Com as festas de fim de ano, é normal se programar para curtir as férias, conhecer lugares diferentes ou visitar familiares. Porém, tutores de cães e gatos, além de organizar a viagem, precisam pensar, caso não consigam levá-los, em um hotelzinho seguro ou uma pessoa de confiança para deixar os animaizinhos. Por isso, é imprescindível fazer uma pesquisa e estudar os locais onde os pets receberão carinho e todos os cuidados necessários, enquanto o dono estiver fora.
período de férias, mas sim para prevenir o pet de doenças.
Segundo o médico-veterinário Gilson Rodrigues, da Associação Bicho Gerais, os tutores devem procurar hotéis que exigem a vacinação e vermifugação dos bichinhos em dia. “Lugares que não pedem esses critérios não costumam exigir de ninguém. Então, há chances do seu animal entrar em contato com algum problema maior.” Ele ainda ressalta que esses cuidados não devem ser feitos somente devido à hospedagem noAlém disso, Gilson afirma que é necessário buscar boas indicações e observar como é o comportamento dos animais que frequentam o hotelzinho. “Avaliar se o ambiente é limpo e organizado são outras dicas. Nos lugares onde os cachorros ficam fechados em espaços indivi- duais, esses canis devem ser abertos ao longo do dia, para que o animal possa brincar e interagir com os outros e com as pessoas.” O veteri- nário também alerta sobre a necessidade de separar animais conforme o tamanho.
“É preciso analisar ainda as possíveis rotas de fuga e se as portas são organizadas para impedir que os cães cheguem até a rua. Os tutores também devem observar as condições dos muros e a quantidade de pessoas que trabalham no local, tendo em vista o número de cachorros”, disse. Para ele, a qualidade da ração, higienização de comedouros e bebedouros e a rotina de desinfecção do ambiente são ou- tros critérios importantes na hora de escolher o lugar.
Atenção com os gatos
Apesar de os hoteizinhos funcionarem para cães, esses ambientes não são recomendados para gatos. Conforme o médico-veterinário Guilherme Santana, esses animais são territorialistas e, por isso, gostam de ficar no local onde moram. “O hotelzinho para o gato é muito estressante. Como ele é um animal reativo ao estresse, em qualquer lugar onde o tutor levar o animal ele ficará nervoso, pois não saberá o que acontecerá. Isso poderá abaixar a imunidade dele, deixando o pet suscetível a doenças.” Por isso, o veterinário recomenda chamar um pet sitter para cuidar do bichinho, enquanto o tutor estiver viajando.
Guilherme explica que a pessoa contratada ficará responsável por limpar a caixinha de areia, colocar água e ração. “Também acho que o melhor hotel para os cães é a própria casa. Porém, para cachorros que ficam muito nervosos sozinhos, latem e uivam muito, sempre recomendo a estada.” Ainda de acordo com ele, tutores que escolherem um pet sitter para cuidar do cão, devem recomendar passeios na parte da manhã, antes das 10h, ou na parte da tarde, depois das 16h.
O veterinário também alerta a importância de fazer chamadas de vídeo quando o dono do animal esti- ver fora. “O bicho de estimação sente falta e, por isso, é importante que o tutor e o animal possam se ver. Porque, como eles ficaram alguns dias sem contato, o pet pode se sentir abandonado, ficando triste e, até mesmo, parando de se alimentar”. Para Santana, com essa ação simples, tanto o cão quanto o gato saberão que o dono está por perto.
Hotéis para animais ficam cheios em Belo Horizonte
Conforme o proprietário do hotel Dog Vibes, Danilo Muniz, a procura no período de fim de ano duplica. O local, que existe desde 2018, no Bairro Jardim América, na Região Oeste de Belo Horizonte, também funciona como creche para cães. “A nossa demanda, em um fim de semana comum, fica em torno de 15 a 20 cãezinhos. Já neste período a procura fica entre 40 e 50 animais”, informou. Com uma programação diária, incluindo brincadeiras e atividades mentais, tudo é pensado para manter os animais felizes e satisfeitos no período em que os donos estiverem viajando.
Danilo explica que o processo até a hospedagem do cachorro é bastante detalhado, já que precisa recolher informações sobre o animal. Inicialmente, além de preencher uma ficha com as características do pet, o tutor deve apresentar o cartão de vacina. “Em casos de cãozinho macho e adulto, nós aceitamos somente se ele for castrado. Já as fêmeas, aceitamos se elas não estiverem no período de cio ou se forem castradas.” Ele ainda ressalta que, no caso da vacina, é necessário que as obrigatórias estejam em dia (raiva e V8), além dos medicamentos antiparasitários e vermífugos.
Após essa etapa, ainda segundo o dono do Dog Vibes, é agendada uma avaliação comportamental do cachorro, sendo uma oportunidade de o tutor conhecer o espaço e a equipe. “Nessa etapa, esvaziamos o espaço e vamos adicionando os outros animais gradualmente. Assim, podemos avaliar se o cãozinho não é reativo, tem medo em excesso ou apego emocional ao tutor.”
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Ele ainda afirma que, caso o animal apresente alguma atitude que seja prejudicial e estressante durante a sua hospedagem, é feito o processo de adaptação junto ao tutor. “Por isso, é importante procurar o hotel com antecedência, já que o dono precisará trazer o pet, aos poucos, antes do dia da viagem. Observamos se o cão irá se acostumar com o ambiente”, completou.
O mesmo procedimento ocorre no hotel Meu Pet Livre, que funciona desde 2014 em Nova Lima, Região Metropolitana de BH. Conforme o proprietário, Felipe Moreira, as vagas de hospedagem no período de férias costumam ser abertas em novembro, já que alguns cães precisam passar pela adaptação. “O cachorro vai conviver com outros animais, pessoas e um local que ele não conhece. Por isso, é necessário fazer um estudo de como é o comportamento dele.”
