonte foi questionada pela reportagem sobre a manutenção dessa exigência. Por meio de nota, a Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica informou que a retirada de ingressos para visitar o Parque Municipal faz parte das estratégias de conscientização para a prevenção da raiva.

A entidade isse ainda que não se trata de uma exigência, mas de uma recomendação.
 

"Vale lembrar que, mesmo quando a retirada de ingressos foi uma exigência (em função do controle de zoonoses contra a raiva), a medida não tinha qualquer caráter excludente ou limitador, uma vez que para as pessoas sem acesso à internet ou celular ou mesmo para quem não pode se programar com antecedência, o acesso era permitido por meio da assinatura de um termo na portaria", finalizou o comunicado.