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Estado de Minas CORONAVÍRUS

Falta de vacina da covid para crianças em BH preocupa mães e especialistas

Vacinação contra covid-19 em crianças de 3 a 11 anos está suspensa na capital mineira. Falta de imunização pode agravar situação da doença


05/01/2023 13:58 - atualizado 05/01/2023 14:59

Juliana Lana e sua filha Esther não encontraram vacinas de Covid-19 em Belo Horizonte
Juliana Lana tenta há uma semana vacinar sua filha, mas ainda não obteve sucesso (foto: Jair Amaral /EM/D.A Press)
 
Período pós festas de final de ano, férias escolares, proximidade do retorno às aulas, nova variante da covid-19 com alto índice de transmissão surgindo na Europa e falta de vacina para as crianças. A população de Belo Horizonte enfrenta um conjunto de fatores que representa um sério risco para o público com faixa etária de 3 a 11 anos.

A vacinação contra a covid-19 está paralisada em BH e a falta de doses do imunizante tem, por consequência, um número assustador: até a última quarta-feira (4/1), apenas 15% das crianças de 3 a 4 anos e 66,1% de 5 a 11 anos completaram o esquema vacinal com as duas doses da vacina. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, a população de 3 a 11 anos na capital mineira é de 244.395 habitantes.

Mães se preocupam com crianças expostas


Com os postos desabastecidos, muitas crianças estão com o calendário vacinal atrasado. Na manhã de hoje (5/1), a reportagem do Estado de Minas flagrou pelo menos cinco mães voltando para casa com os filhos sem receber o imunizante.

Foi o caso de Theodoro, de 3 anos, vacinado com a primeira dose em outubro. Quando chegou a hora de receber a segunda, sua mãe, Elizabeth Batista Bastos Costa, de 38, descobriu que o insumo estava em falta. “É desagradável. Queríamos que ele já estivesse imunizado. Ele já está em convívio com outras pessoas, vai pra escola”, reclama.

Elizabeth demonstra preocupação com a falta de previsão para reposição do estoque de vacina, especialmente porque a sala de aula é um local de aglomeração. “É importante ter o quadro vacinal completo. É muito difícil controlar transmissão com criança pequena. A máscara para eles é mais difícil de usar, colocam a mão na boca o tempo todo. É o perfil que mais está exposto”.

'Não sei o que fazer'


Juliana Nogueira Lana, de 42 anos, que trabalha com relações públicas, passou por três postos de saúde só nesta semana em busca da segunda dose da Coronavac para a filha Sther, de 5. Nesta quinta-feira, mãe e filha estiveram no Centro de Saúde Carlos Prates na esperança de encontrar o imunizante, mas receberam a mesma resposta: a vacina acabou. “No posto próximo a minha casa me informaram que aqui teria a vacina. Cheguei e foi mais uma decepção. Estou há uma semana nessa corrida”.

Preocupada, ela se diz de mãos atadas com a situação, já que a família está de mudança para outro estado. “Vamos mudar sem ela ter tomado a segunda dose e não sei o que vou fazer. Amanhã já fica complicado resolver isso, porque já mudamos na semana que vem”, relata. Sem ânimo para peregrinar pelos postos de saúde, Juliana disse que vai tentar ligar nas unidades para saber a disponibilidade da vacina. “Espero conseguir”.
 
Centro de Saúde Santa Rita de Cassia, na rua Cristina, bairro São Pedro
Centro de Saúde Santa Rita de Cassia, na rua Cristina, bairro São Pedro (foto: Jair Amaral /EM/D.A Press)


'Apostando na baixa adesão se compra poucas doses'


O médico pediatra e infectologista Renato Kfouri, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), afirmou que diversos problemas têm se apresentado quando o assunto é a vacinação infantil. É o caso da percepção de que a covid-19 não se agrava em crianças.

Para ele, o erro está na comparação ser feita com os efeitos da doença nos adultos, e não com as demais doenças presentes no calendário de vacinação infantil. “A covid, sozinha, faz mais vítimas do que todas as doenças infantis do calendário”.

Outro problema apontado por Renato foi o desincentivo que partiu do último Governo Federal à vacinação das crianças. O atraso na compra de vacinas, a recusa em promover campanhas de informação e o negacionismo ao tratar da importância da imunização também foram citados. “Tanta fake news a respeito da vacinação tem contribuído nesse cenário. É apostando na baixa adesão da população que se compra poucas doses. No Brasil todo estão faltando doses para todas as faixas etárias”.

Kfouri afirmou ainda que não vê perspectiva de aumento exponencial de casos no curto prazo, mas ressaltou que é necessário completar o esquema vacinal de todos que faltam, para proteger essa parcela da população.

Ele explicou que não se criam ondas por causa de variantes ou de festividades, mas sim por uma combinação desses fatores, como "uma população que se aglomera estando com distanciamento muito grande da última dose de vacina ou subvacinada". "Ou seja, é preciso vacinar para que o cenário da doença não se agrave", diz o especialista.

Centro de Saúde Santa Rita de Cassia, na rua Cristina, bairro São Pedro, vazio
Área de vacinação do Centro de Saúde Santa Rita de Cassia, na rua Cristina, bairro São Pedro, vazia (foto: Jair Amaral /EM/D.A Press)


Crianças em risco


Leandro Curi, infectologista e ex-membro do Comitê de Enfrentamento à covid de Ibirité, na Grande BH, mostrou-se preocupado com a situação da imunização de crianças em Belo Horizonte. “Além de macular o programa nacional de imunização com a falta da vacina, isso também está colocando em risco as crianças”.