O dono do hotel conta que o processo de adaptação, tendo em vista o diagnóstico da avaliação comportamental, pode durar até três meses, caso o animalzinho tenha dificuldades em socializar ou tenha ansiedade por separação. “Se notarmos que o cachorrinho não se ambientou bem ao espaço, se ele fica recuado e triste, por exemplo, achamos melhor ele não se hospedar.” Moreira ressalta que o mais importante é o bem-estar do animal e, por isso, cada um deve ser analisado singularmente.
“O nosso objetivo é que o cachorro brinque, se divirta e faça as atividades programadas. Então, tanto para hospedagem quanto para creche, outro serviço que oferecemos, visamos entender o animal, suas dificuldades e preferências”, disse. O espaço, que conta com uma área de 15 mil metros quadrados e 13 espaços para diferentes perfis de cachorros, exige que as vacinas obrigatórias e os medicamentos de proteção contra doenças estejam atualizados.
Devido à procura durante o fim de ano, o hotel Dog Vibes não tem mais vagas para os donos de pets que precisam hospedar o animal com urgência neste período. Já o Meu Pet Livre tem disponibilidade para área em que o perfil é de animais sociáveis. Mas, por causa do número limitado e o processo de adaptação, tutores que pretendem viajar durante o feriado de carnaval, em 2023, já devem começar a pesquisar o local ideal para deixar o cãozinho de estimação. As diárias variam de R$ 70 a R$ 180.
Melhor opção para felinos
Para os animais que não se adaptam bem ao modelo de hotelzinho, a melhor opção, caso não tenha uma pessoa de confiança para olhar o animal de estimação, é contratar uma pet sitter ou cuidador de animais. Márcia Lodde, de 58 anos, devido ao amor e respeito pelos bichos, desde a infância, gostava de dedicar o tempo livre para cuidar dos bichinhos. Mas, somente profissionalizou a tarefa em 2015, tornando o trabalho freelancer, principalmente em períodos de férias e feriados.
A mulher, que também faz parte do Movimento Mineiro pelos Direitos dos Animais (MMDA), conta que o processo de contratação do serviço é bem parecido com os hoteizinhos. “O primeiro passo é visitar a casa do cliente e conversar com ele. Além de ouvir o tutor, faço algumas recomendações e peço o contato do veterinário de confiança e uma clínica com atendimento 24 horas”. Ela ainda explica que, para se organizar melhor, faz uma planilha, sobretudo se o bichinho estiver tomando alguma medicação e tiver alguma alergia.
Outra coisa que gosta de verificar é as possíveis rotas de fugas na casa do tutor, principalmente quando se trata de gatos. “Se é apartamento, tem que observar se as janelas são protegidas. Caso a casa tenha criança, é importante olhar se os brinquedos não estão misturados com as coisinhas do animal. Outro fator é olhar se os medicamentos estão todos lá.” Ainda segundo a pet sitter, todo cuidado é necessário, não podendo haver distrações, tendo em vista que se trata de uma vida e toda atenção “ainda é pouco”.
Após o combinado, Márcia visita o local todos os dias e faz todas as atividades necessárias para cuidar do animal, variando entre cachorro, gato, calopsita e, até mesmo, jabuti. Como gosta de prestar todo o apoio necessário, durante a temporada de férias ela costuma tratar de, no máximo, dois animais. “Também gosto de fazer chamadas de vídeo com o tutor, para ele e o animal se verem. Faz muito bem para eles e diminui a saudade”, contou.
Nesta época do ano, de acordo com a ativista, o cuidado é redobrado, pois, devido aos fogos de artifício, muitos animais têm medo. “Sei que os foguetes foram proibidos em BH, mas ainda há brechas. Por isso, costumo levar o animal para o quarto, com a caminha e tudo que ele goste, além de uma camiseta do tutor. Assim, o pet poderá sentir o cheirinho do dono.” Ela também ressalta que gosta de colocar uma música ambiente bem calma no horário.
HOSPEDAGEM Foi pensando nos fogos de artifício que a advogada Jéssica Rodrigues, de 29, resolveu hospedar a cachorrinha Pandora, de 7, durante a noite de ano-novo, no hotel Dog Vibes. “Como vou sair, a minha intenção é não deixá-la sozinha, principalmente com os foguetes, já que ela tem muito medo.” A tutora explica que a cachorrinha já está acostumada com o local e as pessoas que trabalham lá, pois frequenta a creche semanalmente.
Segundo ela, quando foi escolher um local para deixar o animalzinho, avaliou se o ambiente era tranquilo, tinha monitoramento e como era a receptividade da equipe. “A Pandora foi adotada quando era novinha. Não sei se chegou a passar por alguns traumas, mas ela tem muito medo e é mais arredia. Então, desde o momento em que conversei com o Danilo, ele passou muita confiança e percebi que entendia muito do comportamento de cachorros”, explicou. A advogada também diz que, ao longo do dia, sempre recebe mensagens de como a Pandora está na creche.
O processo de adaptação foi longo, mas, conforme Jéssica, a cachorrinha já convive bem com os outros animais e com os monitores do espaço. “Eles a deixam muito à vontade. Se ela quiser brincar, ela brinca, mas se quiser ficar só descansando, olhando a turma, também pode. Vejo que há um cuidado, a paciência e todo carinho com ela.” A advogada ainda afirma que, na hora de deixar o pet na creche, ela entra toda animada no local, “vai balançando o rabinho e nem olha para atrás”.
* Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie