Jornal Estado de Minas

PATRIMÔNIO

Após quase 7 anos fechada, Catedral Sé de Mariana é reaberta


Primeira vila, cidade, diocese e capital de Minas, Mariana, na Região Central, une, agora, toda a sua história pioneira a uma alegria absoluta – e comovente não apenas pela espiritualidade, mas, de forma especial, pelo respeito ao patrimônio cultural. Amanhã (15/12), e em celebrações também nos próximos dias 23 e 24, será entregue à comunidade, após quase sete anos fechada para obras de restauração, a Catedral Basílica Metropolitana Nossa Senhora da Assunção.





Conhecido como Sé de Mariana e localizado no Centro Histórico, o templo, erguido no século 18, é a primeira catedral do estado, a primeira do interior brasileiro e a sexta do país, com o destaque único de conservar os traços originais. “Foi construída aqui para ser a sede, o centro, a igreja-mãe de nossa arquidiocese”, orgulha-se o arcebispo Dom Airton José dos Santos, que estará à frente,  com o pároco e reitor Geraldo Dias Buziani, das cerimônias religiosas de entrega do bem à Arquidiocese de Mariana pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

“Nossa expectativa é grande, devido ao valor simbólico,  religioso e afetivo da Sé, pois são realizados aqui casamentos, batismos, e o fiel que passa na porta sempre entra para rezar. O templo marca a vida da comunidade, tem centralidades geográfica e espiritual”, diz o padre Geraldo, que é o titular da Paróquia Nossa Senhora da Assunção. Certo da força da comunidade na proteção do patrimônio, o religioso afirma que a obra resulta “de esforços e parceria” entre a Arquidiocese de Mariana, Iphan, prefeitura local, paróquia e população. No total, foram investidos R$ 10,5 milhões de recursos federais.

Novos projetos

A programação de amanhã terá o ato civil de entrega, por parte do Iphan, das obras de restauro dos elementos estruturais e artísticos da catedral. Após a data, a igreja ficará fecha- da, a fim de ser preparada adequadamente para as próximas celebrações, a partir da antevéspera do Natal. (Veja programação.) Em etapa posterior, conforme informou o pároco e reitor, serão restauradas as 27 imagens do templo, incluindo a da padroeira, Nossa Senhora da Assunção, com recursos do Conselho Municipal de Patrimônio de Mariana (Compat). Na lista de prioridades, o padre cita a remontagem do órgão musical Arp Schnitger, presente da Coroa portuguesa, em 1753, ao primeiro bispo de Mariana, Dom Frei Manoel da Cruz.




Também satisfeita com o término das obras, a presidente do Compat, Ana Cristina de Souza Maia, reforça a importância da catedral no cotidiano das pessoas, “por ser um bem cultural, uma referência na cidade, e estar ligada a todos de maneira afetiva, independentemente da religião de cada um”. Lembrando da urgência do restauro, reivindicado pelos moradores havia muitos anos, ela enaltece a participação popular, desde o início dos serviços, até mesmo na definição das cores da fachada. Em 2017, depois de 160 prospecções pictóricas (pequenas janelas feitas nas pinturas), os técnicos do Iphan se surpreenderam ao encontrar bege-claro nas paredes e vinho nas demais partes da construção do século 18. Assim, essas cores, com aprovação popular, substituíram o cinza e o verde anteriores.

Arquitetura original

Pertencente à mais antiga diocese do interior do país e considerada  um dos mais importantes monumentos religiosos e artísticos do século 18, a Sé de Mariana, de acordo com o Iphan, conserva características originais, enquanto a maioria das catedrais contemporâneas a ela foi modificada ou demolida.

Em 2016, por meio do Plano de Ação das Cidades Históricas e de contratos firmados pelo Iphan, a catedral tornou-se alvo de recursos para elaboração de projetos e execuções de obras de conservação e restauração de toda a edificação, “assegurando sua salvaguarda e permanência às gerações futuras e manutenção do patrimônio histórico construído”, afirma a superintendente do Iphan em Minas, Débora do Nascimento França. “Devolver a catedral totalmente restaurada ao povo de Mariana significa a parte mais importante do nosso trabalho, pois se trata de um bem da comunidade. Foi feito um serviço de restauro completo”, acrescenta a superintendente.





Documento do Iphan mostra que, nos quase sete anos de conservação e restauração do templo barroco, houve intervenções estruturais e arquitetônicas e restauro dos elementos artísticos e integrados. O Estado de Minas acompanhou todo o processo de intervenções, a exemplo das reivindicações da população para ter de volta, restaurada, uma das joias do seu patrimônio.

