Jornal Estado de Minas

TRADIÇÃO

Missas, procissão e arte barroca mantêm viva a festa de Santa Luzia

A tradição se mantém cada vez mais viva: procissão pelas ruas de traçado colonial, banda de música para saudar a padroeira, cânticos de louvor entoados por homens e mulheres e a fé do povo tomando conta de todos os espaços. A tricentenária Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, comemorou seu jubileu, nesta terça-feira (13/12), com missas e o tradicional cortejo luminoso, que saiu, às 19h, do Santuário Arquidiocesano Santa Luzia, no Centro Histórico da cidade. A procissão com a imagem começou com duas horas de atraso devido à forte chuva no fim da tarde.




 
Dez minutos após a saída da procissão, voltou a chover forte no Centro Histórico, obrigando a trajeto mais curto até o santuário. A multidão de fiéis, no entanto, continuou a caminhada com sombrinhas e capas descartáveis. "Viva a chuva! Viva Santa Luzia!",  gritavam os devotos. Na Igreja do Rosário, na Rua Direita, houve foguetório. O cortejo terminou no santuário, sob muitos aplausos. 

À frente da procissão, estava o pároco e reitor do santuário, padre Felipe Lemos de Queirós, que, desde 4 de novembro comanda as peregrinações com a imagem de Santa Luzia às paróquias, passando pela trezena, e nos últimos dias, a visitação dos romeiros e ritos na igreja barroca, que fica na Praça da Matriz. Além da celebração religiosa, a festa traz, este ano, uma praça de alimentos com shows. A comissão do jubileu tem, na presidência, Sandra Lúcia Leal e Jander Rodrigues.

Protetora dos olhos e da visão, Santa Luzia tem uma legião de devotos na cidade e atrai a visita de pessoas com problemas oculares – alguns, pedindo graças ou agradecendo pelas bênçãos alcançadas. Vindo do interior de Minas, um homem contou ao Estado de Minas que chegou à cidade guiado pela fé.




 
“Fiquei cego dos dois olhos, num acidente de moto. Felizmente, contei com a ajuda de amigos aqui de Santa Luzia, que se cotizaram e custearam minha viagem a Belo Horizonte, para a cirurgia. Sou grato aos médicos, mas vim também à igreja para pedir a Santa Luzia pela minha saúde. Já fiz as duas operações, e já enxergo 100% de um olho. Agora, espero a recuperação da outro, para voltar à vida normal”, disse o trabalhador rural.

Para o próximo sábado (17), está programada uma seresta em homenagem à padroeira Santa Luzia, saindo da Capela do Bonfim em direção ao santuário. No dia 18, chamado “Domingo da gratidão”, haverá missas no santuário às 7h, 9h, 11h,15h,17h, terminado, às 19h30, com a Missa Sertaneja da Gratidão.
 
Missa no Santuário Arquidiocesano Santa Luzia, no Centro Histórico da cidade (foto: Gustavo Werneck/EM/D.A press)
 

CULTURA

 
Junto à espiritualidade, a festa de Santa Luzia mostra a cultura da cidade, e uma boa referência ocorreu na madrugada de segunda, com uma novidade na voz dos integrantes do Coro Angélico. Criado há 70 anos, o grupo de cantores e cantoras sempre se apresenta acompanhado da centenária Orquestra Sacra.





Tendo à frente o regente do coral, Kássio Mendes, foi apresentado o “Credo”, pertencente à “Missa de José Maria Lopes”, do qual não se tinha notícia, na cidade, há mais de 60 anos. A “Missa”, completa, é composta pelas obras “Kyrie”, “Gloria”, “Credo”, “Sanctus “Benedictus” e “Agnus Dei”.  

“Não sabemos o motivo de o ‘Credo’ ter sido retirado, mas recuperamos a música para a abertura do dia de Santa Luzia”, contou o regente. A descoberta ocorreu no arquivo do Coro Angélico, quando Kássio encontrou uma transcrição feita por um músico luziense, manuscrita e datada da década de meados 1960, da partitura original, possivelmente do século 18.

Após constatar que o “Credo” fazia parte da “Missa”, o maestro fez uma revisão da peça, passou as notas para o computador e começou a ensaiar com o Coro Angélico, no início do semestre.”  A “Missa” fazia parte do acervo do maestro luziense Francisco Julião da Silva (1897-1978), que foi regente do Coro Angélico.