Os bombeiros encontraram na manhã ontem, em uma represa do Rio Piracicaba, o corpo do adolescente desaparecido depois do desabamento que destruiu residências e matou outras três pessoas na noite de Natal, em Antônio Dias, no Vale do Rio Doce. A situação de emergência decretada na cidade foi reconhecida pelo governador Romeu Zema. Luan Gonçalves Rodrigues, de 12 anos, foi localizado pelo Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) depois de cinco dias de buscas. A morte do garoto é a 14ª em decorrência das precipitações no estado no atual período chuvoso, iniciado em 21 de setembro. De lá para cá, um total de 8.978 pessoas ficaram desalojadas ou desabrigadas no estado em decorrência das chuvas.
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Fenômeno típico do verão vai trazer mais chuvas para Minas; entenda Com forte chuva, casa de dois andares desaba no Sul de MinasEncontrado o corpo de adolescente, quarta vítima de deslizamento no NatalBombeiros resgatam pessoas ilhadas em cidade do Triângulo MineiroPolicial civil baleado na cabeça morre após oito dias internado em BHCriança salva avó de queda na China; veja vídeoAlém de Luan, o CBMMG removeu os corpos das irmãs Marli Custódio dos Santos, de 51, e Aparecida de Fátima, de 54. O corpo de Bruna Santiago de Paula, de 18, foi encontrado na manhã seguinte. Outras 11 pessoas foram resgatadas com vida pelos militares do Corpo de Bombeiros. Destas, duas ainda permaneciam internadas ontem.
Antônio Dias está entre os 447 municípios mineiros sob alerta potencial de chuvas intensas lançado ontem pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Outras 241 cidades entraram na lista de risco de tempestade e em 15 havia potencial ainda de formação de granizo. No total, o número de cidades sob alerta de precipitações chegava a 703, abrangendo 82% do estado.
Emergência
Em decreto publicado ontem, o governador Romeu Zema reconheceu situação de emergência nas áreas de Antônio Dias afetadas por chuvas intensas, que havia sido decretada em âmbito municipal ainda no dia 25. Com o reconhecimento, também por meio de decreto, pelo do governo Zema, "os órgãos do Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil ficam autorizados a prestar apoio suplementar ao município, mediante prévia articulação com o órgão de coordenação do sistema, em nível estadual, e de acordo com o planejado", diz o documento.
O município teve a festa de Ano-Novo cancelada em razão da tragédia e recebe doações para auxiliar os atingidos. Na quarta-feira, técnicos do Serviço Geológico do Brasil (SGB) iniciaram uma ação emergencial para mapear as áreas de risco, em apoio à Coordenadoria estadual de Defesa Civil de Minas Gerais (Cedec-MG) e à Defesa Civil Municipal.
A cidade está entre os 195 municípios já avaliados pelo SGB para a identificação e classificação das áreas de risco geológico. Segundo o relatório do trabalho realizado em 2017, foram identificados 45 setores de alto e muito alto risco de deslizamento e erosão, onde viviam, até então, cerca de 500 pessoas. Chegaram a ser empenhados nas ações 45 profissionais estaduais, entre policiais e bombeiros militares, oito viaturas empregadas, duas guarnições da Defesa Civil Estadual uma aeronave da Polícia Militar e maquinário e pessoal da prefeitura de Antônio Dias.
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Até o momento, 112 municípios mineiros decretaram situação de emergência devido às precipitações no atual período chuvoso, que termina em março, de acordo com o Defesa Civil estadual. Além de Antônio Dias, as localidades de Mathias Lobato e Itacarambi foram as mais recentes a serem integradas a esse levantamento.
Fora de casa
Segundo boletim publicado no site do órgão às 15h de ontem, além das 14 mortes – quase a metade do total de 30 registradas durante toda a temporada 2021/2022 –, distribuídas por 10 municípios o total de desalojados desde 21 de setembro chega 7.470 em Minas Gerais, enquanto outras 1.508 ficaram desabrigadas. A Defesa Civil considera desalojadas as pessoas que desocuparam sua residência e se deslocaram para a casa de amigos ou parentes, e desabrigadas aquelas que tiveram que recorrer a abrigos públicos devido às chuvas. Em um mês, o número de desalojados subiu 131%, já que era de 3.220 pessoas em 29 de novembro.
