A greve dos aeronautas, que resultou na paralisação de tripulantes de voos comerciais em todo o Brasil, na manhã desta segunda-feira (19), causou o cancelamento de partida e atrasos na chegada de aeronaves, num efeito dominó. A situação afetou passageiros no Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, Região Metropolitana da Capital.
A paralisação, convocada pelo Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), aconteceu entre as 6h e 8h da manhã. O sindicato acatou a decisão do Tribunal Superior do Trabalho (TST) de manter pelo menos 90% do efetivo trabalhando. De acordo com o SNA, 1% a 2% do efetivo estaria parado, com 100% dos profissionais a postos.
Dos voos que partiram de Confins nesta manhã, somente um deles, da empresa Gol, com destino ao Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, foi cancelado cerca de uma hora antes do embarque, marcado para as 9h05. O cancelamento gerou uma grande fila e a necessidade de remarcação de voos com atraso de até cinco horas, em relação ao horário previsto, na chegada ao destino.
Revolta e frustração
Bruna Garretano, de 27 anos, estava com voo marcado para o Rio de Janeiro e demonstrou indignação com a situação. Segundo ela, seu voo estava marcado para às 9h, e por isso ela achou que não seria afetada, já que a paralisação estava marcada para entre 6h e 8h.
“Eles podiam ter avisado de alguma forma, pelo aplicativo, para a gente já vir preparado. Dar a opção de passar o voo para outro dia, mas cheguei aqui e agora quero ir pra casa. Meu pai é idoso, então é revoltante por fazer ele esperar. Me botaram num voo que eu chego em casa mais de cinco horas depois do esperado. Revoltante”, desabafou Bruna.
Indo para o Rio de Janeiro a trabalho, a belo-horizontina Fernanda Moura, de 27, se sentiu frustrada com a situação. Segundo ela, faltou comunicação e oferta de opções, como o reembolso, por parte da empresa.
“Eu esperava que tivesse o atraso, mas não que fosse cancelado. Hoje de manhã, olhei no cartão de embarque, o voo estava previsto, e só quando eu fui embarcar, na sala de embarque, meu cartão não passou. Acho que vão colocar os passageiros em voos separados, em horários ruins. É uma decepção e uma frustração”, disse Fernanda.
Diogo de Araújo, de 40, vinha de Natal, no Rio Grande do Norte, e iria pegar o avião para o Rio de Janeiro. Ele demonstrou insatisfação com o atraso e disse que a depender do desfecho da situação, poderia acionar a empresa na justiça.
“Na realidade, ainda não recebi informações sobre o meu voo, mas dependendo da situação, entro com alguma ação judicial contra a empresa. Vou aguardar mais informações. É um sentimento de frustração”, falou Diogo.
Julio Graziani, de 72, afirmou que foi pego de surpresa com o cancelamento. “Não sei que horas eu vou chegar”.
Uma passageira, que não quis se identificar, afirmou que a empresa está remanejando os passageiros para outros voos, mas que isso vai gerar grandes atrasos. No seu caso, ela chegaria no Rio de Janeiro às 11h e agora só chegará às 15h.
Efeito cascata
Como o movimento acontece em outros aeroportos pelo Brasil, quem estava em Confins também sentiu o impacto da greve dos aeronautas em outros estados. De acordo com a BH Airport, concessionária que administra o Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, a paralisação em outros aeroportos já está impactando os itinerários em Confins.
“As operações do BH Airport estão normais nesta manhã. Temos dois voos atrasados, por conta de atrasos no Aeroporto de Congonhas, mas eles pousaram no BH Airport e já têm previsão de partida. São eles: JJ3059 e G31303”, disse, em nota, a concessionária.
De acordo com a Gol, somente um cancelamento foi registrado em voos da empresa. Com isso, a empresa passou a realocar os passageiros em outros voos. Aqueles que teriam o Rio de Janeiro como escala, foram realocados para partidas imediatas, enquanto os que tinham a capital fluminense como destino final tiveram sua ida remarcada para ao longo do dia.
A Latam e a Azul, que também operam na manhã desta segunda, afirmaram que não houve nenhuma alteração motivada pelas paralisações em seus voos.
Greve não tem data para acabar
Ronie Gaião, Diretor de Regulamentação e Convenções Coletivas do SNA, falou sobre o movimento, afirmando que as paralisações ocorreram simultaneamente em nove aeroportos pelo Brasil. No início da manhã desta segunda, houve registros de atrasos nos aeroportos de Congonhas (SP), Guarulhos (SP), Galeão (RJ) e Santos Dumont (RJ).
Segundo Ronie, as reivindicações dos grevistas são referentes a melhorias econômicas e sociais, como reajuste de salários e benefícios pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) mais 5% de ganho real (acima da inflação).
“As empresas estão num bom patamar econômico, as passagens estão com preço elevado, todas estão apresentando um bom resultado. Nada mais justo que os tripulantes fazerem jus a esse ganho também e não serem esquecidos neste momento”, reivindicou Gaião.
Outras solicitações são a inclusão de uma nova cláusula que autoriza os tripulantes a venderem voluntariamente algumas folgas e que as empresas respeitem os horários de descanso dos funcionários, já que o caminho entre o aeroporto e os hotéis é contado, atualmente, como pausa.
Gaião afirmou ainda que a greve continua até que os pedidos da classe sejam atendidos. “A gente permanece com a greve, ela não tem data para acabar, até que as empresas se manifestem e façam uma proposta que atinja o que a gente está pedindo desde o começo.”