“Se a gente quer estimular a vacinação, a gente precisa ter disponível. Porque a pessoa vai no posto uma, duas, três vezes e não tem a vacina ,aquela mãe vai acabar desistindo de vacinar o filho”, completou Leandro.

Curi também criticou o governo Bolsonaro por desestimular a vacinação e colocar em xeque a ciência e a segurança e eficácia do imunizante. Ele afirmou que a tecnologia empregada nas vacinas contra a covid-19 são bem mais avançadas que a de outras ainda em uso, como a da febre amarela e a triviral, mas que todas seguem sendo seguras.

Sobre o perigo das variantes, o médico ressaltou que elas se desenvolvem o tempo todo e que, por isso, é importante manter o calendário vacinal atualizado. “A falta de proteção é preocupante tanto para o indivíduo, quanto para a sociedade, porque o indivíduo doente também vai congestionar o sistema de saúde, a transmissibilidade aumenta”, explicou.

“Vacinar os pequenos, além de um ato de cidadania, é um ato de amor e é um ato de responsabilidade para com a própria pessoa e com a população em geral”, finalizou o infectologista.

Falta de vacinas pelo Brasil


A última remessa da Coronavac e da Pfizer pediátrica enviada à Belo Horizonte foi entregue no dia 21 de novembro de 2022. Mas os 45 dias sem o recebimento de doses não são um problema unicamente da capital mineira.

Os estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Norte, Paraíba e Acre são alguns dos que convivem com a escassez do imunizante. Curitiba, capital do Paraná, e Salvador, na Bahia, também enfrentam problemas semelhantes. Goiânia e Teresina, capitais de Goiás e Piauí, foram outras que apresentaram falta de vacinas nos últimos meses.

Variante XBB.1.5


A variante da covid-19 citada no texto é a XBB.1.5, chamada também de kraken. Ela é descendente da XBB e já foi identificada em pelo menos 29 países. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), é a mais transmissível já registrada até agora e pode ser a responsável pelo aumento de casos de covid nos Estados Unidos.

O alto poder de transmissão da variante se deve às mutações. Além disso, a XBB.1.5 possui um escape imunológico, o que significa que ela consegue fugir do efeito conferido por vacinas e infecção prévia. No Brasil, ainda não há relatos de casos da kraken.

O que diz o Ministério da Saúde


O problema da falta de imunizantes para crianças é nacional e é um dos principais desafios do Ministério da Saúde no governo Lula, que tomou posse em 1º de janeiro. Procurada pela reportagem do Estado de Minas, a pasta afirmou que “assinou um acordo com a farmacêutica Pfizer para a compra de mais 50 milhões de doses da vacina covid-19”.

“Com a aquisição, que complementa o contrato vigente, o número total de doses chegará a 150 milhões”, acrescentou o Ministério da Saúde.

O Ministério afirmou ainda que, em 2022, 81 milhões de doses foram entregues ao Brasil pela Pfizer, e as 69 milhões de doses remanescentes chegarão até o segundo trimestre de 2023.

Segundo a Saúde, o acordo prevê a aplicação de vacinas bivalentes em pessoas acima de 12 anos e monovalentes em crianças de 6 meses a 11 anos. “O contrato vigente também inclui a entrega de potenciais vacinas adaptadas às novas variantes que venham a ser aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)”.

Previsão de entrega


Perguntado sobre datas de entrega das remessas das vacinas contra a covid-19, o Ministério da Saúde afirmou que:

  • Para a faixa etária de 6 meses a 4 anos de idade estão previstas duas entregas em 2023: a primeira, com 16 milhões de doses, no primeiro trimestre e a segunda, com 6,68 milhões de doses, no segundo trimestre;

  • Para o público de 5 a 11 anos de idade também estão previstas duas entregas: a primeira, com 11 milhões de doses, até o primeiro trimestre e a segunda, com 6,57 milhões, no segundo trimestre;

  • Para o público adulto, está prevista uma entrega de 9,7 milhões de doses da vacina bivalente BA.4/BA.5 até junho.
 
Vacinação contra o coronavirus, gripe e poliomelite, no Parque Municipal.
O Ministério da Saúde informou as datas de entrega das próximas remessas de vacinas contra a Covid-19 (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)


Covid-19 em BH


De 29 a 31 de de dezembro de 2022, a Prefeitura de Belo Horizonte registrou 1.155 novos casos de covid-19. Sete mortes foram registradas nesse período. Os dados são do boletim epidemiológico da cidade.

No boletim dessa quarta-feira (4) consta 70 casos notificados em 2023, mas nenhum deles foi confirmado, o que deixa o número de óbitos zerado.

Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), que distribui as doses aos municípios, afirmou que o envio das remessas depende do repasse feito pelo Ministério da Saúde. Até o momento, a pasta não informou sobre futuras previsões.

BH tem doses suficientes para prosseguir a imunização de crianças de 6 meses a 2 anos com comorbidades. Além disso, jovens maiores de 12 anos podem fechar o ciclo vacinal.


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