Jornal Estado de Minas

FESTA E FÉ

Reinado 'A Fé que Canta e Dança' abre calendário festivo em Ouro Preto

Irmandades negras dão benção ao Reinado em Ouro Preto, na Região Central de Minas Gerais, e abrem o calendário festivo na cidade histórica.  A tradicional festa que congrega 35 Guardas de Congado e Moçambique teve início nesse domingo (1/1) e vai até 8 de janeiro.




 
Batizada com o nome “A fé que canta e dança”, a festa do Reinado busca revitalizar os valores culturais e religiosos dos povos pretos e homenagear o maior líder da antiga Vila Rica, o Chico Rei.


“Ele foi um dos fundadores das dinastias reinantes que agia em favor da coletividade. E para celebrar nossa ancestralidade, iniciamos a semana do nosso Reinado de Nossa Senhora do Rosário, Santa Efigênia e São Benedito, protetores de nós, povos negros, com pedidos de bênçãos para 2023”, conta o Capitão da Guarda de Moçambique de Nossa Senhora do Rosário de Santa Efigênia de Ouro Preto, Kedison Guimarães.

 
A alvorada festiva teve início às 5h desse domingo, com os devotos lotando as escadarias da Igreja Matriz de Santa Efigênia, na celebração do toque dos tambores, do corpo que reza dançando e cantando e do louvor aos santos negros.





As celebrações acontecerão durante a semana, e o encerramento será no domingo (8/1) com um cortejo que vai percorrer as ruas de Ouro Preto, passando pela Mina de Chico Rei, em direção à Capela do Padre Faria, onde será celebrada uma missa Conga e a benção dos congadeiros de Ouro Preto às guardas visitantes.

 

Irmandades

Para a Articuladora da Rede Rosário de Irmandades Negras Católicas, Solange Palazzi, as irmandades de Homens Pretos, Congados e Reinados do Rosário surgem praticamente juntas no Brasil. A criação das Irmandades Negras se dá no processo de colonização de Minas Gerais, que tinha, dentre seus pré-requisitos, a obrigação de oferecer serviço religioso e cristianizar os povos colonizados.

A festa das irmandades começou com o hasteamento das bandeiras Guarda de Congo de Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia e Guarda de Moçambique de Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia (foto: Divulgação/ Neno Vianna)
 
“Ainda que traficados da África e escravizados no Brasil, o povo negro encontrou, dentro das rígidas normas impostas pela Igreja Católica, nas irmandades que se denominavam de ‘Homens Pretos’, um local de vivência e resistência que nos deixam como legado o patrimônio material, por meio das igrejas e todos os bens a elas integrados, de ritos que misturam identidades vivenciadas nestas terras e também de muita herança trazida de África”, diz.