Uma árvore de Natal pode nascer no terreno baldio, crescer sob um viaduto, frutificar em meio ao concreto - basta que a mão humana a adube com bons sentimentos, regue com a água da vida e coloque os nutrientes vindos lá do coração. Em Belo Horizonte, no Centro e bairros, o cenário urbano reserva alguns "presentes" para os olhos: o símbolo da temporada feito de papelão, enfeitado com bolinhas de piscina, colorido pelas capas de celular.
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O uso do material reciclável, especialmente a base da árvore, serve para também denunciar as agressões ambientais. "Resolvi inverter o processo e fazer uma ironia com a natureza, pois as árvores são derrubadas para dar origem ao papelão. Aqui, usei o papelão para fazer uma árvore. De certa forma, estou 'amenizando' o quadro de destruição das florestas", contou Henrique, que se declara revisor de texto, formado em letras, e está em busca de uma oportunidade de trabalho. "Quero sair do pesadelo que é viver na rua e comprar uma casa."
CAPRICHO TOTAL
Já sob um viaduto da Avenida Antônio Carlos, no Bairro São Cristóvão, na Região Noroeste, Wagner Lúcio de Campos, de 44, caprichou na sua árvore de Natal, colocando no alto do pinheirinho uma faixa com os votos de Feliz Natal. O detalhe interessante está nas capas de celular, de várias cores, penduradas na ponta dos galhos, substituindo as tradicionais bolas de vidro ou metalizadas. "O dinheiro não deu para comprar as bolinhas, então encontramos as capinhas, durante a coleta de material reciclável, e resolvemos usá-las. Arte nasce assim, né?", contou Wagner, que está há um ano em situação de rua.
Sob o viaduto, Wagner, a mulher e "uma vizinha" criaram um canteiro, dentro do projeto "mais plantas, menos lixo". O objetivo é propagar a ideia entre a população em situação de rua. "Vivo de bicos, sou jardineiro, faço poda, capina, conservação", explicou o homem, certo de que, "no mais, vive da "graça de Deus". Como o movimento na avenida é constante, ele agradece os elogios de quem passa, de carro ou a pé, por conseguir transformar o local e celebrar o Natal.
Há mais três décadas em situação de rua, Odair Benjamim Tomás, de 44, também presta sua homenagem ao Natal, colocando seu gorro de Papai Noel. Na manhã de ontem, ele contou que vive com a ajuda de Deus, de voluntários e da venda de balas, pipocas, paçoquinha e outras guloseimas. Como se trata de uma data muito festiva, ele comemorou, tomando umas e outras, no lugar onde vive (Alameda Ezequiel Dias), na Região Central de BH.
PAPAI NOEL
De onde será que sai tanto Papai Noel? Eles estão no alto dos caminhões, acenando na janela dos carros, na carroceira das caminhonetes - basta sair às ruas para vê-los com a roupa e o gorro vermelho e a barba branca esvoaçante, mantendo uma velha tradição do dia do Natal, nas cidades do interior de Minas. À criançada que espera na calçada, o "bom velhinho" atira balas e chocolate.
Em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, foram muitos papais noéis na manhã deste domingo (25), percorrendo a cidade. No Bairro São Geraldo, muitas famílias ficaram esperando a passagem da comitiva lá da Lapônia, no Hemisfério Norte, que, para não perder tempo, trocou o trenó pelo caminhão. "Estou achando esse Papai Noel, deste ano, meio pobre, só está jogando bala", disse uma menina, que ouviu de uma garota, ao lado. "Você chegou atrasada. O que passou antes 'encheu' a gente de chocolate!"