História

Impossível visitar Mariana sem ver, fotografar ou se encantar com a Catedral Basílica Metropolitana Nossa Senhora da Assunção. Ela teve sua história iniciada em 1704, quando o então bispo do Rio de Janeiro, Dom Frei Francisco de São Gerônimo, com jurisdição sobre Minas, criou a paróquia – nessa época, havia no arraial apenas as capelas Nossa Senhora do Carmo e Nossa Senhora da Conceição. Três anos depois, ocorreu a instalação da matriz, transferida da Igreja do Rosário Velho (atual Capela Santo Antônio) para a Capela Nossa Senhora da Conceição, por oferecer mais espaço e estar no centro urbano, que não parava de crescer.

Após a criação da Vila do Ribeirão do Carmo (nome primitivo de Mariana) em 8 de abril de 1711, a Coroa portuguesa determinou que a Câmara se empenhasse na construção da matriz. Assim, em 14 de maio de 1714, os “notáveis” da Vila do Carmo se reuniram para garantir os recursos. A obra é confiada ao mestre Jacinto Barbosa Lopes, então vereador da Câmara. No arquivo do Legislativo, está um documento, datado de 1716, convidando o mestre “a vir concluir as obras da matriz” comandadas pela Irmandade do Santíssimo Sacramento.





Entre 1716 e 1718, foram concluídas as obras da matriz, no sistema construtivo de madeira e taipa. Em 1734, a igreja foi alvo de uma intervenção radical: a reedificação arrematada pelo pedreiro Antônio Coelho da Fonseca, sendo, nesse período, incluída no projeto a divisão em três naves e concluídas a fachada e as torres. Doze anos depois (1745), o então rei de Portugal, Dom João V, elevou a Vila do Ribeirão do Carmo à categoria de cidade, dando-lhe o nome de Mariana. Em 6 de dezembro daquele ano, pela bula Candor Lucis Aeternae (Resplendor da Luz Eterna), do papa Bento XIV, é criada a Diocese de Mariana, a primeira do interior do país e primaz de Minas.

CRONOLOGIA

Primeira catedral de Minas

» 1704 – Criação da paróquia por Dom Frei Francisco de São Gerônimo, bispo do Rio de Janeiro, com jurisdição sobre Minas. Na época, havia as capelas Nossa Senhora do Carmo e N. S. da Conceição

» 1707 – Instalação da matriz, transferida da Igreja do Rosário Velho (hoje Capela Santo Antônio) para a Capela Nossa Senhora da Conceição, que era mais ampla e no meio urbano

» 1711 – Criação da Vila do Carmo e determinação, pela Coroa portuguesa, de que a Câmara se empenhe para a construção da nova matriz

» 1713 – Início da construção da matriz, hoje Catedral Basílica Nossa Senhora da Assunção, mais conhecida como Catedral da Sé de Mariana

» 1745 – Em 6 de dezembro, pela bula Candor Lucis Aeternae, do papa Bento XIV, é criada a Diocese de Mariana, a primeira do interior do país e primaz de Minas

» 1753 – Chega a Mariana o órgão Arp Schnitger, presente da Coroa portuguesa ao primeiro bispo de Mariana, Dom Frei Manoel da Cruz

» 1906 – Em 1º de maio, a diocese é elevada à categoria de arquidiocese e sé metropolitana pelo papa São Pio X, por meio da bula Sempiternam Humani Generis

» 1961 – Elevação da Catedral Nossa Senhora da Assunção, pelo Vaticano, à categoria de basílica menor


PROGRAMAÇÃO

Reabertura da Catedral de Mariana

Amanhã (15/12)
17h – Ato civil de entrega, pelo Iphan, das obras de restauração dos elementos estruturais e artísticos da Catedral Basílica Metropolitana de Mariana para a Arquidiocese.

Dia 23
19h – Missa presidida pelo arcebispo metropolitano de Mariana, dom Airton José dos Santos, no Santuário de Nossa Senhora do Carmo. Em seguida, haverá procissão com a imagem de Nossa Senhora da Assunção em direção à catedral.

20h30 – Entrada dos fiéis na catedral, bênção, homenagens e canto solene de Ação de Graças.

22h – Apresentação do Quinteto Minas, na Praça da Sé.

Dia 24
22h – Missa Solene do Natal e reabertura da catedral, com a presença de pastorais, movimentos e irmandades da Paróquia Nossa Senhora da Assunção.