Do sonho ao pesadelo. Assim tem sido a vida de boa parte das pessoas que contrataram os serviços do “Buffet Patrícia” na cidade de Conselheiro Lafaiete, Região do Campo das Vertentes, em Minas Gerais.
O desejo de ver a filha dançando a valsa na festa de 15 anos, por exemplo, se tornou uma dor de cabeça para Kátia Silva quase uma semana antes do evento que seria no início de dezembro.
Foi através de uma ligação do advogado da Patrícia França, proprietária do buffet, que ela recebeu a notícia de que a festa não seria mais realizada. “Levei um susto, mas pensei que, mesmo correndo, conseguiria fazer alguma coisa. O pior foi quando ele me disse que não poderia me devolver o dinheiro”, relembra.
Kátia conta que o aniversário da filha foi muito bem planejado. Ela contratou o buffet em junho para ficar tranquila quando estivesse próximo ao momento especial. “Minha maior tristeza é ver minha filha chorar todos os dias” revela.
A promotora de eventos Magna Cristina Barbosa comemorou nesse último sábado (17/12) seu aniversário, mas não foi do jeito que ela tinha planejado. Ela também enfrentou problemas com o buffet de Patrícia.
“Não tinha como desconfiar, foi indicação de uma amiga e lá ela fez tudo certinho.” A promotora de eventos acredita que a proprietária do buffet realizou algumas festas para ganhar nome e indicação para outros eventos.
Aí depois, segundo ela, passou a aplicar os golpes. “Patrícia me mostrou fotos maravilhosas dos eventos que, segundo ela, eram do seu Instagram, tudo muito chique”. A notícia para Magna também foi dada pelo advogado de Patrícia.
Para 2023, o pedido da Natália Barbosa era o casamento perfeito logo em janeiro, para começar o ano com o pé direito e aliança no dedo. No entanto, ela tem travado uma batalha diária para seguir em frente diante da desilusão.
Laiz Barbosa, outra vítima, se preparava para celebrar o primeiro aninho da filha em fevereiro. “Vamos comemorar é claro, só não vai ser do jeito que eu tinha planejado”.
Nas redes sociais são muitas as revelações sobre o Buffet Patrícia. Alguns afirmam que os calotes são desde 2019. Magna conta que participa de um grupo com 32 pessoas que se dizem lesadas por Patrícia França.
Procurado pela reportagem do Estado de Minas, o advogado Giovani Antunes Campos, que representa Patrícia França, enviou um comunicado da proprietária do buffet:
“Esclarecer que devido a inúmeros fatores meu trabalho infelizmente faliu, alta de preços, tabela abaixo etc... Aos credores, peço perdão, mas não tive a intenção do insucesso do negócio. Infelizmente, são muitos os empreendedores que têm dificuldade e o negócio não se sustenta. Sou pessoa simples, não tenho bens sequer para vender.
Contudo, sou trabalhadora, e estou fazendo serviços de limpeza, atualmente, para ressarcir cada centavo a todos os credores. Infelizmente, o que consigo arrecadar por mês não é suficiente para pagar a todos de um vez. Por isso fiz uma tabela de pagamentos para ressarcir em parcelas dentro da minha realidade, pelo que peço a compreensão. Sendo certo, que vou ressarcir a todos que devo.
Infelizmente, um advogado que representa cerca de 6 credores não quer fazer nenhum acordo para o ressarcimento”.
De acordo com Giovani Campos, uma questão psiquiátrica atual de Patrícia faz com que ela necessite do uso de remédios controlados, “além disso, o evento de saúde que ela teve, o que a levou a internação por 4 dias no Centro de Atenção Psicossocial (CAPs), foi grave e alertou que ela não pode realizar atividades que envolvam gerenciamento, por inaptidão,” afirmou o advogado.
Ele argumenta que a cliente vendia festas para cem pessoas por R$ 2 mil, R$ 1,8 mil, com bolo, salgado, doces e cerveja, o que sequer cobria os custos.
“O que me comprometi a fazer é o planejamento da dívida para que ela possa ressarcir, como é uma pessoa de boa-fé, e isso foi feito, agora é ela pagar com quem já fez acordo. Aos demais, seja na Justiça ou não, não vejo outra solução senão as partes acordarem no ressarcimento. Pois o que pode mais querer o credor, que seu dinheiro de volta?”
No entanto as vítimas reclamam que esse “acordo” tem sido feito de forma unilateral.
O advogado de Patrícia citou que algumas credoras sabiam que o valor do "Buffet Patrícia" estava menor e por isso fecharam com ela sabendo que o contrato era impossível de ser cumprido.
Giovani Antunes Campos informou que finalizou os trabalhos no caso Patrícia pois fechou com 15 credores e só ficaram oito sem negociação. Informação que não confirmada.
De acordo com o advogado Pedro Renault, que representa a maioria dos credores, a empresa era conhecida no cenário municipal, realizando eventos como festa de debutantes, casamentos, etc.
“Fomos procurados por diversas vítimas do Buffet Patrícia e buscaremos a reparação dos danos e punição dos responsáveis, tanto na via cível quanto criminal”, afirma.