No boletim de ontem, a Defesa Civil listou três ocorrências de destaque relacionadas às chuvas na quarta-feira. Em São Tiago, na Região Central de Minas, 10 residências foram interditadas devido a danos estruturais causados por um deslizamento de encosta. Com isso, 16 pessoas ficaram desalojadas. No município de Monte Santo de Minas, na Região Sul, vários pontos de deslizamento de terra foram detectados. Dezesseis edifícios foram interditados devido ao risco de desabamento e 40 pessoas ficaram desalojadas. Na cidade de Cambuí, também no Sul do estado, o solo ficou encharcado por conta das chuvas, ocasionando deslizamentos de terra. Nesse caso, apenas um imóvel teve de ser interditado pois sua estrutura ficou abalada e duas pessoas tiveram que deixar o local.
Efeitos das chuvas
- 7.470: desalojados desde 21 de setembro
- 1.588: desabrigados no período chuvoso
- 14: mortes registradas até ontem
- 112: cidades decretaram situação de emergência
Fonte: Defesa Civil de Minas Gerais (até as 15h de ontem)
Poços de Caldas sofre estragos em série
As chuvas e o terreno encharcado danificaram três residências e derrubaram árvores, interditando parcialmente vias e setores residenciais durante toda a quarta-feira, em Poços de Caldas, no Sul de Minas Gerais, segundo o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG).
Um barranco deslizou e engoliu parte do muro e telhado de uma residência no Bairro Santa Cruz. Não houve vítimas. Após avaliação, os bombeiros interditaram a parte da casa atingida e orientaram o morador a adotar medidas mitigatórias durante as chuvas, como o uso de lonas para evitar mais encharcamento do solo.
Uma residência que já apresentava histórico de problemas com infiltrações de água desmoronou no Bairro São João. O imóvel já havia sido vistoriado e interditado pela Defesa Civil Municipal e no momento do desabamento estava desocupado. Um poste foi atingido e precisou ser substituído pelo DME.
Uma casa foi parcialmente interditada depois que parte da encosta onde fica desmoronou, no Bairro Jardim Santa Rita. Com o escorregamento surgiu diversas rachaduras nos fundos da residência. "Os bombeiros constataram que parte do talude abaixo da residência cedeu e o escorregamento da terra culminou em um recalque diferencial. Devido ao risco de desabamento, a residência foi parcialmente interditada. A Defesa Civil foi acionada para o local", informou a corporação.
Deslizamentos de terra e quedas de árvores bloquearam parte da Estrada dos Pessegueiros. Nenhum veículo foi atingido. O corpo de bombeiros realizou o corte das árvores e a liberação da via. Ao todo, a corporação relatou na cidade, até a manhã desta quinta-feira (28/12), dois cortes de árvores, quatro desabamentos de estruturas, uma ocorrência de telha presa em árvore com risco de queda, além de duas vistorias em risco de desabamento e três vistorias em risco de queda de árvore. (MP)
Enquanto isso... Ano-novo em BH
A entrada de 2023 será de temperaturas amenas na capital mineira. A previsão é que os termômetros na cidade marquem entre 17°C e 26°C amanhã (31/12) e, no primeiro dia do ano, entre 16°C e 27°C, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). O céu deverá ficar nublado amanhã, com possibilidade chuvas em algumas áreas da cidade. As chances de chuvas se reduzem no dia 1°, quando a tendência é de precipitações isoladas, ainda de acordo com o Inmet. Na estreia do Réveillon na Praça da Liberdade, na região Centro Sul da capital, que terá evento especial para a virada do ano pela primeira vez, também deve chover. Por isso, o guarda-chuva é recomendável para quem pretende curtir a festa, para a qual são esperadas cerca de 100 mil pessoas. No restante do estado, as chuvas intensas estão previstas para hoje nas regiões Sul, Zona da Mata e Campo das Vertentes. Para o fim de semana, ainda há previsão de temporais e, segundo o Inmet, nas outras regiões do interior mineiro, deve chover menos.