No local, o que se vê é um cenário desolador. Barracos amontoados em barrancos com vários pontos de desmoronamento e acessos precários fazem com que um trajeto de poucos metros da rua até a porta das casas seja difícil e perigoso.
Dayane Ferreira, 30 anos, catadora de materiais recicláveis, mora há seis anos com o filho Miguel, 8, que usa prótese em uma de suas pernas por uma malformação congênita, em um dos barracos onde ocorreram deslizamentos. Ela afirmou que nessas situações, quando precisa deixar sua moradia, recorre a parentes. “Fico na casa de parentes, de um, de outro, pois as casas são muito cheias. Durmo na casa de minha tia, dos meus vizinhos, que me ajudam também.”
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Miguel, com dificuldades de se locomover, também sofre com dores causadas pelo caminho acidentado e costuma pedir para que a mãe construa uma escada ou que se mude do local. “Já caí com ele no colo. Ele já caiu também, porque estava sem prótese. A prótese dele sai muito.”
“Uma ajuda num aluguel, num cômodo que for, já seria algo muito abençoado”, finalizou Dayane.
Deslizamento de encosta
A Defesa Civil de Belo Horizonte afirmou que a vistoria constatou ocorrência de deslizamento de encosta ao lado do imóvel de Dayane, mas que não houve necessidade de interdição do barraco. Apesar disso, a catadora afirmou que foi orientada a deixar o local.
Histórico
De acordo com Geni Mendes, 50 anos, manicure e líder comunitária do local, o problema com as chuvas é recorrente e já foram registrados desabamentos e interdições nos últimos anos. “Chega essa época de chuva e a gente não dorme, preocupada com os pais e mães que precisam sair para trabalhar e deixar os filhos dentro de casa. É um sofrimento muito grande.”
“Isso aqui é um ponto crítico para a Defesa Civil. Tudo aqui é um aterro. Já tiveram deslizamentos e desabamentos no ano passado, no ano retrasado, em 2019, tudo caiu. Já chegaram a cair oito casas de uma vez”, afirmou Geni.
O que diz a PBH?
Procurada pelo Estado de Minas, a prefeitura de Belo Horizonte (PBH) afirmou que existem cerca de 1.700 moradias em áreas de alto risco em BH. O órgão informou também que neste período chuvoso, entre setembro e hoje, 20 de dezembro — até o momento de fechamento desta matéria — 551 vistorias e 96 remoções foram realizadas. Segundo a administração municipal, a maioria das famílias foi acolhida no Programa Bolsa Moradia.
Segundo a PBH, as moradias em risco estão localizadas em diversas regiões da capital, principalmente nas áreas informais, vilas e favelas.
Já no período entre janeiro e novembro deste ano, 2.067 moradias passaram por vistorias e 327 famílias foram removidas de locais com risco alto de deslizamento. Destas, 58 remoções são de caráter definitivo e as demais famílias retornarão para as moradias após finalização de obras de manutenção e mitigação de risco geológico.
Como funciona o monitoramento das áreas de risco?
De acordo com a prefeitura de Belo Horizonte, o monitoramento de áreas de risco é feito em conjunto entre os moradores e o poder público. “Quando há necessidade, o morador é removido temporariamente ou definitivamente para a execução de obras. Caso não haja necessidade da retirada, o morador é orientado a acionar o Poder Público quando houver sinal de perigo no terreno ou na moradia”, disse a PBH em resposta à reportagem.
A PBH informou ainda que até o mês de novembro foram concluídas 79 obras de mitigação de risco geológico e outras 41 estão em andamento. Das obras de manutenção, 27 já foram feitas e mais 15 estão em execução. As intervenções, que acontecem por meio da Companhia Urbanizadora e de Habitação de Belo Horizonte (Urbel), ocorrem em todas as regionais da capital mineira.
Ações preventivas
A Prefeitura destacou também que desde o sábado (17) equipes da Defesa Civil, Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte, Secretaria de Obras e Infraestrutura, Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), Secretaria de Assistência Social e Cidadania, BHTrans e Guarda Municipal estão em alerta 24 horas por dia para atuação imediata.
Outra ação preventiva levantada pela PBH foi o lançamento do Programa de Risco Geológico-Geotécnico, com a previsão de mais de 200 obras emergenciais para mitigar os riscos geológicos na capital, beneficiando cerca de 245 mil pessoas. Segundo o órgão, o investimento é de R$ 118 milhões em até 18 meses. Além disso, no mesmo projeto está prevista a realização do diagnóstico de todas as áreas de risco da cidade.
Recomendações
A PBH também emitiu recomendações à população. São elas:
Durante a chuva:
- Redobre a sua atenção! Evite áreas de inundação e não trafegue em ruas sujeitas a alagamentos ou perto de córregos e ribeirões nos momentos de forte chuva;
- Não atravesse ruas alagadas nem deixe crianças brincando nas enxurradas e próximo a córregos;
- Não se abrigue nem estacione veículos debaixo de árvores;
- Atenção especial para áreas de encostas e morros;
- Nunca se aproxime de cabos elétricos rompidos. Ligue imediatamente para a Cemig (116) ou Defesa Civil (199).
- Se notar rachaduras nas paredes das casas ou o surgimento de fendas, depressões ou minas d’água no terreno, avise imediatamente a Defesa Civil e saia de casa. Só retorne após vistoria da PBH.
- Em caso de raios, não permaneça em áreas abertas nem use equipamentos elétricos.
Alerta de risco geológico
Se você observar alguns destes sinais, saia imediatamente do seu imóvel, e ligue para a Defesa Civil (199) e, em caso de emergência, ligue para a o Corpo de Bombeiros Militar (193). Só retorne após vistoria da PBH.
Sinais de que deslizamentos podem acontecer
Trinca nas paredes;
Água empoçando no quintal;
Portas e janelas emperrando;
Rachaduras no solo;
Água minando da base do barranco;
Inclinação de poste ou árvores;
Muros e paredes estufados;
Estalos;
%u200BPequenas quedas de terra de barranco próximos a sua casa
• Não faça cortes muito altos e inclinados nos barrancos;
• Coloque calha no telhado da sua casa;
• Conserte vazamentos em reservatórios e caixas-d’água;
• Não jogue lixo ou entulho na encosta;
• Não despeje esgoto nos barrancos;
• Não faça queimadas.
Emissão de alertas
Os moradores de Belo Horizonte podem receber os alertas de risco de chuvas fortes, granizo, tempestades, vendavais, alagamentos, risco de deslizamentos de terra e outros fenômenos meteorológicos por SMS. Para se cadastrar, basta enviar uma mensagem de texto com o CEP da sua rua para o número 40199 e uma mensagem de confirmação será enviada na sequência. O serviço não tem custo.
A população também pode acompanhar os alertas e as recomendações da Subsecretaria de Proteção e Defesa Civil por meio do Instagram, Twitter, Facebook e pelo canal público do Telegram no endereço: defesacivilbh.